Descodificando a expressão "uma decisão informada"


A frase foi proferida por John Kerry, em conferência de imprensa, para exprimir a posição de Barack Obama face a uma possível intervenção militar na Síria.
Ao fazer referência a uma decisão informada, Obama procura legitimar uma intervenção militar na Síria, envolver outros países nessa intervenção militar (já se ouviram vozes concordantes na Grã-Bretanha, em Espanha, na Turquia), conseguir o acordo da NATO (já está agendada uma reunião de emergência da organização), das Nações Unidas.
Insistindo na tomada de uma decisão informada, Obama procura, em bom rigor, percorrer um caminho oposto ao que percorreu George W. Bush.
Não só para evitar o desastre que foi, a todos os níveis, a intervenção militar no Iraque, mas também porque conta com a forte oposição da China, da Rússia e do Irão a um cenário de intervenção militar na Síria.
A este propósito, dizer que o regime de Bashar al-Assad se encontra isolado no contexto internacional, quando vai contando com apoios de tanto peso, é um perfeito disparate.
Ainda que contando com a oposição frontal e determinada de chineses, russos e iranianos, os acontecimentos e declarações das últimas horas indiciam que essa decisão informada estará tomada.
Porque, em contraste com algum cuidado no que foi dito no final da semana passada, início desta, em que se falava na utilização de armas químicas na Síria mas, como bem fez notar o general Loureiro dos Santos em entrevista à Antena 1, não se dizia inequivocamente por parte de quem, agora o dedo é assertivamente apontado ao regime sírio, às tropas fiéis a Bashar al-Assad.
O elemento essencial para Obama tomar a tal decisão informada.
Porque representa o pisar da linha vermelha que o presidente americano há muito tinha traçado.
Já todos percebemos qual é o sentido dessa decisão informada - uma intervenção militar na Síria, o derrube do regime de Bashar al-Assad.
Só falta agora saber exactamente quando.
E com que consequências.

Comentários

  1. E qual, Pedro, na sua opinião, deveria ser a posição dos Estados Unidos?

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    1. Eu acho que Obama está a seguir o caminho que tinha que ser seguido.
      Aprendeu a lição com os erros de Bush.
      E deixa que seja a ONU a recolher as provas da existência de ataques com armas químicas perpetradas pelo regime de Assad (lembra-se de Bush ignorar os relatórios de Blix?).
      Depois disso, e com o apoio de outros países, da NATO, da ONU, deverá intervir militarmente na Síria.
      Ainda que contra a posição de chineses, russos e iranianos.
      Ter a China e a Rússia, já não digo a apoiarem, mas a não se oporem, seria o ideal.
      Mas acho muito complicado que se concretize esse cenário.

      E a Catarina - defende de uma intervenção armada na Síria?

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    2. Defendo. Suponho que não há outra alternativa se for confirmado, sem qualquer dúvida, como parece ser o caso, que foram utilizadas armas químicas contra a própria população e perante a carnificina inimaginável que por lá tem ocorrido.
      E com os americanos vão os canadianos.

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    3. Mas não me sinto bem com esta decisão, se se vier a concretizar. É injusto que americanos e aliados possam perder a vida nesta intervenção.

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    4. Quem é que se sente bem com um novo conflito armado no Mundo, Catarina?
      Parece-me demasiado tarde para algum dos lados recuar.
      Oxalá fosse possível.

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  2. Estimado Amigo Pedro Coimbra,
    Se se vier a concertizar esse ataque terá consequências impressiveis e poderá até dar a so a uma terceira guerra mundial.
    Os americanos, pensam ser senhores do mundo e onde se metem só dá guerra, não é para admirar se vir-mos as armas da bandeira dos ianques.
    Abraço amigo

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    1. Amigo Cambeta,
      A concretizar-se o ataque, e tudo aponta nesse sentido, não estaremos perante uma situação semelhante à do Iraque.
      Obama não vai cometer os erros que cometeu Bush.
      E só entrará na Síria com forte apoio a nível internacional.
      Aliás, o que mais estará a retardar a acção militar será a tentativa de levar a Rússia e a China a fechar os olhos.
      Não é apoiar, é não se oporem.
      Aquele abraço!!

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  3. Pedro, penso que, na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU "assobiou para o lado" sobre esta matéria, aliás, a exemplo do que sempre faz.

    Parece-me que a ser inevitável, e a mim parece-me que sim, a intervenção armada, a mesma deverá ser cirúrgica do género «quick and clean», porém, temo que seja ao contrário e que a «guerra» se prolongue.

    Hoje por hoje, sinto que a hipocrisia diplomática esquece o passado dos EUA em matéria de «armas químicas» e isso é de uma perversidade, Pedro, angustiante.

    Caro amigo, aquele abraço e desculpe-me este meu desabafo!

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    1. Desabafos destes são sempre bem vindos, Ricardo.
      A especialidade da ONU é assobiar para o lado e enviar uns recados, umas cartas, a dizer que estão muito aborrecidos.
      O objectivo dos americanos, já declarado, é mesmo uma intervenção rápida.
      Mas era assim no Afeganistão, era assim no Iraque, tinha sido assim no Vietname.
      E todos sabemos no que deu.
      É obsceno que quem criou, e vendeu, as armas químicas, agora se revolte por ver as mesmas serem usadas.
      Estou muito curioso para ver se há alguma evolução das posições russa e chinesa.
      Não creio que haja, mas estou curioso para ver.
      Aquele abraço!!

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  4. "Uma decisão informada"?! Quando ouvi Kerry afirmar - ainda com os inspectores da ONU no terreno - que sabiam já ser o regime a ter utilizado armas químicas contra a população , lembrei-me instântaneamente das armas de destruição maciça de Sadam, que nunca existiram!

    E não têm também informações das atrocidades efectuadas pelos rebeldes, que - honra lhes seja - eles próprios divulgam?! Se é por aquelas criaturas que querem substituir a ditadura actual, pobre população!

    Naquele ponto do planeta existem três motivos para a já decidida destruição da Síria: a sua importância estratégica em termos económicos; a rivalidade entre xiitas( Irão, Iraque, Síria) e sunitas(Qatar e Arábia Saudita)- sendo os últimos os preferidos dos EUA; e a pretensão de há muito tempo da extrema-direita sionista reconstruir o Grande Israel , implicando a desaparição pura e dura do Líbano, da Palestina, da Faixa de Gaza, da Cisjordânia, da Síria e, parcialmente, do Egipto e do Iraque.

    Ora aí estão as verdadeiras razões da intervenção "humanitária" do Ocidente, mormente dos EUA.

    Peço desculpa pelo tamanho, rrss

    Bom dia.

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    1. As primeiras afirmações do Kerry são precisamente as que o general Loureiro dos Santos comentou na Antena 1, São.
      Nesse momento ele ainda não aponta o dedo formalmente a ninguém.
      Depois é que é mais assertivo.

      Já se percebeu que, a amenos que Assad se retire (quem é que acredita nisso??) haverá intervenção militar na Síria.
      Estrategicamente demasiado importante para se manter neste limbo.

      Muito mais isso, sem dúvida, que as centenas de milhar de inocentes que estão a morrer vítimas do conflito

      Nunca peça desculpa aqui por estas bandas, São.
      Comentários como o seu são preciosos.

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  5. onde é que eu já vi este filme? os EUA com as suas decisões informadas, a Inglaterra e a França a querer is atrás...desta vez a Espanha está ocupada com a crise e o Passos não é muito bom a servir cafés ou teríamos outra cimeira das Lages...

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    1. Tétisq,
      Também tenho a sensação de já ter visto algo muito semelhante.
      O que terá sido???

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  6. Parece-me que Obama vai precisamente no caminho de Bush, Pedro. E não é por falta de avisos do Colin Powell:
    http://www.presstv.ir/detail/2013/08/25/320487/powell-us-should-back-away-from-syria/

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    1. Carlos,
      Se Obama se for meter na Síria sem um mandato expresso da ONU é estúpido e mentiroso.
      Ainda quero acreditar que não o faça.

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  7. É, parece que as "decisões informadas" destes americanos tendem sempre para a guerra. Nem se percebe porquê, parece que até têm interesse no comércio de armas... :P

    Beijocas!

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  8. Pois é, o Bashar Al Assad e o seu regime é que são criminosos... já os rebeldes, entre eles os gajos da Irmandade Muçulmana, estes são os verdadeiros pró-democracia e não fazem mal sequer um gato. Haja paciência para tanto politiquismo correcto nojento. Também festejaram a Primavera Árabe e a queda do "maldito" ditador Mubarack do Egipto e agora é que são elas. Não aprendem mesmo. É o que dá terem democratas a mandar nos EUA.

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    1. Repare que, nas últimas horas, já há mais cautelas nos discursos, FireHead.
      Cameron já fala expressamente em mandato da ONU, vozes dentro dos Estados Unidos interrogam-se se terá sido só o regime sírio a usar armas químicas, a China veio dizer que não vai fechar os olhos a uma intervenção militar na Síria.
      Repito o que já comentei mais que uma vez hoje - se Obama passar por cima da ONU é estúpido e mentiroso.
      E não é por ser democrata.
      Veja a linda m#$%^que fez o republicano Bush.

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