O abraço do urso

As eleições legislativas já foram, os resultados são conhecidos, e a esquerda da esquerda continua atarefada na missão impossível de negar o abraço do urso que foi a geringonça.

A matemática ainda é uma ciência exacta, não mente.

O PCP e o Bolo de Esquerda passaram dos 36 deputados eleitos que tinham para nove.

Um trambolhão deste tamanho não faz as lideranças dos dois partidos pensar?

Esgotada a narrativa do papão de direita, que afinal só foi mesmo papão porque literalmente papou votos ao PCP e ao Bloco de Esquerda, algo mais terá que explicar resultados eleitorais tão desastrosos.

E esse algo mais passará muito certamente pela diluição de PCP e Bloco de Esquerda no quadro da geringonça.

Uma diluição agravada pela guinada à esquerda do PS de Pedro Nuno Santos e pelo discurso sedutor do Livre de Rui Tavares.

Afinal serão necessários um PCP e um Bloco de Esquerda no quadro da nova esquerda?

O PCP, com o mesmo discurso gasto da luta de classes, do voto negativo, só poderá de alguma forma sobreviver se concentrado no protesto nas ruas e na actividade sindical nos sectores mais tradicionais da economia.

O Bloco de Esquerda, anti Europa, anti NATO, defensor dos temas fracturantes, agora acossado pelo Livre, ou encontra rapidamente um caminho alternativo ou caminha rapidamente para o definhamento político.

Cenário agravado porque, nos dois casos, as lideranças carismáticas são agora uma miragem.

Cenários mirabolantes pós eleitorais, comportamentos precipitados e irresponsáveis das duas forças políticas, só poderão querer afastar atenções do óbvio abraço do urso que os deixou com sérias dificuldades respiratórias.

E que os levará ao sufoco se não pararem para respirar.