Abusos sexuais na Igreja





Os relatos que nos chegam acerca dos abusos sexuais cometidos dentro da Igreja durante décadas são arrepiantes.
Mais ainda por todos ficarmos com a sensação que este horror infinito ainda não representa a totalidade da horripilante realidade que nos foi ocultada.
Abusar de quem já era à partida indefeso, e tantas vezes vivia nas margens da sociedade, provoca náuseas ao mais beato.
Na minha juventude frequentei um Colégio de Jesuítas situado nas instalações que actualmente abrigam um centro de alto rendimento desportivo perto de Coimbra.
A minha formação, pessoal e académica, passou muito por aqueles anos e pelas pessoas com quem ali convivi.
Nos dois primeiros anos em que ali estudei éramos cento e vinte e seis alunos, se não me falha a memória.
Cento e vinte em regime de internato e seis, incluindo eu, em regime de semi-internato.
Nunca se ouviu falar em quaisquer situações sequer semelhantes ao que agora é descrito, tantas vezes com pormenores absolutamente repugnantes.
Foi o período imediatamente posterior à Revolução.
Ventos de liberdade que em boa verdade nunca passaram aqueles espessos muros de pedra que limitavam a enorme quinta que os Condes de Condeixa tinham doado aos Jesuítas.
Ouvindo e lendo os relatos actuais, não evito uma sensação de desconforto, de mal-estar, desejando ardentemente que, quando a noite caía e nós, os externos, regressávamos a casa, os internos, os que ali passavam todo o ano à excepção dos períodos de férias escolares, não façam parte do grupo dos que foram torturados e violados por quem tinha a missão e o dever de os proteger.

Comentários

  1. Não podemos pensar que isso se passava em todos os internatos. O meu irmão frequentou um colégio diocesano em regime de internato e nunca se constou comportamentos dessa natureza. Quando veio ao conhecimento do público esses atos repugnantes, lembro-me de ter abordado o assunto perguntando-lhe se alguma vez tinha notado algo irregular no colégio.
    É certo que muitos casos de há muitos anos têm sido divulgados. E de vez em quando ouve-se, aqui também, de abusos perpetrados por professores e até professoras. Treinadores. Médicos. Membros da família e da comunidade...

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    1. Bandalhos que não têm perdão, Catarina.
      Esta gente não tem perdão.
      Nunca se constou ali nada.
      E desejo ardentemente que não tenha mesmo acontecido.

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  2. Aluno do Colégio de Cernache? Coincidência engraçada, também lá estive, como, interno, de 1955 a 1959.

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    1. Colégio Apostólico da Imaculada Conceição.
      Fui lá aluno até ao nono ano que era o que havia na época.
      E o meu pai trabalhou lá muitos anos como contabilista.

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  3. Bom dia
    Abusos sexuais a menores e não só , não têm perdão seja na igreja ou em qualquer outra situação .
    É um crime e tem de ser punido por isso , seja padre , professor , treinador ou o que quer que seja embora no caso da igreja a situação se transforme em maior dramatismo e por isso seja mais falado que todas as outras .

    JR

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    1. Abusar de um ser indefeso é desumano e imperdoável.
      Causa profundo nojo e enorme raiva.

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  4. Uma tragédia para as crianças abusadas que não pode ser esquecido nem perdoado.
    Abraço e saúde

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    1. Marcas para toda a vida, Elvira.
      Pedido de desculpas?
      Indemnização?
      Nada apaga o trauma.
      Abraço e saúde

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  5. Para mim é dos crimes mais hediondos e desde muito pequenina lembro-me dos conselhos dos meus pais e nunca por nunca as esqueci. Enquanto trabalhei nos Restauradores e depois fomos para a Braamcamp e por vezes até muito tarde ia apanhar o comboio ao Rossio com dois colegas. Paravamos a ver o movimento de super carrões a pararem no Parque Eduardo VII e miúdos adolescentes a entrarem nos mesmos. Policiamento? Zero
    Sempre houve amigo e continuará e nem quero pensar o que fazem ou fizeram nas antigas colónias portuguesas.
    Um horror e graças ao Pápa Francisco que finalmente destapou a panela de pressão dos que deveriam proteger o futuro da humanidade: as crianças.
    Não quero falar mais porque isto para além do nojo que me mete causa-me uma dor inexplicável.
    Beijos e um bom dia

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    1. O Papa Francisco até nisto é excepcional, Fatyly.
      Estes bandidos são a incarnação do MAL.
      Malditos sejam.
      Beijo

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    2. Teresa Palmira Hoffbauer

      O Papa Francisco encobriu o amigo padre pedófilo durante anos, quando bispo na Argentina. E o bispo de Colónia continua bispo, contra o pedido da base da igreja católica alemã, mas o Francisco fez ouvidos de mercador. Não há inocentes nesta história nojenta 🤮

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    3. Os inocentes são os que foram violados, Teresa

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  6. Estes actos repugnam-me. Estive interna num colégio e nunca ouvi falar de abusos, mas violência psicológica, havia muita.
    Beijos

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    1. Abusos sexuais de seres indefesos é de uma desumanidade quase inacreditável, Manu.
      HORROR PURO.
      Beijos

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  7. Estive interna num colégio religioso durante cinco anos, tinhamos um confessor que era um velhinho bem simpático.
    Nunca dei por nada.

    Abraço

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    1. Também nunca dei por nada naquele colégio.
      Desejo ardentemente que não tenha sido silêncio cúmplice.
      Abraço

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  8. É a segunda vez que escrevo o comentário: espero que agora fique.

    Foi excelente a estratégia da Comissão em dar os testemunhos das vítimas na primeira pessoa, porque o impacto é muito maior e mais chocante do que meros números e estatísticas.

    Sabe-se da existência deste tipo de crimes noutras áreas sociais. Só que relativamente à Igreja (seja qual for a religião) tudo é mais grave , porque os criminosos afirmam representar Deus , colocam-se acima dos restantes seres humanos e dão regras de comportamento para toda a sociedade - chegando ao cúmulo de tentarem intervir até na vida de quem não os segue ( veja-se o que acontece com a eutanásia em Portugal, por exemplo).

    A igreja católica em todo o mundo portou-se - alguém já o disse - como uma associação de malfeitores : os predadores foram encobertos e protegidos pela hierarquia! E estamos só falando de uma ínfima parte de crimes sexuais, mas a nível do que foi feito com os povos conquistados há um universo que nem sequer foi tocado.

    É o caso perfeito de públicas virtudes e vícios privados, onde o Poder e os seus privilégios se sobrepõe a tudo.

    Além disso, os crimes de uns não justificam os crimes de outros.

    Infelizmente, não confio na punição nem dos criminosos nem de quem os protege e defende ainda hoje ( Bispo de Beja, Manuel Linda e Jorge Ortiga, por exemplo)

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    1. A Igreja tinha um especial dever de guarda e protecção de quem acolhia, São.
      Afinal fez o contrário.
      Violentou física e psicologicamente os seres indefesos que procuraram a sua protecção.
      Sem perdão.
      Acredito que nem divino.

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  9. Que horror isso, eu sempre disse que a igreja deveria abolir a castidade eclesiástica, deixar esses padres (?) casarem, terem dezenas de filhos! Vida normal!! Não é normal homens viverem assim... Está aí o resultado. Não digo que não aconteceria, mas muito, muito menos, cruzes!
    Jamais o perdão. Não tem como. É revoltante.
    Beijo, Pedro.

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    1. Padres e freiras, Tais Luso.
      As necessidades naturais não podem ser abolidas por lei.
      Estou farto de o repetir - uma lei que proíba o ser humano de urinar e defecar não tem efeito nenhum.
      Beijo

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  10. Existe alguém ou alguma coisa que 'limpe' as crianças abusadas de tão hediondo crime?
    Não, com toda a certeza!!!
    Abraço

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    1. Aí não há volta atrás, António.
      Essas marcas no corpo e na alma ficam para a vida.
      Abraço

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  11. Boa tarde e um excelente quarta-feira de cinzas, com muita paz e saúde.
    Pedro, são crimes sem perdão e cadeia urgente, para quem cometeu e quem encobriu.
    Luiz Gomes.

    Viagenspelobrasilerio.blogspot.com

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  12. Estive a ouvir em directo no outro dia, o relatório, pela Antena 1...
    "Já pecaste?"... "Fizeste o Senhor feliz, mas não contes a ninguém..."... Enfim!..
    Consta que 100 já estarão assinalados... para as autoridades irem atrás depois de confirmarem as histórias, e os seus percursos na hierarquia eclesiástica, e o seu percurso geográfico nas histórias de "evangelismo"...
    Graças a Deus, que o meu pai, nunca me deu ordem para assistir a aulas de Religião e Moral... isso deve ser ensinado em casa e não por um estranho qualquer, dizia ele...
    Não tenho dúvidas que muito "evangelismo"... continuará impune!
    Sou agnóstica, com muito orgulho! Nada como falar directamente com os deuses... sem intermediários!
    Beijinhos
    Ana

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  13. Atos monstruosos que não têm perdão. Crimes horríveis contra inocentes que deviam ser protegidos, infelizmente, por maiores penalizações que estas criaturas sofram e esperamos que sejam bem pesadas, nada vai apagar o sofrimento e trauma que ficou para toda a vida, nas crianças e jovens que sofreram esses hediondos abusos.
    Beijinhos

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