Sangue de tigre

“Ano novo, vida nova” diz a sabedoria popular.

Não é assim a Oriente.

O Tigre chegou basicamente igual ao Boi – parado.

Same same but different, como nos livros e nos filmes.

A política de zero casos de Covid mantém-se tão teimosamente quanto o número daqueles que resistem à vacinação.

Porque não se pode sair de Macau, não há Covid em Macau e não entram cá pessoas infectadas, dizem os anti vaxxers justificando-se.

Mas porque é que não se pode sair de Macau e porque é que não entram cá pessoas infectadas?

Porque as taxas de vacinação são baixas, ouve-se.

Mas se são baixas têm que ser aumentadas, não é?

Pois é. Mas não vale a pena vacinar-se se não podemos sair, não entram cá infectados e não há Covid em Macau.

Pescadinha de rabo na boca, nó górdio, espera de Godot, chamem-lhe o que quiserem.

Um ano depois do início oficial do programa de vacinação e após dois anos carregados de formalismos, de códigos e de cores que vão mudando.

Porque só isso muda.

Os códigos e as cores.

Macau, outrora vibrante, com demasiadas pessoas e demasiado tráfego, é há dois anos uma cidade parada, amorfa.

A economia definha, as pequenas e médias empresas definham, a saúde mental definha.

Só as quarentenas não definham.

O sangue de tigre costuma ser associado a energia, vitalidade.

E Macau precisa urgentemente de uma transfusão de sangue de tigre para sair deste marasmo, deste dia a dia repetitivo e pastoso.