Um 4 de Junho pandémico

Pela primeira vez em trinta e um anos o 4 de Junho não terá vigílias no Largo de Senado em Macau e em Victoria Park em Hong Kong.

Prevenção pandémica, afirmam as autoridades do dois lados do Delta do Rio das Pérolas.

Opressão, clamam os organizadores das vigílias.

Antes de agitar fantasmas é de todo aconselhável procurar os factos, o que não deixa lugar a opiniões nem pode ser desmentido.

O 4 de Junho de 1989 não pode ser apagado do calendário e os acontecimentos da Praça Tienanmen não podem ser varridos para debaixo do tapete da História.

Durante trinta e um anos Macau e Hong Kong foram os dois locais em toda na China em que se podia abertamente falar e recordar o que aconteceu no dia 4 de Junho em Tienanmen.

Este ano isso não vai acontecer.

Porque estamos a viver um cenário pandémico e o bem último a proteger é a saúde e o bem estar das populações, justificam as autoridades da duas Regiões Administrativas Especiais.

Limitação da liberdade das pessoas?

Obviamente que sim.

A questão é saber se justificada ou não.

E aí entra-se no domínio da opinião.

A pandemia, que é real, é uma justificação válida?

As autoridades administrativas pensam que sim, os organizadores da vigília julgam que não, os tribunais deram razão à Administração, o sistema funcionou.

Partir daqui, dos factos, para as opiniões, para a futurologia, é entrar no domínio do que bons amigos designavam de forma muito simples – vamos a um “suponhâmos”.

Quando a realidade for bem diferente da deste ano poderemos ver se o sistema funciona, se o princípio “um país, dois sistemas” está vivo.

Este ano, goste-se ou não do resultado, temos que concordar que funcionou perfeitamente.