A resistência a Francisco (Pe. Anselmo Borges)
1. Algo mudou quanto à possibilidade da comunhão para os divorciados recasados? De regresso de Lesbos, Francisco foi claro: "Eu posso dizer: sim. Ponto." Quem tivesse dúvidas quanto a mudanças nesta e noutras questões teria, na oposição de muitos da alta hierarquia, a prova de que elas são reais.
De modo frontal, o cardeal G. L. Müller, prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé, veio corrigir Francisco, dizendo que os divorciados recasados não podem, em caso algum, aproximar-se da comunhão e o máximo a que podem aspirar, depois da confissão, é viverem "em castidade total, como irmãos". Uma vez que o famoso teólogo Hans Küng tinha revelado, num artigo, que o Papa se lhe dirigira pessoalmente como "lieber Mitbruder" (querido irmão), manifestando abertura a um debate livre na Igreja sobre o dogma da infalibilidade, Müller assegurou que é um herege, que "não crê na divindade de Cristo nem na Trindade". Numa entrevista ao Achener Zeitung, o cardeal W. Kasper, que está com Francisco e que foi quem o convenceu a receber o Prémio Carlos Magno, atribuído por "ser a voz da consciência de Europa", declarou que "a enorme maioria das pessoas até para lá da Igreja Católica está fascinada com este Papa. Na Cúria, também há oposição resistente". Porquê? "Ele dá uma reviravolta a muitas coisas. Está sobretudo empenhado na mentalidade. Só se esta mudar é que virão as reformas nas estruturas. Isso precisa de tempo. Francisco trabalha nisso. A Cúria é uma instituição antiga, onde se cultiva carreiras e hábitos."
O teólogo A. Torres Queiruga, depois de descrever o "carácter democrático e o coração evangélico" e "a honestidade do quase impossível equilíbrio" da Exortação A Alegria do Amor, reconhece que "nunca um Papa teve tão aberta oposição na história dos pontificados". Como escreveu outro teólogo, Xabier Pikaza, "estamos a assistir a um assalto orquestrado por cardeais da Cúria e outras vozes que começaram a dizer coisas como estas: que este Papa não sabe teologia (sabe o Evangelho!), que está a romper com a Lei Natural (a que eles crêem da sua natureza!), que está a destruir a Igreja, de modo que há que esperar que morra... Este é um assalto que provém da lei do medo, própria daqueles que não acreditam de verdade no evangelho da conversão, da forma nova de pensar e agir de Jesus. Um assalto dos que têm medo da sua própria liberdade, da sua responsabilidade pessoal. Para libertar-se do seu medo (sem conseguir), impõem duras obrigações legais aos outros, cargas que eles próprios são incapazes de carregar. Temendo eles, os "controladores da Igreja", perder a sua função, ficando na rua, procuram a lei do "curral" fechado, controlado, pois temem que os cristãos sejam livres e "explorem de verdade a vida segundo o Evangelho".
2.Francisco acaba de declarar que instituirá uma comissão para estudar a possibilidade de ordenar mulheres como diaconisas. O cardeal W. Kasper já veio prevenir que muitos se oporão: "Creio que agora se abrirá uma discussão feroz. Sobre este tema a Igreja está dividida entre os que pensam que o diaconado permanente feminino é um regresso à Igreja primitiva e os que crêem que é um primeiro passo para as mulheres sacerdotes e que, por isso, não pode ser possível."
Quem se opõe deveria, porém, conhecer, por exemplo, a tese de Karl Rahner, talvez o maior teólogo católico do século XX: "Sou católico romano e, se a Igreja me disser que não ordena mulheres, aceito-o por fidelidade. Mas, se me der cinco razões e todas elas são falsas, face à exegese e à teologia, tenho de protestar. Penso que o Magistério que apela para essas razões falsas não acredita no que diz ou não sabe ou mente ou estas coisas todas juntas. Além disso, a Igreja é infalível em questões de fé e moral, e o tema da ordenação das mulheres não é de fé nem de costumes, mas de administração."
Nesta questão, penso que há um argumento decisivo: Deus não pode ser contra os direitos humanos, opondo-se à igualdade das mulheres.
3. Disse, com razão, o teólogo checo Tomás Halík, um dos mais influentes na actualidade, que fala da fé como "a coragem para entrar na nuvem do Mistério": "Estou profundamente convencido de que o Papa Francisco inicia um novo capítulo na história do cristianismo. Teve a coragem de dizer que as tentativas para reduzir o cristianismo à moralidade sexual, à criminalização do aborto e à demonização dos gays e dos preservativos foram uma obsessão neurótica. Todos sabemos que a defesa dos que estão por nascer e da família tradicional é importante, mas esta agenda não deve ofuscar valores ainda mais importantes como o amor misericordioso, o perdão, a justiça social, a solidariedade com os pobres, a responsabilidade ambiental, a paz e o diálogo amigável entre pessoas de culturas, nações, raças e religiões diferentes. O Papa é uma personalidade profundamente espiritual com uma mensagem profética que ultrapassa as fronteiras entre Igrejas e religiões, cristãos e humanistas."
in DN 04.06.2017
"Há que esperar que morra" e com esses elementos da Cúria a não darem a preciosa ajuda à Natureza que deram no caso de João Paulo I(Albino LUciani) porque estão de algum modo tolhidos.
ResponderEliminarFrancisco é demasiado incómodo.
EliminarMas seria demasiado óbvio uma morte súbita, São.
Que Deus o guarde por muitos e bons anos.
ematejoca deixou um novo comentário na sua mensagem "A resistência a Francisco (Pe. Anselmo Borges)":
ResponderEliminarA Igreja Católica continua com o Papa Francisco retrógrada.
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Publicada por ematejoca em Devaneios a Oriente a 6 de junho de 2017 Ã s 19:13
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Hoje foi a vez do comentário da Teresa ficar assim.
EliminarJá aconteceu outras vezes e com outras pessoas.
Hoje foi com a Teresa.
Peço desculpa, como pedi ao Francisco, sem ter nos dois casos culpa nenhuma.
Já no que se refere ao Papa Francisco estamos a ver com ele a aversão que a Igreja tem à mudança.
É impressionante.
Fui castigada pelo Senhor, por atacar a Igreja Católica e não gostar do Papa Francisco.
EliminarJá muita gente foi "castigada", Teresa :)))
EliminarA começar por mim próprio que tenho que aturar as tolices da CTM todos os dias.
Gosto imenso do Papa Francisco. E também de ler este senhor.
ResponderEliminarO Papa tenta mudar as mentalidades. Ele pode não ser Santo mas tem uma grande sabedoria, e os sábios conhecem a formula da mudança.
Mudar mentalidades, é a única maneira de mudar o mundo. E como diz um amigo meu, "mudar o mundo não custa, leva é tempo" Rezemos pois para que o Pai Celestial lhe conceda tempo suficiente.
Um abraço
As mudanças na Igreja demoram uma eternidade, Elvira Carvalho.
EliminarMas Francisco já teve a coragem de enfrentar muitos problemas, de fazer sair muitos esqueletos do armário.
Demos tempo ao tempo para ver quem lhe sucede e que rumo tomará.
Um abraço
Essa questão vai render muita polêmica.
ResponderEliminarAbraço Pedro!
Já está alegriadeviver.
EliminarFrancisco tem muitos que o admiram e apoiam, muitos que simplesmente o detestam.
Um abraço
É uma tarefa muito dura e uma força como nunca se viu.
ResponderEliminarA maior parte da Igreja e do fiéis está com Francisco.
Aconteça o que acontecer, a Cúria não mais vai ter o poder dogmático que tinha.
~~~ Beijinhos ~~~
Não consigo ser tão assertivo, Majo.
EliminarVamos ver quem sucede a Francisco e qual a visão ecuménica que traz.
Beijinhos