As obras de misericórdia (2) Padre Anselmo Borges
No "Ano da Misericórdia", aí estão, com Xabier Pikaza, as obras de misericórdia. São catorze: sete corporais e sete espirituais. Vinculam a justiça e o coração: a misericórdia não pode esquecer a justiça, mas a justiça tem de ser mobilizada pela misericórdia. Para sermos humanos.
Obras de misericórdia corporais
1 "Dar de comer a quem tem fome". Há certamente muitas outras necessidades: afecto, cultura, carinho, palavra... Mas a maior e mais urgente é a comida. Nem só de pão vive o homem, mas sem pão não vive. É uma vergonha haver comida suficiente para todos e morrerem de fome todos os dias 40 mil pessoas (16 mil crianças). Há várias, mas duas são "as causas principais" da fome: o egoísmo de indivíduos e de grupos e a injustiça do sistema dominante.
2 "Dar de beber a quem tem sede". Sem água não há vida. Jesus disse: "Quem vos der de beber um copo de água não ficará sem recompensa." Multiplicar-se-ão os conflitos por causa da falta de água. O Papa Francisco chamou a atenção para isso na encíclica "Laudato sí", sobre a ecologia.
3 "Vestir os nus". "Os nus carecem de protecção pessoal, estão indefesos, desarmados, e à mercê da violência alheia." A roupa cobre, protege e dignifica. A nudez acaba por significar abandono e exclusão, e, sobretudo no caso das mulheres e das crianças, exploração e tráfico sexual.
4 "Dar pousada aos peregrinos". No Evangelho segundo São Mateus, são referidos concretamente os estrangeiros, aplicando-se o termo grego "xenoi" concretamente a homens e mulheres que formam parte de um grupo social e cultural diferente: "Fui estrangeiro e acolhestes-me ou não me acolhestes", dirá Jesus no juízo definitivo. "A pátria do cristão é o diálogo e o acolhimento."
5 "Assistir aos enfermos". Visitá-los, cuidar deles. Se, no Evangelho, há preocupação constante da parte de Jesus é pela saúde das pessoas, de quem cuida e que cura.
6 "Visitar os presos". Não se trata simplesmente de visitar. Trata-se de "oferecer-lhes assistência e cura, porque estão em necessidade (sejam culpados ou não) e porque podem curar-se".
7 "Enterrar os mortos". Miséria suprema: morrer e não haver ninguém a reclamar os mortos. Mas se isso acontece na morte, já na vida viveram abandonados. Esta obra de misericórdia realiza-se verdadeiramente não só na sepultura do cadáver, mas na exigência de acompanhar e ajudar na velhice, de modo eficaz, com dignidade.
Obras de misericórdia espirituais.
1 "Dar bom conselho". Uma tarefa de todos e para todos, mas de modo especial para os educadores, professores, conselheiros da consciência.
2 "Ensinar os ignorantes". Jesus foi um "mestre de sabedoria, que ensinou o povo simples, mal guiado por escribas ao serviço do poder religioso". Abriu os olhos das pessoas, para que pudessem descobrir o mistério de Deus e o seu amor para com todos, numa Escola de verdadeira Humanidade. O seu ensinamento não se dirigia à conquista do poder, mas ao serviço da sabedoria autêntica da vida plena.
3 "Corrigir os que erram". Os profetas bíblicos sabiam disto e, por isso, denunciaram e exigiram capacidade de mudança, não apenas na linha da interioridade, mas também no nível da transformação social. Sem conversão pessoal, não há justiça que baste.
4 "Consolar os tristes". Quem não precisa de consolação, em tempos de tanto desconsolo? Precisamos de quem seja fonte de paz para os outros, "para superar assim a depressão e a tristeza que vai crescendo como pandemia imparável numa Terra onde, ao lado de uma grande prosperidade, se estende a intransigência de alguns e a pobreza e desamparo de centenas de milhões de pessoas". Desamparo material e desamparo espiritual.
5 "Perdoar as injúrias". "Não se trata de perdoar, de um modo resignado, aguentando as injúrias, mas de converter o perdão em fonte de transformação pessoal e social. Quem perdoa não é cobarde, um ser passivo, incapaz de enfrentar o mal; pelo contrário, é alguém que vence o mal com o bem", confiando, portanto, na conversão de quem ofende.
6 "Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo". Aqui, está-se numa perspectiva diferente da da anterior: já não se trata de perdoar aos inimigos, mas de suportar os defeitos daqueles com quem partilhamos o caminho: familiares, amigos, colegas. Há limites para o intolerável, mas é fundamental perceber que é preciso ter paciência com as diferenças e defeitos dos outros: "os puristas radicais destroem não só famílias, mas comunidades religiosas, igrejas" e grupos.
7 "Rogar a Deus pelos vivos e defuntos". Não se trata de espiritualismo perante o fracasso da vida, mas de comunhão profunda com todos no mistério da vida plena em Deus.
São também obras de misericórdia: proteger as mulheres, acolher/educar as crianças, perdoar as dívidas, libertar os escravos, partilhar os bens.
in DN 30.07.2016
Eu decorei-as, nas aulas de catequese, quando era menina
ResponderEliminare penso que nunca mais ouvi falar delas...
Uma boa recordação!
Beijinho.
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Também já não as recordava, Majo.
EliminarTemos Anselmo Borges para nos relembrar.
Beijinhos
Eu ainda as sei de cor, mas sabes Pedro o que mais me incomoda, para não dizer irrita? É que falar, escrever, opinar pode ser competência de todos ou quase todos...mas EXERCER NO TERRENO a coisa pia mais fininho. E nisso a Igreja Católica, ou melhor dizendo algumas (muitas) freguesias com "grupos de paroquianos instalados e com várias funções" são de tal forma impermeáveis que até o próprio pároco por vezes nem sabe de missa a metade!
ResponderEliminarPor exemplo e foi preciso EU por a boca no trombone:
- Havia e há a distribuição mensal do cabaz alimentar para os mais desfavorecidos. Depois de uma grande e exaustiva comprovação da "dura realidade em que vivem e com o estômago a roncar há muito" surge a luz verde de irem buscar o dito. Já o referi várias vezes que ajudei dois velhos casais nessa luta porque não tinham ninguém de família. Com a vergonha instalada eu levava-os à dita Diaconia da paróquia- no último domingo de cada mês e ficava de longe a apreciar o andamento da coisa. Fiz várias vezes visitas no sábado à tarde a ver a preparação dos sacos. Pois amigo a minha indignação foi tal que um dia passei-me dos carretos e acho que num ano foi o único cabaz de jeito que lhes deram.
Frescos? Zero!!!
Carne/aves/peixe? Zero
Produtos de higiene: uma escova de dentes, noutro mês um sabonete e por aí fora.
Chegava cedo e via caixas e caixas de frutas e legumes a serem levados em duas carrinhas descaracterizadas. Para onde iam? Pois...
Ficavam outras com tudo já muito adulterado...e podes imaginar o cenário.
Ou seja as "corporais" foram banidas por este grupo impenetrável, certo? Não tivesse eu junto 5 vizinhas e todas as semanas competia a uma dar os frescos e carne etc. tinham morrido de fome e como é tão triste estender a mão! certo?
Um dos casais faleceu (primeiro ele com 79 e quatro meses depois ela com 78). O outro conseguiram ir para o país dela (depois de um longo e penoso calvário).
Foi aí que actuei em todas as frentes e pároco nem queria acreditar, mas acreditou e levou tudo até às últimas consequências. Uma razia e pouco me interessa se ficaram a saber se fui eu que alertei, porque não faço nada "anonimamente".Ponto!
Portanto meu amigo todos da Igreja Católica devem deixar as poltronas vermelhas e andar mais no terreno. Este é um apelo constante do Padre Francisco, certo?
Outro exemplo que já tem uns bons anos: apresentou-se o novo pároco e fez um apelo para a sua "casa paroquial": precisa de electrodomésticos...mas nada usados. Whatiiii?????
Hoje farto-me de rir, mas na altura se tivesse sido filmada daria uma bela peça: Levanto-me e em alta voz (em fúria não preciso de microfone nenhum) e disse o que tinha a dizer mas educadamente. Houve imensa gente que bateram palmas talvez por não terem tido coragem de ter dito o que disse e saí porta fora!
Os meus pais continuaram a ir à missa e eu nunca mais fui, mas o certo é que o tal "prior" não ficou e nem sei por onde anda ou se já morreu.
Desculpa a extensão...mas sou pouco praticante nos "salameques" disto e daquilo, mas continuo a fazer TUDO até onde os meus braços chegam. Digo-te que também já recebi muito...gestos que jamais esqueço depois de ter vivido uma guerra civil dantesca onde o roncar do estômago sobrepõe-se ao medo e instala-se a indiferença e uma luta pela sobrevivência.
Respeito todas as religiões mas sou contra todo o tipo de extremismo.
Um abraço amigo e mais uma vez desculpa
Desculpar o quê, Fatyly?
EliminarUm comentário extraordinário de uma pessoa excepcional?
Li e reli com emoção e admiração.
Esta Igreja é a Igreja que Francisco quer modificar.
A Igreja que prega mas não faz, que fala mas não dá o exemplo.
Vai demorar muito tempo, vão ser precisas muitas pessoas com a resiliência de Francisco e de cidadãos anónimos como a Fatyly para operar essa mudança numa Igreja cheia de vícios.
Os crentes, e eu continuo a sê-lo, acreditam que essa mudança acontecerá.
Porque há mais gente como a Fatyly a dar o exemplo.
Bem haja por ser quem é.
Um abraço amigo
É preciso isso Pedro mais actuação e menos falatório/artigos de jornal etc e tal.
ResponderEliminarOutro exemplo que ocorreu na semana passada:
Como sabes a minha mãe nos seus quase 87 anos sofreu um ataque cardíaco + enfarte ao que chamam síncope cardíaca. Esteve internada 15 dias e pôs o pacemaker. Na luta que travei para que tivesse calma no que tocava de voltar ou não à sua casa, a decisão dela foi de ir para um lar. Voltas e mais voltas, juntar os filhos, acordo fechado e...está num lar e muito bem tratada. Claro que lhe custou e custa muito e saudosista como é, estás a ver o filme.
Ainda no hospital precisava de falar com um padre. Andei à procura do homem das calças pardas e nada. Pedidos feitos - reposta zero. O filme seguiu-se no lar que é de outra freguesia. Ela própria fez o pedido a duas que visitam o lar e que pertencem à igreja de lá, pois, pois...estava registado o pedido mas já tinham passado dois meses e a minha mãe sempre a falar disso.
Para não ver as caras e ficar-lhes com um "pó", telefonei na terça da semana passada, depois de visitar a minha velhota. Fui bem atendida e expus a situação "à minha maneira" sem dó nem piedade! Para telefonar na quinta por volta das duas e meia da tarde. Não disse nada à minha mãe. Telefonei e passaram-me ao Sr.Padre. Falei-lhe do assunto e que ela era imensamente crente, etc, etc. o que não é mentira e "caramba Sr.Padre arranje um qualquer para ver se ela se acalma, porque se pede é porque precisa ou será que só se deslocam para casamentos, baptizados e extrema unção? Por dinheiro/bula/esmola??? Onde fica a dignidade da minha mãe ou de outro(a) católico cuja mobilidade é muito pouca e que não conseguem deslocarem-se à igreja ou ter quem os leve? Esperam que mais fusíveis se apagam? Estarei errada? Claro que não está. Prontificou-se a ir na sexta por volta das onze e trinta da manhã e para eu avisar o lar e sobretudo ela.
Avisei e disse para avisarem a minha velhota. À noite telefona-me sempre e disse obrigado filha só tu...e que esperaria por ele.
Na sexta às onze e meia da manhã telefonei para o lar e a directora disse-me que tinha acabado de levar o Sr.Padre à minha mãe.
No sábado quando a fomos buscar para ir à praia até uma esplanada, nem parecia a mesma. Não sei do que falaram sei que estiveram mais de uma hora e que recebeu "o Senhor" como ela diz. Também disse apenas que tinha ouvido o que não gostou, mas interiorizou e que lhe dá toda a razão. Ainda gargalhou quando um dos meus genros virou-se para mim e disse: sogrinha finalmente vai deixar de ser saco de pancada, certo?)))) e foi uma tarde excelente.
As minhas filhas e um genro foram baptizados e fizeram a 1ª. comunhão e deixaram por completo o que eu jamais questionei ou impus. O outro genro não foi baptizado e não fez a primeira comunhão. Nenhum neto é baptizado. Não professam nenhuma religião.
Sei que é o maior desgosto da minha mãe, mas já lhe fiz ver que não tenho nada a ver com o assunto e que mais vale serem verdadeiros e sinceros do que muitos fantoches que existem...os tais grupos impermeáveis e ou ir à missa todos os domingos e mal saem continuam desavindos e girando apenas em torno do seu umbigo.
É disto e contra esta postura que luto e este foi mais um obstáculo que consegui ultrapassar.
Pior...foi o convite que recebi para me juntar a equipe...etc, etc. Respondi de imediato que já tinha uma grande equipe onde incluo os meus, vizinhos e amigos e que mal toco a sineta...fazem logo uma roda e damos as mãos. Hoje estive numa capelinha, sozinha e a conversar com Deus e olha que refilei muito, mas Ele soube acalmar-me e vim tão leve que nem acreditas:)
Desculpa mais este testemunho mas sou como sou e não sei deixar de ser quem sou:)
Beijos rapaz pelo incómodo e beijos a todos os teus
As minhas filhas são baptizadas, Fatyly.
EliminarMas, como o pai, não são praticantes.
E isso não se obriga.
Sente-se, educa-se, não se força.
Quando sentirem vontade, quando sentirem o chamamento, elas próprias darão esses passo.
Foi o que aconteceu com a Mariana na primeira comunhão.
Quando é assim, e como sempre, aqui está o pai.
Sempre ao lado delas, sempre disponível.
Beijos (Qual incómodo? Óptima conversa, isso sim)
Mais um interessante texto de Borges.
ResponderEliminarGrata pela partilha
Desta vez chamando mais o lado religioso, o padre progressista, São.
EliminarSempre um prazer lê-lo.
E está aqui tudo o que um bom cristão ou uma pessoa de bom senso pode e deve fazer em relação ao outro.
ResponderEliminarGostei de reler e lembrar algumas regras, entre aspas.
Beijinho, Pedro!
PS: Ainda não conseguiu ver as fotos? Nem sequer o cabeçalho? Já experimentou no seu computador de secretária? Não sei o k possa fazer. Os outros seguidores têm-me falado das fotos, portanto, sinal de k conseguem vê-las.
Vou tentar ver hoje em diferentes plataformas, CÉU.
EliminarDepois eu digo se consegui ou não.
Beijinhos
Hoje, telefonou-me uma amiga, dizendo-me k não conhecia ver as fotos do blogue no smartphone ou tablet, não sei qual ela tem, mas k depois foi a "ver web" ou "ir web", não sei a expressão correta e viu toda a publicação.
EliminarSinceramente, não lhe sei explicar mais nada, pke de internet sou mais k básica.
Deixe lá, fica pra próxima!
Beijinho.
Eu logo vou tentar ver noutra plataforma.
EliminarBeijinhos