Coragem política de Merkel resulta em derrota nas eleições regionais e em ascensão da extrema direita


A política de acolhimento de refugiados seguida por Angela Merkel terá sido a grande causa da derrota do Partido Cristão Democrata nas eleições regionais realizadas no final da semana na Alemanha.
Uma convicção que se vê reforçada pelos resultados obtidos pelo partido anti-imigração, Alternativa para a Alemanha, e também pelo fraco desempenho do SPD, parceiro de coligação de Merkel.
Merkel, a líder europeia com mais carisma, autoridade e poder, apostou esse seu capital político e a sua forma resoluta de estar na política, mas apenas conseguiu assustar uma parte da sociedade alemã.
A ideia de receber um milhão de refugiados, ao mesmo tempo que negoceia um acordo com a União Europeia e a Turquia tendente a conter a onda de migrantes, não foram suficientes para a mais poderosa líder europeia vencer na frente interna. 
Os slogans xenófobos e racistas dos partidários do Alternativa para a Alemanha (“Assegurem as fronteiras” e “Parem o caos dos asilos políticos”) parece terem tocado fundo nos receios de uma boa fatia da sociedade alemã.
Sendo verdade que se tratava de eleições regionais, é inevitável a extrapolação para o espaço nacional e inclusive para o espaço europeu.
A nível interno, Angela Merkel será obrigada a rever a sua estratégia, comunicacional e política, para conter a queda do seu partido e dos seus parceiros de coligação, ao mesmo tempo que procura travar a ascensão de uma extrema direita perigosa, xenófoba, racista, violenta.
A nível europeu, por muito que se diga o contrário, a posição da chanceler alemã também sai enfraquecida destas eleições regionais.
Porque os seus adversários vão procurar conseguir o máximo aproveitamento desta debilidade momentânea de Merkel, desta necessidade imediata de jogar em dois tabuleiros ao mesmo tempo.
O tempo, como sempre, se encarregará de confirmar ou infirmar a  percepção que fica no final destas eleições regionais na Alemanha.
A percepção de ser bem possível que o que aparentemente seriam apenas umas simples eleições regionais se possam  vir a transformar num forte abalo político a nível interno na Alemanha e  mesmo no espaço da União Europeia.

Comentários

  1. Quando eu oiço ou leio coisas que estabelecem uma conexão entre o racismo/xenofobia à extrema-direita não consigo deixar de me lembrar de como o António de Oliveira Salazar conseguiu considerar o mulato do Eusébio da Silva Ferreira como um património nacional português. Se calhar é porque há extrema-direita e extrema-direita, uma que é racista/xenófoba e outra que não é. É como dizerem que o nazismo, vulgo nacional-SOCIALISMO, era racista e xenófobo, tendo o próprio Hitler uma aliança com os japoneses e com os soviéticos, que são um povo eslavo, racialmente inferior aos arianos conforme a doutrina nazi, e perseguido judeus tão branquinhos como o Albert Einstein, bem como também o facto de ter havido muitos norte-africanos nas SS.
    Para mim, mas isto sou eu, é claro, o maior acto de racismo ou de xenofobia é aquele que é feito contra o seu próprio povo, como beneficiar estrangeiros no nosso próprio país, na nossa própria casa, em detrimento dos nossos. O racismo e xenofobia mais perigosos são os que partem da esquerda, como dos grupos alemães esquerdistas que defendem slogans como "antes violadores que racistas". Ajudar os outros é muito bonito, sim senhor, a questão que se coloca é: antes de pensarmos nos outros primeiro devemos pensar em nós próprios. E por causa disso Angela Merkel merece perder todo o apoio do povo alemão. Todas as causas geram os seus efeitos e a democracia tem destas coisas.
    Abraço.

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    1. Mas esta extrema direita alemã é racista, xenófoba e perigosa, FireHead.
      Não há uma ligação directa entre extremismos, de direita ou de esquerda, e fenómenos de racismo e xenofobia.
      Embora isso muitas vezes aconteça.
      Todos os extremismos, venham de que quadrante vierem, me repugnam, FireHead.

      O caso de Merkel é diferente.
      Não sejamos ingénuos.
      Merkel não é um anjinho.
      Mão-de-obra jovem, barata, qualificada, uma nova geração numa Alemanha envelhecida, dão muito jeito.

      Grande abraço e parabéns pela carreira do Benfica.
      Estou a gostar de ver os putos a portarem-se como gente grande.
      E mais um treinador português a mostrar que sabe de bola.

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    2. Acredito que tem mais a ver com o facto do povo alemão já não conseguir suportar as consequências nefastas da crise dos refugiados. O que aconteceu em Colónia foi apenas a ponta do icebergue. Estão muitas coisas agora a sair do armário, mas tantas que as autoridades não estão a conseguir resolver. E depois, claro, o crescimento do nacionalismo surge como resposta, pois partidos como a AfD - tal como o Donald Trump nos EUA - fala directamente para o povo, põe os pontos nos is, não é politicamente correcto porque de promessas vãs estão todos fartos.

      São os falsos refugiados que mancham a imagem dos refugiados, tal como os imigrantes criminosos e ilegais mancham a imagem dos imigrantes. Estes é que são o problema e até agora ainda nada foi feito para o erradicar.

      A Merkel, ao alinhar-se do lado do capitalismo selvagem e apátrida, está a pôr em prática o plano Kallergi. A Alemanha, e a Europa em geral, nunca teve tanta gente como tem agora, mas ainda assim acham que há espaço para mais e mais imigrantes e refugiados, como muitos que são de culturas hostis ao Ocidente e que não são assimiláveis. O resultado são conflitos sociais, que podem conduzir mesmo a guerras.

      Quanto ao Benfica, eu estava longe de imaginar que a saída do Jorge Jesus pudesse ter sido tão bom. Se o Benfica for tricampeão, vou ter de dar a mão à palmatória, pois de início desconfiei muito do Rui Vitória.

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    3. Concordamos numa coisa, FireHead - no meio dos refugiados há gente que se faz passar por isso, que tem as mais malévolas intenções, e que mancha a imagem daqueles que genuinamente fogem de cenários de guerra e de miséria.
      No meio de tanta gente existe sempre essa possibilidade.
      E, como bem comenta o Ricardo, o receio de islamização da Europa é um facto, está aí presente e leva reacções extremas.

      O Benfica até tem tido estrelinha de campeão nalguns jogos, FireHead.
      Mas a sorte não cai do céu.
      Procura-se e conquista-se.
      O Ricardo e o António sabem que eu nunca alinhei nessa conversa tonta de o Rui Vitória não ser bom treinador.
      Sem meios, sem dinheiro, criou boas equipas em Guimarães, descobriu uma série de talentos.
      Alguns que o meu Porto tem feito o favor de não aproveitar, até .....

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  2. Pedro, tudo se resume a esta frase «(...)Os slogans xenófobos e racistas dos partidários do Alternativa para a Alemanha (“Assegurem as fronteiras” e “Parem o caos dos asilos políticos”) parece terem tocado fundo nos receios de uma boa fatia da sociedade alemã.»

    Fatal como o destino os receios de uma islamização da Europa adensam-se, meu caro, e o atentado desta manhã em Berlim não ajuda em nada.

    Aquele abraço, Pedro.

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    1. E são esses receios que conduzem a estes resultados, Ricardo.
      A extrema direita, oportunista, esperta, capitaliza esses receios e consegue crescer um pouco por toda a Europa.
      Aquele abraço

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  3. Alguma coisa terá falhado na política de Merkel.
    E extrema direita, sempre atenta, faz uma vénia de agradecimento à coligação CDU/SPD e avança.
    Medo, muito medo.
    Abraço

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    1. Merkel, ao falar tão aberta e apaixonadamente na possibilidade de receber um milhão de refugiados, ao criticar quem fecha fronteiras, assustou muita gente.
      A reacção perante esses receios é fazer crescer quem advoga uma política de fronteiras fechadas e protegidas.
      Aquele abraço

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  4. Esta não é a minha Europa e considero que o caminho está ficar muito perigoso!

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    1. O crescimento da extrema direita um pouco por toda a Europa é evidentemente assustador, São.

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  5. Já em tempos elogiei, lá no CR, a postura de Merkel nesta matéria. Agora, não deixa de ser curioso que a sua "coragem"? ( talvez prefira chamar clarividência) esteja a favorecer a emergência de uma outra mulher alemã e a confirmar a ascensão de Marine Le Pen em França. Duas mulheres de extrema direita, xenófobas e fascistas, como todas as organizações de extrema direita, aliás.

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    1. Reacção epidérmica e imediatista, Carlos - estamos com medo vamos dar força política a quem nos protege.
      Sem sequer se parar para perceber que quem hipoteticamente protege é que é realmente perigoso.

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  6. Pois é, não é só de brasileiros o privilegio de
    não perceber quem é quem na política.

    Só lamento.

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    1. Não, Margoh, o Brasil está a atravessar um momento politicamente bastante conturbado.
      Mas está bem longe de estar sozinho nessa situação.

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  7. Não é só na Alemanha que existe racismo e xenofobia...em Portugal também há e muito.

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    1. Mais escondido, mais envergonhado, mas sem dúvida que também há, Maria do Mundo

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  8. É deveras preocupante a nova ascensão da extrema direita um pouco por toda a Europa. E a sua política xenófoba, que parece ter o apoio dos povos, quiçá assustados pelos milhares de sírios e outros árabes que procuram alojar-se na Europa, trazendo com eles outros costumes e crenças. O medo é muito traiçoeiro...

    Beijocas

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    1. O medo, tantas vezes irracional, pode resultar nestas tomadas de posição extremas, Teté.
      Assusta, sem dúvida que assusta.
      Beijocas

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  9. Receio uma crise europeia a larga escala, que pode gerar uma III guerra (nem quero pensar nisto).
    Os refugiados vieram agravar a situação, que já estava débil.
    Oxalá estejamos enganados.

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    1. O fluxo de refugiados só veio pôr a nu profundas divisões que já existiam na Europa, cantinhodacasa
      Esperemos que haja controlo de danos.

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  10. ~~~
    Excelente análise, Pedro,
    mas o que preocupa e, até, aterroriza!
    ~~~ Beijinhos. ~~~

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    1. Estamos a viver uma situação assustadora e potencialmente explosiva, Majo.
      Beijinhos

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  11. O que se passa na Alemanha não tem nada de estranho, que possa surpreender. É tão só um sintoma de uma doença latente há muito tempo.
    Ingenuamente julgou-se que todos aqueles países de leste admitidos na UE, por mero interesse economico, ficariam "democratizados", a acatar as normas de um diretório que lhes é estranho. Esqueceram-se que a evolução histórica dos povos se faz muito lentamente (o momento actual é apenas um episódio) e com custos que não se compadecem com a burocracia de Bruxelas. A Europa tem pés de barro. Desenvolveu-se debaixo do guarda-chuva do Tio Sam durante a guerra fria. Isso acabou.
    O "negócio" que está a ser feito com a Turquia é a maior das poucas vergonhas. Acaba-se de vez com o chamado espírito europeu, institucionalizam-se os campos de refugiados e abre-se nova guerra sem acabar com as que originaram a "catástrofe".
    A chanceler Merckel já teve melhores dias; como todos os líderes teve melhores dias, presentemente, está já no plano descendente.

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    1. Não percebo como é que um país como a Turquia pode cumprir os critérios de acesso à União Europeia.
      E acho que não estou sozinho nessa dúvida

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    2. A Angela Merkel vendeu a alma ao diabo ao elogiar a Turquia. Ela está a perder o sentido da realidade política.

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    3. Uma grande argolada, ematejoca.
      Que custou caro.

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  12. O eleitorado puniu o governo encabeçado pela chanceler federal Angela Merkel neste domingo, quando os estados alemães de Baden-Württemberg, da Renânia-Palatinado e da Saxônia-Anhalt, elegeram novos parlamentos estaduais.
    O partido de Merkel, a CDU, registrou perdas em todos os estados e viu o avanço do partido populista de direita AfD, que obteve 24% dos votos na Saxônia-Anhalt.

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    1. Podendo dizer-se que são só eleições regionais, e só em três estados, a derrota da CDU e do SPD, e a ascensão do AfD, são sintoma de algo muito mais grave a profundo que uma mera eleição estadual, ematejoca.
      E é isso que assusta.
      Até porque não é só na Alemanha que podemos observar esse fenómeno.
      As pessoas estão assustadas e facilmente caem nos braços de quem promete protecção.

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