Bocage acerca da presença portuguesa em Macau


Um governo sem mando, um bispo tal,
De freiras virtuosas um covil,
Três conventos de frades, cinco mil,
Nh's chins cristãos, que obram mal;

Uma Sé que hoje existe tal e qual,
Catorze prebendados sem ceitil,
Muita pobreza, muita mulher vil,
Cem portugueses, tudo em um curral;

Seis fortes, cem soldados, um tambor,
Três freguesias cujo ornato é pau,
Um vigário-geral sem promotor,

Dois colégios, um deles muito mau,
Um Senado que a tudo é superior,
É quanto Portugal tem em Macau.

Comentários

  1. Respostas
    1. Nada simpático para a presença portuguesa em Macau naquela época, convenhamos, Golimix

      Eliminar
  2. Curiosíssimo quadro do "Esplendor de Portugal".
    Não conhecia, Pedro.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um quadro muito negro da presença de Portugal em Macau naquela época, Agostinho

      Eliminar
  3. A descrição é negativa, sem sombra de dúvidas. Mas como é que o Pedro descreveria, hoje, a presença de Portugal em Macau?

    Beijinhos :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Os portugueses são acarinhados, Miss Smile.
      O Português é língua oficial, a China tem uma estratégia Lusófona muito clara e assumida, uma estratégia que passa por fazer de Macau um centro de difusão da língua portuguesa e uma via para o mundo lusófono.
      O Direito é de raiz portuguesa, a gastronomia e a arquitectura portuguesas estão muito presentes e fazem de Macau um sítio único, algo que a China reconhece e acarinha.
      Vive-se muito bem em Macau, terra onde há um canal de televisão em português, um canal de rádio, três jornais diários e dois semanários.
      Que o Governo faz questão que existam, que paga para que existam, mas que são fortemente críticos da governação.
      Sou suspeito porque gosto muito de aqui viver e fui sempre bem tratado.
      Os momentos em que isso não aconteceu foram tão poucos que consigo facilmente lembrá-los todos.
      Beijinhos

      Eliminar
  4. Bom , acabei de ler a sua resposta a Miss Smile e fico contente que esteja nos antípodas da descrição de Elmano Sadino

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não sei o que era Macau naquela época, São.
      Hoje não é nada assim.
      Mas hoje os tempos são outros e os ventos sopram de Pequim e não de Lisboa.
      Se calhar nunca sopraram de Pequim, mas isso é outra conversa...

      Eliminar
  5. Olá Pedro
    eu digo sempre que é preciso ter cuidado com certos escritores que interpretam o que transmitem conforme as modas da época deles, tipo aquele que vê o copo meio vazio e o outro que vê o copo meio cheio !
    são movimentos literários que se seguem uns aos outros
    do romantismo ao realismo, sem que se tenha em conta o valor das pessoas :) e que não podemos utilizar compreender a história
    abraço
    Angela

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bocage era conhecido por ter uma língua viperina, Angela.
      Ainda assim, não vou dizer que a Macau daquela época não correspondesse a este retrato.
      A actual tenho a certeza que não.
      Um abraço

      Eliminar
  6. O Poeta Barbosa du Bocage, sempre irreverente !

    ResponderEliminar
  7. Não conhecia. O Bocage foi um grande poeta. Pena que muita gente pense nele apenas como uma personagem do anedotário nacional.
    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Este escrito não é muito simpático para a presença portuguesa em Macau.
      Mas é deveras interessante.

      Eliminar
  8. Se já naquela altura o Manuel Maria B. du Bocage escrevia sonetos tais, estranho é que as coisas, por aí, continuem semelhante ou iguais! :)

    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por acaso, não é assim, Janita.
      Não sei como era a Macau no tempo de Bocage.
      A actual é diferente.
      Até porque o que ele estava a satirizar era a mania de considerar Macau uma colónia.
      Que nunca foi.
      Portugal administrou Macau com o consentimento da China.
      Nunca foi potência colonial, nunca aqui possuiu nada.
      Beijinhos

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares