Oitenta e oito

Na numerologia chinesa o oito é símbolo de sorte e de um ciclo completo, o número que se fecha sobre si próprio.

Oitenta e oito, uma idade que significou o fim do ciclo de vida de duas pessoas importantes na minha vida, de formas diferentes.

O meu pai em Outubro de 2024, três dias após o aniversário; o Papa Francisco, na segunda feira de Páscoa.

Francisco marcou o Mundo com a sua simplicidade, a sua bonomia, o desapego ao materialismo, a abertura dogmática da Igreja a temas até então proibidos.

Ao ouvir tanta gente falar acerca de Francisco, agnósticos ou crentes em tão diferentes credos, tive a certeza que há pessoas que irradiam uma luz que lhes é muito própria e muito natural.

A presença de Francisco, a sua maneira de ser e de estar, não eram estudadas, não eram uma encenação.

Aquele era o ser humano Jorge Mario Bergoglio, que a cúpula da Igreja Católica escolheu para a liderar. 

Jorge Mario Bergoglio não queria ser Papa, foi chamado a essa tarefa.

E sinalizou logo o que seria o seu papado quando escolheu o nome Francisco.

Longe da ostentação, da opulência, Francisco sentia-se bem no meio das pessoas.

E reagia como uma delas (lembrar a palmada e o ralhete que instintivamente deu à cidadã que o puxou na Praça de São Pedro faz-me sorrir).

Tal como o meu pai, Francisco não quis prolongar artificialmente a vida.

E recusaram ambos terapias invasivas, mais venenos e sofrimentos para além dos que já tinham sofrido.

Dois exemplos de vida, da minha vida e para a minha vida, que fecham o seu ciclo de vida aos 88 anos.

Mas que deixam muitas e boas memórias.