O artigo 27º da Carta das Nações Unidas e George Orwell

Não é só no imaginário de George Orwell, e entre porcos, que há uns mais iguais que outros.

Nas Nações Unidas, pasme-se, também é assim.

E essa realidade tem consagração legal.

O artigo 27º da Carta das Nações Unidas, que consagra o direito de veto dos big five, é um dos preceitos legais mais hipócritas que nos é dado conhecer.

Com consequências esdrúxulas na sua aplicação.

Vimos isso recentemente com o veto americano à resolução do Conselho de Segurança, que buscava uma trégua no conflito entre Israel e Hamas para assistência humanitária às populações inocentes que sofrem os horrores de uma guerra que não criaram.

António Guterres mostrou uma coragem pouco habitual ao invocar o artigo 99º da Carta das Nações Unidas.

Cansado do desfilar de horrores, António Guterres não se conteve, o que lhe é pouco habitual, e invocou um artigo só utilizado anteriormente por duas vezes na História.

De nada valeu.

Os mais iguais que os outros fazem sempre valer as suas opções por mais abjectas que sejam.

E os Estados Unidos, campeões da condenação a terceiros, olharam para o lado quando se viram confrontados com uma possível condenação do amigo Israel.

No que foram secundados pelo sempre fiel amigo inglês, sempre disponível para assobiar para o lado em tudo o que não lhe diga estritamente respeito.

Nas últimas horas, uma brutal maioria de países aprovou uma resolução humanista, que já se sabe não terá outro efeito que não seja uma censura pública à força bruta.

Porque há mesmo uns mais iguais que outros.

Entre porcos e povos.