Mais um massacre

 




Ser pai é a maior alegria e o maior orgulho da minha vida.
Felizmente nunca temi pela segurança das minhas filhas quando elas se deslocavam para a escola, muito menos quando estavam na escola.
Não posso imaginar o horror que é viver com o temor de ver um filho selvaticamente abatido por um tresloucado armado até aos dentes só por estar a cometer o "crime" de estar na escola.
Muito menos posso sequer conceber que um pai perca um filho porque um louco assassino resolve praticar tiro ao alvo no seu filho na escola.
É grotesco, é revoltante, é asqueroso.
Mas acontece com demasiada frequência no país mais abastado do Mundo.
Refém de cóbois agrupados numa organização sinistra que tudo controla, que estende os seus tentáculos aos dois Partidos, ao Senado, ao Capitólio, a América convive com o horror com uma naturalidade arrepiante.
Agora em Uvalde, no Texas.
Um garoto de 18 anos entra numa escola, armado com uma pistola e uma espingarda, e abate alunos e professores, depois de ter disparado contra a avó com quem vivia, com uma facilidade impressionante.
Tudo natural, tudo normal, tudo vulgar.
É a América profunda, land of the free, home of the brave.
Repetem-se as mesmas vozes de condenação e os mesmos discursos inflamados ouvidos há cerca de uma semana.
E mais umas tantas placas funerárias.
De crianças massacaradas em nome do direito sagrado a possuir armas.
Pelos vistos mais sagrado do que o direito à vida.
Inclusive a vida de crianças.
Porque a América hipócrita perde mais tempo a debater o direito à vida de quem ainda não nasceu do que o direito a viver de quem está sossegado na escola.
O rei vai nu.
O atirador, só mais um de muitos loucos assassinos, é de origem latina.
E a América hipócrita vai debater a emigração e a segurança das fronteiras e esquecer o debate em torno da aquisição e posse de armas.
Gente sem perdão.
Mais do que o atirador, do que todos os atiradores, quem lhes permite adquirir armas livremente.

Comentários

  1. 19 crianças e 2 adultos. Mesmo que tivesse sido uma. E nada será feito... Nada a acrescentar...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tudo continuará como antes porque a NRA é demasiado poderosa, Catarina.
      Combatem o aborto mas aceitam o assassínio.
      Protecção intra-uterina, sim.
      Depois de nascerem, safem-se.
      Já George Carlin o dizia há décadas.
      Não mudou nada.

      Eliminar
  2. Caro Pedro,
    Quantas vidas mais precisarão ser perdidas, para os governantes do Mundo (principalmente o dos “EUA”), entenderem que armas de fogo só devam ser portadas pelas forças policiais e militares e mesmo assim, dando segurança a população e não, levando flores aos túmulos de crianças e cidadãos de bem.
    Qualquer ação de querer (ou tentar), reinventar um conceito de que portar uma arma traz segurança ao cidadão comum, é ignorância e qualquer ação tomada diante dessa loucura que virou o nosso Mundo bélico, não trará as vidas perdidas de volta. Hoje, temos de estancar esta violência recorrente e lamentável.
    Precisamos nos opor às velhas liturgias e às retóricas desgastadas de que armas não matam e sim, as pessoas que matam. Armas são facilitadoras de caos, lágrimas e destruição.
    Um abraço a ti e a todos que sentem também indignação diante deste tipo de situação!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O poder amricano, Democrata ou Republicano, é refém do lóbi NRA, Douglas Melo.
      Pagam campanhas eleitorais e querem retorno.
      Não vejo como e quando este ciclo possa ter fim.
      Um abraço

      Eliminar
  3. Concordo em pleno com o que escreve. O facto de ser apenas mais um caso e tudo ficar na mesma, é indicador da mentalidade dos EUA. O poder do executivo cada vez menos me parece verdadeiro poder e isto extensivo, julgo, à maioria dos governantes no mundo de hoje. E quem pode não se compadece com a vida dos outros, não age pelo e para o bem comum, mas por interesses pessoais e de cartel. Que a venda das armas, essa sim, confere poder económico e efectivo domínio. Não é o mundo em que gostaria de viver, mas é o que temos. Como podemos confiar num país com tal índole, é coisa que me faz alguma confusão. Quiçá ainda seja o menos mau. Ou seja força de poder actuante e tentacular a que a maioria se submete por reconhecê-lo como tal. Contudo, é incapaz de fazer vigorar uma lei que proíbe o porte e venda de armas ao cidadão particular, as tentativas de Obama fracassaram.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por mais que surjam vozes exaltadas as armas continuarão a ter muito poder nos Estados Unidos.
      Há mais armas que pessoas nos Estados Unidos!!
      Está tudo dito.

      Eliminar
  4. Mais uma vez, estou estupefacto !
    O país da Liberdade...

    ResponderEliminar
  5. Junto à tua a minha indignação. :(
    Não consigo aceitar tamanha barbárie.
    Beijos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que ciclicamente se repete e sem fim à vista, Manu.
      Beijos

      Eliminar
  6. Subscrevo inteiramente e os casos vão surgindo sem irem ao cerne da questão: a posse de armas.
    Beijos e um bom dia

    ResponderEliminar
  7. Bom dia
    Como é possível ?
    E não falo só da crueldade, mas da facilidade com que isto acontece num país que se considera defensor dos direitos humanos .

    JR

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mais armas que pessoas, mais tiroteios só este ano que dias do ano.
      Verdadeiramente only in America

      Eliminar
  8. E é com estes massacres continuados e com a hipocrisia de abolirem o aborto e com a cobardia de não enfrentarem a ganância da indústria de armamento e com a falha completa da defesa dos direitos humanos que os EUA têm o supremo descaramento de acusarem os seus inimigos de crimes de guerra ( sim, porque aos amigos perdoa tudo)!!!

    E, tem razão, a Direita vai levantar de novo o tema da emigração ,

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O mais fácil é apontar para o lado para distrair a populaça, São
      Fronteira com o México, assassino de origem latina…tão fácil

      Eliminar
  9. É uma verdade dura e crua.
    O rei vai nu … sem moralidade e perdão.

    Assino com um coração 💙

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Crianças, Teresa.
      Abatidas na escola.
      Arrepia só de pensar.

      Eliminar
    2. Crianças que podiam ser as nossas.
      A Alemanha alinha muitíssimo com os EU.
      Assustador só de pensar que alguém copie tal atrocidade ☠️

      Eliminar
    3. Não será fácil, Teresa.
      Porque ninguém tem acesso a armas como os americanos.

      Eliminar
  10. Uma triste e dolorosa realidade nos EUA. Infelizmente, por muitos massacres que aconteçam, o lobby das armas sai sempre vencedor.
    Excelente crónica.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tem muito poder e muito dinheiro, Maria Rodrigues.
      As primeiras declarações de membros da NRA são eloquentes - não é travar o acesso às armas, o que é preciso é armar os professores.
      Esta gente existe.
      Beijinhos

      Eliminar
  11. Um treinador de uma equipa de basquetebol norte americana, chorou e lançou um forte ataque ao sistema porque tudo continuará como estava: em silêncio.
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Steve Kerr.
      Um assunto que o toca muito pessoal e profundamente, António.
      Abraço

      Eliminar
  12. Oi Pedro. Muito triste. O que é mais chato é saber que isso se repete sempre. Fica difícil até escrever.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já são mais tiroteios que dias do ano, Luiz Gomes.
      Inacreditável.

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares