Outro rufia

Na Ucrânia um rufia mata inocentes.

Em Hollywood outro rufia esbofeteia o apresentador da cerimónia dos Oscar numa bravata supostamente para defender a família, a esposa.

Nada há de mais sagrado na minha vida que a família e a harmonia familiar.

Precisamente por isso mantenho a família preservada das luzes da ribalta, da fama, do escândalo.

A intimidade e a privacidade familiar são essenciais para mim e é assim que tento conduzir a minha vida.

Também por isso tenho toda a legitimidade para me revoltar se essa intimidade e privacidade forem devassadas.

Will Smith, a estrela de Hollywood, aquele que viria afinal a ganhar o Oscar de melhor actor, não o faz.

Ele a sua esposa expõem a vida privada, falam publicamente da sua intimidade, partilham pormenores do que na minha óptica devia ser mais reservado.

Porque assim escolheram, porque foi esse o caminho que resolveram trilhar.

Ver Will Smith agredir Chris Rock por causa de uma piada de mau gosto fez-me recuar aos tempos de adolescência.

Will Smith riu da piada de muito mau gosto num primeiro momento.

Olhando para a sua esposa, e vendo que esta não gostou, agrediu o incrédulo Chris Rock.

A reacção generalizada foi pensar que tratava de um momento coreografado.

Quando se percebeu que não era assim ficou um mal estar que o discurso de Will Smith não dissipou.

Will Smith foi aquele adolescente rufia que quer impressionar a sua dama.

Não era bonito na adolescência, é muito mais feio entre adultos.

Sobretudo adultos que conseguem fama e fortuna ao expor a sua intimidade e depois reagem à bruta quando essa intimidade é caricaturada.

O Príncipe de Bel-Air é afinal um rufia.

Um rufia que podia ter aproveitado o discurso de agradecimento quando recebeu o Oscar para condenar a piada idiota de Chris Rock e explicar que há linhas vermelhas que não devem ser pisadas.

Preferiu encarnar o personagem que lhe deu o tão ambicionado Oscar e portar-se como um brutamontes.

The show must go on, não é?