Vamos imaginar...


Vamos imaginar que, um dia, um grande líder de uma grande potência mundial, procurando reunificar essa potência com algumas parcelas há muito afastadas, criava uma teoria político-administrativa completamente nova.
Vamos imaginar que essa reunificação existia, pelo menos com algumas das parcelas, e da teoria se passava à prática já depois da morte de quem a imaginou.
Vamos imaginar que essa prática se revelava um sucesso durante vários anos.
Vamos imaginar que a conjugação de dois factores primordiais – garotos mal comportados e um regime mais musculado – começava a influir negativamente no que até então era visto como um exemplo da tão ansiada harmonia.
Vamos imaginar que a teoria político-administrativa começava até a ser ameaçada por quem tinha o dever primordial de a proteger.
Vamos imaginar, por exemplo, que, contrariando o disposto na lei, uma sentença desrespeitava o uso das línguas oficiais e só era apresentada às partes litigantes e seus advogados numa das línguas oficiais.
Vamos imaginar que nem todos dominavam a língua oficial na qual fora lavrada, em dezenas de páginas, uma sentença fundamental para o presente e futuro da concretização da tal teoria político-administrativa única.
Vamos imaginar que, com esse comportamento, a Justiça, o exercício do contraditório e do direito de recurso, reconhecidos nas leis fundamentais e nos pactos internacionais, ficavam comprometidos.
Vamos imaginar que ficava até comprometida, em última análise e no limite, a implementação do tal princípio político-administrativo único na História da Humanidade.
Não, não pode haver semelhança com a realidade.
Deve ser mesmo só imaginação.

Comentários


  1. PEDRO COIMBRA,

    muito sutil, muita habilidade para explorar o tema com a máxima capacidade de usando uma certa dose de sarcasmo, você poder finalmente, conseguir dar o seu recado.
    Ótimo!
    Lá no nosso blog FALANDO SERIO desta semana publiquei: OS DOENTES VESTEM LONDRES.
    É polêmico e acho que vai gostar.
    Um abração carioca.

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    1. Paulo Tamburro,
      Qualquer semelhança entre a imaginação e realidade não terá sido mera coincidência :))
      Um abração macaense

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    1. Aqui a imaginação é só para passar a texto uma situação muito real, Amigo João Paulo de Oliveira.

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  3. ... e quando a realidade nos traz desenlaces que nem fomos capazes (enquanto Homem) de imaginar...

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    1. Estamos a caminha um bocado nesse sentido, Boop.
      Oxalá esteja enganado.

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  4. Estou de acordo com a Catarina "imaginação ou pesadelo".
    Um abraço e continuação de boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Não é imaginação, Francisco, é bem real.
      Aquele abraço

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  5. Há realidades que apagam imaginações, como há sonhos que se concretizam!

    Aquele abraço Pedro.

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    1. Eu só peço que o sonho não vire pesadelo, António Querido.
      Aquele abraço

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  6. Imaginar tudo isso causa calafrios. Oxalá não passe disso mesmo. Imaginação.
    Um abraço

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    1. Está a ser muito real, Elvira Carvalho.
      E eu não estou a achar piada nenhuma.
      Um abraço

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  7. Uma imaginação de pesadelo... :(

    Hoje:- Sou uma gota de água no teu oceano .

    Bjos
    Votos de uma óptima Quinta-Feira

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    1. Uma imaginação muito baseada na realidade, Larissa Santos :(
      Bjs, votos de óptima quinta-feira também

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  8. i already live in my Utopia through my imagination

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  9. Exercício difícil o que aqui é proposto.
    Imagino que o Pedro concorda.
    Um abraço

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  10. Presumo que é mais um exercício de triste realidade do que de imaginação....

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  11. Neste caso, a imaginação tem o tempo e o poder para fazer quase tudo o que quer... Portanto, é bastante provável que tudo se torne realidade. Mas talvez não, nem precisam disso.
    Bom fim de semana, caro Pedro.
    Um abraço.

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  12. Bravíssimo Pedro!
    Uma excelente forma de
    expor uma questão.
    Adoro "inteligência"
    a serviço da "palavra".
    Bjins
    CatiahoAlc.

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  13. Vamos imaginar que as pessoas perderam o bom senso e o respeito pelos outros ...

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    1. Mais uma vez a realidade ultrapassa a imaginação, Magui:(

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  14. Será mesmo imaginação, Pedro? Era bom que fosse, mas não é...

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  15. Quando a imaginação nada mais é que a pura realidade
    Abraço Pedro

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    1. Na mouche, Kique.
      Aquele abraço.

      P.S. Não tem sido possível comentar no blogue. Vamos ver se hoje já é possível.

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  16. Seria muito grave que a língua, além de lhe ser negado o seu estatuto, negociado e aprovado, de coesão cultural, possa, ainda, funcionar como entrave à aplicação da justiça.
    Medo.
    Saudações, Pedro.

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    1. Quando se faz uma coisa destas é isso que acontece, Célia
      Seja ou não essa a intenção.
      Bjs, bfds

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  17. Imaginação, não raro, tornada triste/macabra realidade!

    Abraço

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  18. Deduzo que o Pedro esteja a falar de Macau e da China, e que sente na pele aquilo que está a acontecer.
    Lamento.

    Abraço

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    1. E deduz muito bem, AC.
      Há gente com muita pressa de perder aquilo que tem de único.
      Uns coitados que nem sabem o que fazem.
      Aquele abraço

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  19. Lamento muito, mesmo muito, por Macau.
    Beijinho.
    ~~~~

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    1. Também eu, Majo.
      Por isso é que é preciso denunciar estas situações.
      Se não o fazemos passamos a ser cúmplices.
      Beijinho

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