Motim 1-2-3, ainda um tema tabu
3 de Dezembro de 1966 - o ambiente de tensão que existia entre as autoridades portuguesas em Macau e a grande maioria da população chinesa, em conjunto com os ventos da Revolução Cultural e o rastilho que foi a recusa de autorização para a construção de uma escola nas Ilhas, davam origem a um dos períodos mais conturbados da vida de Macau.
A população chinesa, subjugada, maltratada, esfomeada, revolta-se e sai à rua afrontando a potência administrante e colocando em causa a governação de Macau por parte das autoridades portuguesas.
Autoridades portuguesas que reagem de forma brutal dando origem a dias de grande agitação e caos social, com vítimas a lamentar nos cerca de dois meses que durou o conflito.
Conflito que só se veria sanado com intensas negociações entre Pequim e Lisboa, ainda que mantidas de algum modo em segredo, e com a chegada de Nobre de Carvalho a Macau, mandatado por Salazar para resolver a questão mesmo que para isso as autoridades portuguesas tivessem que de algum modo se humilhar perante os revoltosos, informalmente apoiados pela China.
Cinquenta anos depois, estes acontecimentos, essenciais para se compreender o passado e o presente de Macau, e evitar que erros semelhantes se repitam no futuro (a administração pode ter mudado mas as populações, quando são levadas ao desespero, reagem...), continuam a ser evitados, esquecidos nas escolas de Macau.
O slogan da convivência pacífica entre duas culturas não pode ser encarado como um dogma.
Houve momentos de tensão, uns mais graves que outros, nenhum tão grave como o motim que ficou conhecido pela sigla 1-2-3.
Qual o receio de enfrentar essa realidade e a transmitir às gerações mais novas é algo que não consigo perceber.
Mais a mais quando ainda há muita gente que pode falar destes acontecimentos na primeira pessoa e se podem aprender lições da História na voz de quem a viveu por dentro.
É sempre bom lembrar a história para que não se cometam os mesmos erros, erros esses que são tão frequente na nossa história recente.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
É essa a razão que me leva a não perceber que não se aproveite esta oportunidade única de ouvir relatos de quem os viveu, Francisco.
EliminarAquele abraço
Esqueci-me de dizer ao meu amigo que aqui em Portugal saiu a revista mensal referente a Dezembro "Volta ao Mundo" com um artigo bastante interessante sobre Macau relatado e comentado pelo escritor José Luís Peixote.
EliminarUm abraço.
Vou procurar ler, Francisco.
EliminarObrigado pela informação.
Um abraço
E eu acho que deveriam mesmo falar, faz parte da história e se existem pessoas que a podem relatar em primeira mão, brilhante =)
ResponderEliminarBeijinhos
Uma circunstância que diria muito difícil de acontecer, Cic'Ana.
EliminarE não se aproveita??
Beijinhos
Nunca tomara conhecimento desta situação !!!
ResponderEliminarA História é escrita por quem vence e esta gente , geralmente, tende a silenciar certos factos....veja-se franco, por exemplo.
Mas o que é curioso é que, neste caso em particular, há silêncio dos dois lados.
EliminarParece que há receios de melindrar uma das partes.
Aconteceu, há testemunhas vivas, porque é que não se conta, não se transmite às gerações mais novas que revelam um completo desconhecimento dos factos?!
Desconhecia por completo a existência do motim 1-2-3.
ResponderEliminarPorquê e para quê tanto silêncio?
Um abraço
Vergonha, receio, paz podre, a resposta andará por estes tópicos.
EliminarQue são absolutamente estúpidos
Aquele abraço
Não faço a menor ideia do que foi esse motim 1-2-3, nem porque te limitaste a dar essa referância, sem o explicar. É que vivendo em Lisboa e tendo 7 anos à época, obviamente passou-me ao lado... ;)
ResponderEliminarBeijocas
Revolta da população chinesa contra as autoridades portuguesas, fartos de serem espezinhados e fartos de sofrer provações, à boleia da Revolução Cultural, não está explicado no post, Teté??
EliminarPara mais pormenores tem que se procurar outras fontes, não é um post num blogue.
Beijocas
Também não fazia ideia...
ResponderEliminarSe não é divulgado em Macau muito menos em Portugal, luisa
Eliminar
ResponderEliminarTambém há pouco tempo, eu tinha visto as noticias sobre os refugiados da China para Macau quando houve a revolução chinesa e que foram filmados neste video :
https://www.youtube.com/watch?v=_k0wgfYT_B0
Macau refugee problem in 1958
não conhecia o assunto!
abraço
Angela
Foi essa tradição de bem receber de Macau, associada ao estatuto de neutralidade do Portugal salazarista e marcelista que deu a Macau a qualificação de porto de abrigo, Angela.
EliminarUm abraço
Quando vivia em Macau, apercebi-me que muita gente ( nomeadamente portugueses) não sabia o que tinha sido o 1,2,3. Ai, como cá, e muito especialmente na Europa de hoje era muito útil que se desse mais atenção à História.
ResponderEliminarPara os portugueses é um tema especialmente sensível, Carlos.
EliminarA realidade é que tivemos que nos humilhar perante a China para pôr um fim ao conflito.
Ainda assim nada justifica que não se divulgue e ensine o que aconteceu.
A ignorância não aproveita a ninguém.
Desconhecia completamente este (e tantos outros) pormenores da História de Macau, mas este foi o ano em que reflecti acerca dessa ligeireza com que se esquece a História, os seus ensinamentos e exemplos, e se perde a oportunidade de a ouvir pelos seus protagonistas enquanto ainda vivem. Reflecti nisto acerca da nossa Guerra do Ultramar, do fenómeno dos retornados e até sobre os meandros da opressão, da Pide e do Estado Novo. Enquanto estudante, senti que não aprendi grande coisa sobre isso, só recentemente, por iniciativa própria, me informei.
ResponderEliminarBriseis,
EliminarEssa possibilidade de aprender História com quem a viveu e a sentiu na pele é extraordinária.
E não percebo como é que é desaproveitada.
Pedro, ainda me veio à ideia um texto que li há algum tempo numa revista francesa, assim feito por um jornalista francês não seria ligado a algum patriotismo, onde explicava que por exemplo em Goa antes da ocupação pela União Indiana, o nível de vida dos habitantes indianos era o dobro do nível de vida dos habitantes da India. Ainda assim a versão oficial era a de que os portugueses exploravam as gentes de lá e que mereciam ser atacados.
ResponderEliminarÀs vezes a versão oficial tem muita política à mistura e devemos aprender por outros meios
Infelizmente não é o caso, Angela.
EliminarOs chinas (era assim que eram tratados) eram mesmo explorados.
Leia os livros do Henrique Senna-Fernandes que vem lá retratada alguma desta realidade.
Gosto destas «histórias» daqueles tempos! Obrigada.
ResponderEliminarBeijinhos.
Estes acontecimentos deviam ser transmitidos às gerações mais novas, Graça.
EliminarQuem é que tem medo da História??
Beijinhos
Realmente, fica difícil de entender.
ResponderEliminarUm abraço
O currículo das escolas de Macau devia incluir este e outros acontecimentos relevantes.
EliminarSem complexos, sem culpas, apenas para que conheça o passado, se possa melhor compreender o presente, não se cometam os mesmos erros, ou outros semelhantes, no futuro.
Um abraço
«A população chinesa, subjugada, maltratada, esfomeada,»
ResponderEliminarLOOOL, deixe estar que na China maoísta onde morriam de fome aos milhões devia de ser melhor...
Essa é a face mais trágica desta situação, João José Horte Nobre - fugiam da miséria no interior da China para encontrarem miséria aqui em Macau.
EliminarArrepiei-me ao ouvir o relato de uma das pessoas que viveram estes acontecimentos quando dizia que, entre a confusão, as balas, algo de bom aconteceu - encontrou três batatas, repito, três batatas!!!, para poder dar aos filhos para comerem.
Isto aconteceu, é História, não é história.
FOCAS-TE um dos grandes problemas e mistérios da actualidade! Não só em Macau, mas no mundo... O meu veredicto? A culpa é do POLITICAMENTE CORRETO.
ResponderEliminarO não querer ferir susceptibilidades é tratar as pessoas como crianças, imbecis incapazes... DEVE-SE conhecer a vida, para dela se tirar lições. Ponto final. Afinal, quem é que sai a lucrar com a ignorância do povo??? Não o povo!
Mas é que é isso mesmo, Portuguesinha - o politicamente correcto, o não querer melindrar ninguém.
EliminarE, em nome desse politicamente correcto, prefere-se a ignorância.
Recordo-me, era eu rapaz, destes acontecimentos. Na rádio foram uns zuns-zuns sem qualquer enquadramento político.
ResponderEliminarEstes acontecimentos não devem ser silenciados pois a maioria das pessoas não os conhece. A História deve ser passada de geração em geração.
Bom trabalho, Pedro.
Esse Colmeia saiu-se das cascas.
ResponderEliminarHouve por aí um rapazinho que contracenava com os figurões do mundo, sempre de espinha vergada, que anda em grande depressão por não ter tido tempo de empandeirar o resto.
O destino do povo deste país está há muito definido: uns embarcar nas caravelas ou outros amolecer nas praias de papo para o ar.
E a inveja? Nem é bom falar...
Abraço.
Com a mania do politicamente correcto não se ensina História, Agostinho.
EliminarNão se pode aceitar.
Caro Pedro:
ResponderEliminarMuita treta, muita opinião , muita "repressão" dos portugueses sobre os chineses, que fugiam da R.P.C. mortos de fome e que morriam de facto nas beiras dos passeios. O 1,2,3 que até podia ser 4,5,6, mais não passou duma manobra maoísta para desviar a atenção dos fracassos da política económica e agrícola das coletivizações do pC chinês controlado pelo mais mortífero imperador do Império do meio, o bem conhecido rosto das actuais notas chinesas. Óbviamente quasi tão depressa como começou, também acabou, por ordem do mesmo, pois era de todo o interesse para a ditadura maoísta, manter um casino para entreter os membros do partido e os canais para obtenção de moeda forte. Mas nisso ninguém fala pois é incorrecto, mas logo que o sucessor do ditador, quebrou os tabus do livre comércio e se marimbou na ortodoxia comunista e começaram a entrar dólares no império do meio, não foi preciso mais que fazer um 7,8,9 a Hong Kong e um 10,11,12 a Macau e tudo bem pois quem pode pode. Cumprimentos para si e Bom Natal
Caro aguerreiro,
EliminarConhece assim tão bem a História de Macau?
E em que é que ficamos - os portugueses exploraram os chineses ou não?
E o dinheiro de Macau não alimentou clientelas em Portugal?
Salazar procurou resolver todos os problemas, ainda que com uma enorme perda de face, mas não beneficiava nada de Macau...
Ser patriota é muito bom.
Tentar reescrever a História é um erro.
Tenha um Santo Natal
Sou mais pelo reverso: Os chineses sempre exploraram e continuam a explorar os portugueses!
ResponderEliminarCumprimentos para si.
Em Macau, álvaro silva???
EliminarOlhe que não, olhe que não.
Cumprimentos para si