O processo de privatização da TAP e o memorando de entendimento com a troika


Em Macau, o bilinguismo resulta muitas vezes em intermináveis discussões acerca do significado de determinadas expressões, de determinados termos.
Uma fórmula que chegou agora à política portuguesa com a discussão a centrar-se no processo de privatização da TAP e no que estava previsto a esse propósito no memorando de entendimento com a troika, assinado em 17 de Maio de 2011.
Estaria prevista a privatização total, como defende o Governo, ou apenas parcial, como entendem António Costa e o PS?
Na versão original, em língua inglesa, estava prevista a alienação da empresa, não se prevendo um processo de privatização parcial ("However, we are committed to go even further, by pursuing a rapid full divestment of public sector shares in EDP and REN, and are hopeful that market conditions will permit sale of these two companies, as well as of TAP, by the end of the 2011.")
A tradução oficial portuguesa é em tudo similar - "O Governo compromete-se a ir ainda mais longe, prosseguindo uma alienação acelerada da totalidade das acções na EDP e na REN, e tem a expectativa que as condições do mercado venham a permitir a venda destas duas empresas, bem como da TAP, até ao final de 2011."
O próprio memorando já previa que, em caso de divergência entre as duas versões, prevalecia a versão inglesa - "o idioma da versão original e oficial do Memorando em referência é o inglês. A presente versão em português corresponde a uma tradução do documento original e é da exclusiva responsabilidade do Governo português. Em caso de eventual divergência entre a versão inglesa e a portuguesa, prevalece a versão inglesa."
Sem margem para dúvidas, se a questão se cingisse a uma  pura divergência de idiomas.
O problema no entanto vai bem para além disso.
O PS, na voz de António Costa, coloca o acento tónico no facto de se prever um encaixe de 5,5 mil milhões de euros com o programa, e apenas com alienação parcial das empresas de maior dimensão ("O plano tem como objectivo uma antecipação de receitas de cerca de 5,5 mil milhões de euros até ao final do programa, apenas com alienação parcial prevista para todas as empresas de maior dimensão.").
Estando esse montante já atingido, e prevendo-se que apenas se procederia à alienação parcial das empresas de maior dimensão, a TAP estaria enquadrada neste pressuposto e a sua alienação total não seria necessária.
O problema é que, logo a seguir a esta, vem uma outra previsão já aqui citada - o Governo compromete-se a proceder à venda da EDP, REN e TAP.
Goste-se ou não, concorde-se ou não, foi o que ficou acordado.
E os acordos devem ser cumpridos.
Ou, alternativa que é sempre possível, mas nem sempre viável, renegociados.
E António Costa também sabe isso muito bem.

Comentários

  1. O pecado capital e que eu não perdoo de maneira nenhuma a Passos ( menos ainda a quem votou nele, porque nisso não enganou) é ele ter ido além das já de si pesadas exigências da Troika!!

    Porque, no fim, o que a criatura pretende e está conseguindo é destruir o país!!! E só tem que negociar a divida. Pagar o que se deve é ponto assente mas não matando as pessoas nem condenando-as a uma vida miserável ou ao exílio.

    Tudo de bom

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    1. Renegociar, está bem, São.
      Se a outra parte aceitar, São.
      Mas não se pode atirar para trás das costas o que foi negociado.
      Nem dizer que não é bem assim.
      Demagogia, venha donde vier, não entra comigo.

      Percebo o cenário de luta política.
      Faz parte da vida.
      Mas é preciso não enganar as pessoas.

      Tudo de bom

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    2. Não aprovo enganar as pessoas e negociar implica duas partes, sim.

      Agora, Passos simplesmente segue uma determinada linha ideológica pelo que não tenta nada que possa aliviar a situação face aos credores e , para cúmulo, mente!

      Como acontece , e não só, agora com a TAP. Aliás, se o ajustamento foi um êxito e se está tudo tão bem que até dá para baixar pela segunda vez o IRC - mas não o IRS - para quê esta obsessão de vender a TAP, à pressa ainda por cima ?

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    3. Era isso que eu gostava que António Costa dissesse, São.
      Não há necessidade de vender e vamos renegociar.
      Dizer que não estava prevista a venda é que não está correcto.

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    4. Já somos dois a gostar que António Costa clarificasse posições , Pedro...

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    5. Acho que seremos muito mais que dois, São

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  2. Acho que não há duvidas que no memorando há um compromisso de venda da TAP... Porque é que o António Costa não assume isso e propõe a renegociação?
    Continuamos com a imagem que os politicos tentam sempre atirar areia para os olhos do povo (independentemente do partido)

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    1. António Costa não está a ir por bom caminho, Su.
      Se fosse conselheiro dele o que lhe aconselharia, até para fazer o contraste e aparecer como verdadeira alternativa, era que falasse muito franca e directamente aos portugueses.
      Neste caso, como noutras áreas, assumir que quer renegociar o acordo que existe.
      Tão simples como isso.

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  3. Parece-me que AC pegou mal no problema. É perfeitamente legítimo renegociar os termos do acordo se não que papel tem Portugal? O objectivo de receita foi atingido, porque carga de água o mandamento "passoscoelhista" de ir além..." há de ser cumprido? A não ser que a ideia que passa pela cabeça da maioria do povo português sobre a subserviência do poder aos grandes interesses económicos seja para valer. E, pelos vistos não há pinga de vergonha...

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    1. Era isso que devia ter sido dito, Agostinho.
      Queremos renegociar, queremos aliviar a canga.
      Se isso não se viesse a verificar o odioso ficava com quem eventualmente se negasse a renegociar.
      O que acredito que até não aconteceria no presente e depois de tudo o que já foi liquidado.

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  4. Pedro,

    só lhe digo uma coisa, abençoada hora em que resolvi voar noutra companhia senão estava fo#$$o, isso mesmo, f#$ido, pois a greve começa precisamente no dia em que vamos para Paris.

    Infelizmente, nos últimos anos, só quando não tenho alternativa é que voo na TAP, caso contrário, a escolhida é outra.

    Aquele abraço, Pedro.

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    1. Respeito o direito à greve, abomino as situações em que há um óbvio desrespeito pelas pessoas, pelos utentes, Ricardo.
      E é esse o caso presente.
      Aquele abraço

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  5. Nós no rural, somossempre os mais prejudicados com a greve dos meninos da TAP. Eu, não sou frequentadora da linha, por mim até podiam encostar os aioes tods que nao faz falta desde que haja low cast. A TAP tem brincado com os madeirenses como se fossemos uns badalhocos, sempre foi assim desde os primordios da navegação para cá. Mas está a mudar,'lentamente.
    Eu, se fosse proprietario da TAP, encostava os avioes e ....que fosses para casa.
    Kis:=)

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    1. AvoGi,
      Remeto para a resposta anterior deixada a um ilustre conterrâneo seu.
      Beijinhos

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  6. ~ ~ Tristemente triste...

    ~ ~ ~ Beijnhos. ~ ~ ~

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  7. Olá,
    desejo que esses acontecimentos venha para trazer coisas boas a população. Mas sempre as pessoas que mais precisam são prejudicadas.
    Mas vamos peleando, desejo um ótimo Natal pra ti e tua família e um Ano Novo cheio de coisas boas.

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    1. A privatização, não sei, Anajá.
      A greve, não traz nada de bom.
      Votos de um Santo Natal para si e família

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  8. Sendo verdade que os sindicatos estão a actuar de forma quase infame (época natalícia) não é menos verdade que o governo arrastou a questão até esta altura. Esperavem o quê?
    Um abraço.

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    1. Não estou a defender o governo (estou-me nas tintas para eles!)
      O que me aborrece é que, ao contrário do que disse o primeiro-ministro, quem se lixa sempre é o mexilhão, António.

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  9. OI PEDRO
    Deixe o Natal invadir a sua alma, entre os perfumes da cozinha que vai se encher de comidas deliciosas, no cheiro da roupa nova que todos vão exibir, abrace-se à sua família e façam alguns minutos de silêncio, que será como uma oração do coração, que vai subir aos céus, e retornar com um presente eterno, duradouro: o suave perfume de Jesus, perfume de paz, amor, harmonia e a eterna esperança de que um dia todos os dias serão como os dias de Natal. Feliz Natal para você e para os seus!
    Ana


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  10. Quando é que se pode acreditar em políticos!!! Jamais, é triste.

    Beijinho Pedro

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    1. São muitos a borra a pintura, Adélia.
      Não ajuda nada à respectiva credibilidade.

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    2. Nem lhe mandava um beijinho nem nada :))
      Beijinhos

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  11. O problema não está propriamente na privatização, Pedro. O PS não se opõe a ela. As questões são outras: privatizar através de venda em bolsa e alienar apenas 49% do capital. Essas são as principais discordâncias.

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    1. Mas, para que assim seja, lá terá que ser renegociado o acordo com a bendita troika, Carlos.
      Porque é que não se assume isso??

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