Os croissants mornos do Papa (Aura Miguel)
É assim este Papa: terno e atencioso com todos. E tão depressa leva bolos quentes ao seu vizinho Ratzinger, como não hesita em pegar no telefone e dar os parabéns aos seus amigos.
A sala de refeições da Casa Santa Marta, outrora com pouco movimento, agora está sempre cheia. As mesas raramente têm lugares livres desde que Francisco optou por viver na famosa casa de hóspedes do Vaticano. É que entre os comensais está o próprio Papa. Ao lado do refeitório principal há uma sala reservada para convidados especiais, mas, na maioria dos casos, Francisco prefere tomar as refeições na sala grande, junto dos outros hóspedes.
A mesa do Papa é sempre a mesma e está colocada a um canto da sala, mas já aconteceu o sucessor de Pedro sentar-se de surpresa num lugar vago de outras mesas, conversando de surpresa e animadamente com os outros comensais. O serviço, tipicamente italiano, inclui primeiro e segundo pratos, mas – tal como os outros hóspedes - Francisco levanta-se para ir ao "buffet" servir-se de salada e outros acompanhamentos e, sempre que passa entre as mesas, não resiste e mete conversa com quem está sentado.
Quem vive na Casa Santa Marta garante que o clima é muito cordial e bem-disposto. Mas os homens da segurança têm agora mais dores de cabeça, porque a rotina não encaixa no "estilo Bergoglio" e, por isso, nunca se sabe o que pode acontecer.
Há dias, durante o pequeno-almoço, o Papa não estava na sua mesa habitual, nem em qualquer outro lado. Começou a gerar-se uma grande agitação, com vários homens de fato escuro e agentes de segurança enervados a passar revista a toda a casa. Onde estava o Papa? Por onde se teria metido? Toda a gente foi interrogada, a casa passada a pente fino, mas nada! Depois de uns valentes minutos de angústia, descobriram-no finalmente. Bergoglio caminhava pelo jardim, com passada decidida e um saco de papel na mão. Quando finalmente os homens da segurança lhe falaram do susto devido à sua ausência inesperada, Francisco riu-se e explicou que ia ao mosteiro Mater Ecclesia, onde vive Bento XVI, levar-lhe uns croissants mornos, "acabadinhos de fazer, como ele gosta".
É assim este Papa: terno e atencioso com todos. E tão depressa leva bolos quentes ao seu vizinho Ratzinger, como não hesita em pegar no telefone e dar os parabéns aos seus amigos e, se não atendem, deixa afectuosos recados no voicemail do telemóvel. Dedica mais horas a saudar, abraçar e beijar pessoas de todas as idades do que a falar e a ler discursos. Preocupa-se sobretudo com o lado humano e concreto das pessoas com quem se cruza, ao ponto de ter pedido à mãe de um bebé acabado de beijar que lhe pusesse um chapéu porque tinha a cabeça muito quente, ou ainda, no caso de um outro pequenino que chorava com fome, devolveu-o à mãe para ela amamentar o bebé, mesmo ali, na Praça de São Pedro! E como é um Papa "todo-o-terreno", tão preocupado com o quotidiano da vida terrena quanto o é com a vida eterna e salvação de cada um, a misericórdia é talvez a sua palavra preferida, porque remete para a esperança e alegria.
Se pudesse, Francisco gostaria de abraçar todos, "com amor e ternura como fazem as mães" – tal como explicou numa entrevista, arqueando os braços como se segurasse um bebé – porque "é assim que deve ser a Igreja: dar carinho, cuidar e abraçar". E não é este também o melhor retrato de Francisco?
A Igreja bem que precisava de homens simples como este e que Deus o proteja.
ResponderEliminarGosto muito das palavras de Aura Miguel que conheço desde garota e sobretudo do seu sorriso e simpatia.
Fatyly,
EliminarA simplicidade de Francisco é desarmante.
Uma pessoa realmente extraordinária que a Aura Miguel aqui descreve tão bem.
Não há como não simpatizar com este Papa nem como não admirá-lo.
ResponderEliminarAcho que só os seguranças é que já andam com a cabeça à roda, luisa :))
EliminarO Mundo, neste tempo tão atribulado, precisava de Francisco.
Quando o vi na TV tive o sentimento: este papa é um homem!
ResponderEliminarÉ isso, Agostinho - Francisco é profundamente humano.
EliminarNão há ali nada artificial, plástico.
~ ~ ~ Uma ternura! ~ ~ ~
ResponderEliminar~ Excelente fim de tarde.
~ ~ ~ - Beijinhos.- ~ ~ ~
É uma descrição perfeita de Francisco, Majo.
EliminarVotos de um excelente dia para Portugal
Beijinhos
eheheh ... Este "tipo" maravilhoso "não existe" ! ... não é deste "mundo cão" ! rsrs ... Ainda bem que a Igreja teve esta sorte de encontrar um ser privilegiado que, quem sabe (?), poderá vir a ser o seu "Salvador" numa altura em que todos a viam em completo desmoronamento ! :)))
ResponderEliminarAbraço ! :))
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Não sei se Francisco vai ser o salvador da Igreja, Rui.
EliminarMas sei que já conseguiu que se olhasse para a Igreja de outra maneira, de uma maneira mais terrena, mais humana.
Um ser humano fascinante!!
Grande abraço!!
Francisco , como João Paulo I, são seres humanos excepcionais!
ResponderEliminarA Aura Miguel, que me desculpe quem a aprecia, acho-a cínica e muito pouco aberta e nem sei se estará assim tão rendida à maneira de actuar do actual Papa.
Tudo de bom.
É impossível não amar, Francisco, São
EliminarUm ser humano de uma dimensão verdadeiramente invulgar.
A direita não gosta dos exemplos do Papa Francisco, Pedro
ResponderEliminarEu gosto muito, Carlos.
EliminarUm ser humano extraordinário!