Oitenta por cento dos residentes habitam casa própria?


Causaram grande brado, e os ecos continuam, as declarações proferidas pelo Chefe do Executivo ontem na Assembleia Legislativa, afirmando peremptoriamente que estava em posse de um estudo que confirma que oitenta por cento dos residentes de Macau habitam casa própria.
Não conhecendo em pormenor o estudo, porque o Chefe do Executivo deixou a tarefa de divulgar o mesmo ao Secretário para as Obras Públicas e Transportes, não creio que estes números sejam assim tão descabidos.
O problema, estou em crer, está na maneira como a questão é colocada.
Ou seja, o problema está no ponto de partida, não nas conclusões à chegada.
Esmiuçando, se for colocada a questão apenas nesta dicotomia simplista - casa própria vs casa arrendada - estes números não serão assim tão surpreendentes.
O problema é que a realidade é bem mais complexa que o pensamento maniqueísta com que somos confrontados.
Aplicar um raciocínio computorizado, uma linguagem binária, a uma realidade tão diversa e complexa, pode conduzir a cenários que se afiguram de todo irreais.
Este estudo deixa de lado, desde logo, uma variável de suprema importância para avaliar correctamente o panorama do mercado imobiliário em Macau - qual a percentagem de residentes, especialmente jovens, que ainda habitam na casa dos seus pais porque, pura e simplesmente, não têm possibilidade de aceder ao mercado de arrendamento, muito menos ao da aquisição, de habitação?
Quando se abandonar o raciocínio simplista, e se introduzirem outras variáveis, estes números por certo sofrerão alterações substanciais.
No quadro dicotómico em que é colocada a questão, os números apresentados até não são tão surpreendentes.
São é falsos.
Mas a falsidade vem do ponto de partida e, necessariamente, estende-se até à chegada.

Comentários

  1. Estimado Amigo Pedro Coimbra,
    Eu acreditl que os dados estão correctos.
    Toods os membros da minha família habitam em moradia própria bem muitas milhartes de pessoas que eu conheço e que moravam nas zonas do Fai Chi Kei e La Mau.
    No entanto os estudos podem bem estar troncados.
    Já não contando com milhares de habitantes que moram nos terraços, em casas ilegalmente consrtruídas.
    Abraço amigo

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    1. Amigo Cambeta,
      Passando do geral ao particular, no Gabinete onde trabalho só uma/duas pessoas arrendam.
      Num universo de mais de vinte.
      Em contrapartida, há vários que continuam a viver com os pais.
      E que contam, para este estudo, como proprietários.
      A velha rábula das estatísticas - um frango para nós os dois; eu não como carne de aves; o meu Amigo papa o frango todo; mas, na estatística, comemos meio frango cada um.
      Aquele abraço!!

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  2. Bom dia Pedro
    Em tempos os senhores da Troika também se referiram aos portugueses dizendo que a maioria tinha casa própria.
    Falo por mim e sei de muitos na mesma situação.
    Ter uma casa era um sonho e por isso reservámos todas as nossas economias para o conseguir. Deixámos de gozar férias e de ter os prazeres da boa mesa e da boa cama. Trabalhámos.
    Houve ainda em alguns casos ajudas do banco, mas estas também foram pagas com sacrifícios. O mérito foi apenas dos que tiveram um sonho e lutaram para o conseguir.
    Parece-me que agora estes governantes ao quererem fazer mudanças cegas estão apenas a favorecer aqueles que nunca quiseram fazer nada nem se privaram de nada - viveram a vida.
    AI..ai... A cigarra e a formiga...andam por aqui na cabeça de muita gente...

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    1. luis,
      A casa que temos aí em Portugal, como no caso do luis, foi um sonho dos meus pais.
      Que custou muito a concretizar, que levou muito tempo a concretizar.
      O terreno onde está edificada, foi comprado há mais de trinta anos por 500 contos (na altura era muito dinheiro!!).
      Só passados muitos anos começámos a fazer a casa.
      Que, depois, foi sendo completada (jardins, anexos, muros, gradeamentos....) ao longo dos anos.

      Aqui, comprei um apartamento quando o imobiliário estava em baixa, na época da epidemia de pneumonia atípica.
      Eu e a minha mulher tínhamos andado a economizar exactamente para essa finalidade.
      Quando os preços do imobiliário começaram a subir desregradamente, e já com a segunda filha nascida, comprámos um apartamento bastante maior.
      Que acabou por ser pago com a venda do primeiro.

      Foi preciso estar atento, saber economizar, ter sorte.

      Hoje em dia, apesar do que o Chefe do Executivo diz, o acesso a uma habitação própria, especialmente para os mais jovens, é quase impossível.
      E é aí que estes dados são completamente falsos.
      Porque esquecem esta grande fatia de pessoas, jovens e menos jovens, que continuam a viver com os pais.

      Grande abraço!!

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  3. Do que ninguém, ainda, falou foi dos "não residentes", isto é, aqueles que residem em Macau há muito mais anos que muito residente permanente mas que, para efeitos de estatísticas, não contam e são tratados como se não existissem. Apesar de "não residentes", também gastam os seus ordenados em Macau, ordenados esses que, em grande parte, vão para as rendas de casa. Entre eles, os "não residentes", temos o/as empregado/as doméstico/as, que tomam conta dos nossos filhos, que nos arrumam a casa, dos quais dependemos para podermos exercer as nossas profissões e que são explorados pelos senhorios, enganados pelas agências imobiliárias, que a toda e qualquer hora vêm a sua privacidade invadida pelos donos das casas que habitam. Será que esses também fazem parte das estatísticas? Duvido! E quando esses não tiverem aonde viver porque não podem suportar os custos das rendas de casa, o que acontece a todos nós,(aonde, certamente se incluem alguma das ilustres cabeças pensantes do burgo), privilegiados, que pelo facto de os mesmos existirem temos as nossas vidas tão facilitadas?
    Não há, na realidade, c....... que aguente!

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    1. Anónimo,
      De certeza essas pessoas não estão incluídas nestes números.
      O Chefe do Executivo falou em residentes.
      Quer referir-se só aos residentes permanentes?
      Creio que sim.
      E aí tem mais uma variável que não é ponderada nesta estatística, neste estudo em modo binário.
      Se começar a entrar com as diversas variáveis, estes números alteram-se muito.
      Como o Chefe do Executivo os apresenta - residentes permanentes e arrendamento vs propriedade - até acredito que sejam correctos.
      Insisto - são é simplistas, maniqueístas e, em última análise, falsos.

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  4. Pedro, isto das estatísticas tem muito que se lhe diga, lembra-me o caso clássico em que vamos a um restaurante e pedimos um frango para os dois, eu não como fico a olhar porque não tenho apetite, o Pedro come o frango todo, mas, na estatística, comemos meio frango cada um.

    Caríssimo, desejo-lhe um excelente fim de semana para si e suas princesas, amanhã estarei ausente pelas razões que, ontem, lhe referi por mensagem privada!

    Abraço, Pedro!

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    1. Nem mais, Ricardo.
      Exactamente o que tinha comentado com o nosso amigo Cambeta.

      Uma excelente fim de semana, apesar dos pesares, e voltamos a conversar na segunda-feira.

      Aquele abraço!!

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  5. As estatísticas são muito interessantes: se o Pedro tiver cem mil euros e eu nenhum, ficamos , em média, com cinquenta cada um.

    E é necessário cuidado com o modo gráfico como são apresentadas. ainda por cima!

    Bom dia, Pedro

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    1. Algo de muito semelhante se passa com estas afirmações do Chefe do Executivo, São
      Temos que as saber descodificar.
      Tenha um excelente dia!

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    2. O meu computador está em delírio, Pedro. Consequentemente, se eu não der sinal de vida , é essa a razão.

      Desde já e por causa disso, desejo-lhe e às suas três meninas bom final de semana,rrs

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  6. Estas estatísticas nunca foram de fiar porque tu e o Ricardo falam desse exemplo "do frango" e está tudo dito.

    Quando cheguei a Portugal em principios de 79 onde é que haviam casas para arrendar? nas grandes cidades e a peso de ouro. Consegui alugar esta por 3.500$00, na época muitooooo dinheiro e cá continuo pagando actualmente perto de 100€ (actualizações feitas a partir de 2005 se não me falha a memória). Até agora não falaram no actual aumento, a ver vamos.
    Comprar casa era a única via para que os filhos fizessem-se à vida como lei natural da vida. Na década de 80 a 86 foi o primeiro fluxo de devoluções de casas, carros etc. à banca e emigração em massa, devido à intervenção do FMI por duas vezes como deves saber.
    Actualmente é o mesmo e ao longo de décadas quem nos governou e governa, aviaram-se bem ao seu estilo, casas + casas etc e tal e a culpa é sempre de todos que compraram uma casa/apartamento, uma vida certinha sem grandes floreados...mas tiraram-lhes o tapete e ao entregarem as casas à banca ainda ficam reféns pois afinal uma hipoteca deixou de ter "a credibilidade" de outrora e transformou-se num fato à justa medida dos predadores, pois claro.
    Gastámos de mais...dizem eles mas eu grito QUE FORAM TODOS ELES E FAMÍLIAS QUE GASTARAM DEMAIS O QUE ERA TÃO NOSSO E JÁ DESTRUIRAM E CONTINUAM A DESTRUIR O QUE GANHÁMOS/EVOLUIMOS NESTAS DÉCADAS
    ...numa nova ditadura de direita!!!!

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    1. Fatyly,
      Entristece-me ter que reconhecer que temos andado a ser (des) governados ao longo de muitos anos.
      E, no final, ainda é o Zé Povinho que fica com a culpa e as contas para pagar.
      Infame!

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  7. Os estudos e as estatísticas, cada um os interpreta à sua maneira.

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    1. Neste caso nem é uma questão de interpretação, Carlos.
      É antes uma questão de como é que são colocadas as perguntas.
      Quantos frangos? Um.
      Quantas pessoas? Duas
      Então comeram metade cada um.
      É este o raciocínio.
      Mais simplista e mentiroso que isto....

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  8. Pedro,
    É uma pena que assim seja, que os dados não estejam correctos. Parece que os povos são todos iguais no que diz respeito à política, atendendo às circunstâncias chinesas.
    Não sei se o farol que está junto ao campo de ténis, na Figueira da Foz, é conhecido pelo farol da Guia.
    Espero pelo seu esclarecimento.
    Beijinho. :))

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    1. O Farol da Guia, monumento classificado pela UNESCO, é em Macau, ana.
      Quando vejo um Farol, é sempre do Farol da Guia, o primeiro no Oriente, que me lembro.
      Era isso que queria dizer.
      Beijinhos

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  9. Depois vou voltar com mais tempo, mas entretanto fui até á página da wook.pt e hoje anunciam portes grátis para todo o mundo...

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    1. É treta, Gábi.
      Quando percebem que Macau é LONGE, começam a calcular quase por quilómetro :))

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  10. As estatísticas valem o que valem e muitas vezes não servem para nada já que raramente são verdadeiras, para que fossem era preciso fazer o "trabalho" bem feito e desde o princípio, mas isso dá muito trabalho...

    Beijinho :)

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    1. maria,
      Exactamente!
      Se os dados a serem tratados são reais, verdadeiros, os resultados terão alguma validade.
      Quando se começa por trabalhar sobre dados falsos.....

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