Papa Francisco - o Obama da Igreja?
Publico hoje um artigo e uma entrevista que têm como protagonista Leonardo Boff, o teólogo que foi um dos fundadores da Teologia da Libertação, o mesmo que Joseph Ratzinger, ao tempo liderando a Congregação da Doutrina da Fé, perseguiu e condenou publicamente.
Ambas são um pretexto para reflectir um pouco acerca do que tenho visto e ouvido acerca do Papa Francisco.
O seu carisma, a sua simpatia, a sua simplicidade, inegáveis, estão a ter nas pessoas o efeito que teve a eleição de Obama como presidente dos Estados Unidos.
Como Obama, um negro com um nome estranho eleito presidente dos Estados Unidos, Francisco, um Papa vindo da América do Sul, a romper com a tradição dos Papas europeus, representa em simultâneo um choque e uma nova esperança.
Um choque, nos dois casos, pela novidade, pela diferença.
Uma nova esperança, porque o Mundo necessita de esperança, necessita de um novo paradigma nas suas lideranças.
Olho para ambos e as reacções que provocam soam imenso a wishful thinking.
No caso de Obama, a justificar até a atribuição do Nobel da Paz.
No caso de Francisco, a levar muitas pessoas a pensar, injustificadamente, que o seu papado representará uma revolução no interior da Igreja.
Francisco, quando escolhe o seu nome, quando recusa os símbolos de uma "igreja dos imperadores" para procurar a prática de uma "igreja dos pobres", está a ser sincero.
Mas só poderá impor essa "igreja dos pobres" a si próprio, não à Igreja, à instituição.
Poderá representar uma Igreja mais modesta, menos opulenta, mas não a poderá impôr doravante.
E essa é só uma das dimensões da profunda crise que a Igreja vive na actualidade.
Nas restantes - crise de vocações, posições da Igreja em temas como o aborto, a posição da mulher na sociedade e na Igreja, abertura da Igreja à sociedade, ao Mundo, reforma do Vaticano e do edifício de poder que o rodeia - Francisco é profundamente conservador.
Francisco e Obama, cada um na sua área, cada um da sua forma, são símbolos da ânsia que o Mundo sente, daquilo que há muito necessitava - simplicidade, discurso e práticas diferentes do habitual, um sorriso honesto, franco, humano.
Apenas isso.
E já é muito.
Pedir-lhes mais é apenas, repito, wishful thinking.
«Se alguém quiser ser grande, seja servidor; quem quiser ser o primeiro, seja servo de todos; pois o Filho do homem não veio para ser servido mas para servir»(Mc 10-43-45)
ResponderEliminarO Papa Francisco veio para ser grande, Pedro!
Aquele abraço
Não tenho dúvidas que o papado de Francisco vai ser marcante, Ricardo.
EliminarMas há uma esperança infundada à volta dele.
Não vai haver revoluções na Igreja.
E, em alguns temas (aborto, sacerdócio, papel da mulher) ele é muito conservador e muito dogmático.
Não lhe vamos pedir o que ele não pode, nem quer, dar.
Aquele abraço!
Esperemos que tudo corra como desejamos, mas tenho algumas dúvidas.
ResponderEliminarObama não fez tudo quanto se esperava e creio que com Francisco se passará igual.
Se me enganar ficarei contente, mas não me agrada nada a sua posição machista quanto à Mulher!
Bom dia, Pedro.
EliminarSão,
Por isso mesmo comparo Francisco a Obama
Está a ser pedido mais do que ele pode e que dar.
A posição relativamente à Mulher é um sinal de pura ortodoxia
E, com este cenário, as desilusões são mais frequentes.
Barack Obama não fez tudo quanto se esperava, diz a São.
ResponderEliminarSerá que pensou na razão, ou razões que tal determinaram?
O Papa Francisco promete e, se o 'sistema' permitir, 'temos homem'.
Feliz, a comparação, devidamente colocadas as diferentes situações.
Abraço para Oriente :)
EliminarÉ isso mesmo, António.
Francisco e Obama fazem o que lhes é possível fazer, nao o quereriam fazer.
Ainda assim, ainda que limitados, representam algo de novo, algo que o nosso Mundo tanto necessita neste momento.
Hoje, enquanto via o ouvia VA Pensiero, com Ricardo Mutti como maestro e o Teatro de Roma, o público, de pé, a acompanhar, pensava naquelas palavras:
O mia patria si belle e perduta e no que está a acontecer no nosso país e na Europa.
E confesso que me emocionei.
Aquele abraço!
O Papa Francisco transmite algo de inovador, mas marcar uma diferença muito significativa será algo difícil, até porque ainda está bem na memória um Papa que marcou muito muito! O Papa João Paulo II.
ResponderEliminarNão concordo muito com a comparação que é feita com o Obama, até porque em termos de opinião em relação a algumas coisas eles estão bem desfasados.
Não é que a "concorrência" do Obama fosse flor que se cheirasse, mas como o Pedro sabe, eu não gosto do Obama, acho que ele é um falso simples e aquilo é só fachada e revelou bem no desdém com que se referiu a Portugal e a Grécia, quando afinal a grande América também não está nada bem. Eu sei que pode ter sido um lapso, mas em pessoas que andam a ser constantemente orientadas por assessores de tudo e mais alguma coisa, talvez esse pequeno lapso tenha sido afinal o revelar daquilo que ele é realmente.
Embora o Papa não deixe de ser um chefe de estado, à política o que é da política e a Deus o que é de Deus.
:)* Opiniões à parte, amigos na mesma :)
Poppy,
EliminarNão se pode comparar o incomparável.
E não é isso que pretendo.
O que é compárável, penso eu, entre Francisco e Obama, é a nova esperança que traduzem.
Que, em bom rigor, só se funda numa maneira de ser muito mais humana, muito mais modesta.
E, aí sim estamos em desacordo, Obama é um tipo muito modesto, um tipo que quer cortar o cabalo no mesmo barbeiro que lhe corta cabelo há anos, que quer dar una passeios a pé, que se sente bem no meio da pessoas.
Como Francisco.
Num e noutro caso, de maneiras diferentes, não os deixam ser assim.
Totalmente de acordo, Pedro
ResponderEliminarEsta esperança em algo de diferente é sintomática do descontentamento com a actual situação e com as actuais lideranças, Carlos.
EliminarUm tempo novo, com caras novas, com novas ideias e atitudes.
É isso que o Mundo pretende.
E, por isso mesmo, agarra-se a qualquer manifestação de diferença com essa esperança.
Existem coisas que ambos não fazem porque lhes cortam as pernas e sem elas não conseguem andar!
ResponderEliminarbeijinho e uma flor
Excatamente, Adélia.
EliminarAcredito que Francisco e Obama seja genuínos na sua simplicidade, na sua bonomia, no desprendimento da vertente materialista da vida.
Mas, quem está à volta deles, não o é.
E, quando é assim....
Beijinho
Eu creio que ainda não passou tempo suficiente para podermos avaliar bem o Papa Francisco ! É certo que estes primeiros tempos dão boas indicações e o benefício dessa esperança, mas vamos a ver se se manterá assim nos próximos anos !
ResponderEliminarQuanto a Obama, já tudo comprovado e sou um seu grande admirador !
Abraço ! :))
.
Acredito que ele queira uma igreja dos pobres e para os pobres, Rui.
EliminarConseguirá?
Não sei.
Como Obama não está a conseguir muita coisa que queria.
Seja como for, duas personalidades marcantes e que o Mundo bem necessita.
Aquele abraço
Gostei das tuas palavras, Pedro.
ResponderEliminarBem assim mesmo.
Boa Semana!!!!
Pats,
EliminarSerão as duas figuras que mais esperança transmitem actualmente.
Mas às quais estão a ser pedidos feitos que eles sozinhos não podem assegurar.
Boa semana!!