Oito ilhotas, recursos naturais e o peso da História


O agudizar da tensão diplomática, acompanhada de tímidas demonstrações de força a nível militar, em torno das Ilhas Diaoyu (para os chineses) / Senkaku (para os japoneses) obriga-nos a tentar perceber o que está realmente em causa no conflito em volta deste arquipélago de ilhotas no meio do imenso Oceano.
A tese que se tem ouvido insistentemente é a que aponta para a riqueza de recursos naturais supostamente existentes no arquipélago (petróleo, gás natural, pescado) como fundamento para a disputa de soberania em volta do mesmo.
Mais uma vez, a História ensina-nos que este não será o motivo principal da presente disputa.
São ainda as feridas de um passado recente, que tarda em ser ultrapassado, que realmente explicam esta tensão.
O governo japonês fundamenta a sua suposta soberania sobre o arquipélago com uma hipotética cedência da China, na sequência da derrota na guerra sino-japonesa, em 1895.
A China apresenta uma outra visão desta mesma questão.
O governo chinês afirma que o Japão tomou ilegalmente o território porque forçou a dinastia Qing a assinar o Tratado de Shimonoseki e, como tal, não reconhece a soberania japonesa sobre o arquipélago.
Já durante a II Guerra Mundial são os Estados Unidos a administrar as ilhas, as quais devolvem ao Japão após o final do conflito.
E é precisamente nesta época (Proclamação de Potsdam, de 1945) que os chineses afirmam que recuperaram a soberania das ilhas.
Tese contestada pelos japoneses que afirmam que as mesmas não estavam incluídas no Tratado de Paz de São Francisco (1951).
Sem que se tivesse chegado a qualquer entendimento, em 1971 a China e Taiwan declaram soberania sobre as ilhas.
As feridas da História, que nunca estiveram curadas, reabrem-se ciclicamente com uma qualquer movimentação das partes desavindas na zona.
Com a novidade de, no momento presente, os Estados Unidos terem também mostrado as garras no sentido de afirmarem que estão atentos e tudo farão para evitar um conflito em maior escala na área e que poderia ter ramificações catastróficas.
É longo e sangrento o rol de disputas territoriais no Sudeste Asiático.
E o conflito nas ilhotas Diaoyu/Senkaku deve ser entendido muito mais à luz destas disputas, e de uma importante procura de face, do que da busca por hipotéticos recursos naturais nas ilhotas em causa.
Esse é apenas o jogo de sombras que esconde uma realidade muito mais profunda e complexa.

Comentários

  1. Estimado Amigo Pedro Coimbra,
    As ilhas em disputa são pertebça a 100% da China historicamente, até o japão era uma ilha chinesa. O caso está ficando feio e os ianques por certo irão arranjar um pretesto de defenderem o Japão para entra em conflito com a China e se assim for uma nova guerra mundia está preste a surgir. oxalá esteja enganado.
    Abraço amigo

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    1. Não acredito, Amigo Cambeta.
      Estas disputas territoriais na Ásia já fizeram derramar muito sangue.
      Não acredito que, apesar dos conflitos diplomáticos cíclicos, e destas demonstrações de força, se chegue a algum conflito armado.
      A presença americana na zona tem exactamente esse intuito - juizinho meninos!!
      Aquele abraço!

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  2. Nunca ouvi falar destas ilhas mas quando existem riquezas naturais logo outros se armam em donos...esquecem até dos povos que sempre lá viveram...

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    1. As riquezas naturais que, hipoteticamente, as ilhas possuem, são o menor dos problemas, luís.
      O mais importante são as questões legadas pela História e que ainda não foram resolvidas.

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  3. Agora percebo a notícia que vi ontem : aviões dos EUA sobrevoaram a nova zona de defesa territorial da China!

    Mas porque motivo os estado-unidenses acham que são o polícia do planeta ( e , muitas vezes, até o mau polícia).?

    Adorei o espectacular vídeo de promoção ao Museu!

    Bom dia, Pedro

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  4. Repare que os americanos já estavam metidos neste imbróglio há muitos anos, São.
    Depois, há que não esquecer que o Japão é uma parceiro estratégico dos americanos.
    Mais do que a China (ainda)

    A promoção ao museu é extraordinária!

    Um bom dia para si também, São

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  5. Os orientais têm uma forma peculiar de VER o resto do mundo... :-)

    Abraço

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    1. Aqui há disputas muito antigas, Maria do Sol.
      Que nunca ficaram resolvidas.
      Abraço

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  6. este, constante, medir de forças entre potencias revela o pior da humanidade

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    1. Tétisq,
      Mas é só mesmo disso que se trata - um medir de forças.
      Agarrem-me senão....:)))

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  7. Às vezes temos que concluir que os homens gostam da guerra. Ou pelo menos os que mandam no mundo...

    Beijocas!

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    1. Não é o caso, Teté,
      A minha teses de mestrado obrigou-me, no bom sentido, a estudar a fundo a integração na ASEAN.
      E a integração política depara-se com estes conflitos territoriais como um dos maiores obstáculos.
      Legados da História.
      Beijocas!

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  8. Os americanos sempre em cima!

    beijinho e uma flor

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    1. Adélia,
      Neste caso até é bom que se mostrem para evitarem quaisquer tentações de parte a parte.
      Beijinho

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