Ler as sondagens

 

Gosto de ler as sondagens.

Ler no sentido de as interpretar.

E interpreto os resultados das últimas sondagens conhecidas em Portugal com grande facilidade.

Desde logo salta à vista que a AD começa a mobilizar.

O efeito catalisador que se esperava conseguir com a coligação nem é muito, se pensarmos só em estrita aritmética, mas parece indicar o suficiente para garantir um ombro a ombro com o PS.

E isto apesar de à direita crescer exponencialmente o papão que todos combatem, o CHEGA.

E cresce porque os portugueses são facilmente atraídos por populismos, são xenófobos, racistas?

Só por ignorância ou má fé se poderá ir por esse caminho redutor.

Mais credível é a ideia que o CHEGA cada vez mais representa para uma grande fatia da população algo de diferente relativamente ao centrão.

Um centrão que, ainda assim, continua a ser o porto de abrigo da esmagadora maioria dos votantes.

Mas que começa a cansar e a soar a mais do mesmo para uma grande fatia do eleitorado.

O mesmo eleitorado que mostra algum receio de mudar, numa ambivalência a merecer estudo aturado.

Outro dado que parece muito claramente resultar destas sondagens é o progressivo definhar dos partidos mais à esquerda no espectro político.

PCP e Bloco de Esquerda começaram a desaparecer com a geringonça.

E parecem estar cada vez mais a caminho de uma morte anunciada.

O mesmo destino, à direita, para uma Iniciativa Liberal que nunca se percebeu muito bem ao que vinha.

Se o que se vai aventando nos mentideros da política tiver alguma correspondência com a realidade, chapelada para os estrategas socialistas que esvaziaram a ameaça à direita com a criação do CHEGA (a vingança da criação do PRD), e a ameaça à esquerda com a geringonça.

Confesso que estas sondagens me deixaram ainda mais receoso.

Sou só eu a ver ali um cenário de ingovernabilidade?