O ser e o dever ser no conflito de Gaza e António Guterres




Confesso algum enfado com o constante debate espúrio do ser e do dever ser acerca do conflito na Faixa de Gaza.
Interessa muito pouco neste momento questionar a razão do aparecimento do Hamas, a culpa da sua radicalização, o possível excesso de defesa de Israel.
Esse é um debate provavelmente eterno e tem fóruns muito específicos para ser levado a cabo.
Premente, a necessitar de solução imediata, é a situação das pessoas no terreno.
Há muita gente a morrer na Faixa de Gaza.
E a morrer não só porque as balas não reconhecem caras nem credos, mas porque estão privados do absoluto mínimo, do essencial.
Água potável, alimentação, medicamentos, assistência médica.
Esse é o drama que exige solução imediata.
Árabes ou judeus; muçulmanos ou cristãos; israelitas ou palestinianos; homens, mulheres,crianças, militares e civis; pessoas.
A pedir socorro.
E a serem abandonados enquanto se discute o ser e o dever ser.
O humanismo tem de gritar presente sobretudo nestes cenários de conflito.
Inteligência Artificial?
Tenho muito mais medo destes seres robotizados, destes humanóides, real life Terminators, desprovidos de sentimentos, de piedade, do que da chamada Inteligência Artificial.
A esse propósito, António Guterres fez-me sentir orgulho em ter um Secretário-Geral das Nações Unidas português.
Raramente vi António Guterres ser tão assertivo publicamente.
E fazê-lo assumindo verdadeiramente a função de líder da ONU, de líder do órgão disciplinador das relações internacionais como foi imaginado depois de duas guerras mundiais.
Guterres só afirmou o que devia ser óbvio aos olhos de todos os seres minimamente sensatos – o ataque do Hamas foi bárbaro; a reacção de Israel, sobretudo bloqueando a ajuda humanitária, não é o menos.
Dois actos gravemente violadores do Direito Internacional, no segundo caso também do Direito Humanitário, e o Secretário-Geral das Nações Unidas não devia condenar ambos com veemência?
Em que mundo vive quem critica António Guterres?

Comentários

  1. Teresa Palmira Hoffbauer

    Faço minhas as palavras do Miguel Sousa Tavares:

    „ Analisando aquilo que António Guterres disse no seu discurso perante o Conselho de Segurança da ONU acerca do conflito em Israel, podemos questionarmo-nos se, tal como já o havia feito no início do conflito na Ucrânia, a sua emotiva declaração não terá comprometido uma posição de intermediário, dele e da ONU, no conflito. Na Ucrânia, ainda conseguiu, depois de uma reacção negativa da Rússia, negociar com ela a saída de civis da Azovstal e o primeiro acordo de exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro. Agora, a avaliar pela reacção de Israel, tal estará definitivamente fora de questão. O que, se diplomaticamente poderá ter sido uma precipitação, não significa que não tenha razão no que disse. Essencialmente, Guterres disse três coisas: que o ataque de 7 de Outubro do Hamas foi uma barbaridade que nada pode justificar; mas que esse ataque também não pode justificar a “punição colectiva” de todo um povo, como a que Israel está a levar a cabo em Gaza; e que o 7 de Outubro não apareceu do “vácuo”, mas de uma “ocupação sufocante” de 56 anos, em que os palestinianos foram expulsos das suas terras, viram as suas casas destruídas e ficaram condenados a viver em guetos, cercados de muros e instalações militares. Tudo isto é rigorosamente verdade, tudo isto seria intolerável em qualquer lado do mundo e tudo isto é feito à revelia das decisões das Nações Unidas. Nenhum secretário-geral da ONU pode ignorá-lo e deixar de insistir para que aquilo que a ONU decide seja aplicado. Ou então não está lá a fazer nada.“

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    1. Na mouche!
      Farto de paninhos quentes.
      Ser bonzinho com bárbaros??
      Só quem é totó.

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    1. Muita gente, Catarina.
      Incluindo em Portugal.
      Os suspeitos do costume.

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  3. Para mim guterres esteve bem, muito bem embora muitos com teorias da "batata" digam o inverso.
    O que ainda me deixou muito espantada foi a inércia de Israel na loucura do dia 7! Como foi possível meu Deus?
    Já não oiço nem vejo notícias que são repetidas até à exaustão.
    Com isso o Putin esfrega as mãos e faz das suas tenebrosas sobre o povo ucrâniano!
    Resumindo... o povo é que paga os desvarios de meia dúzia de loucos e fanáticos!
    Beijocas e um bom dia

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    1. Foi tudo muito estranho, Fatyly.
      Demasiado conveniente até.
      Chapelada para o António Guterres.
      Beijocas

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  4. Bom dia
    As verdades dificilmente são aceites por todos .

    JR

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  5. Também eu sinto orgulho em ter António Guterres dizer o certo no momento certo.
    O povo é que sofre os desvarios desta gente desumana.
    Beijos

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  6. Fosse qual fosse a reacção de Guterres nunca agradaria a Israel que não morre de amores pela ONU, embora lá esteja.
    Claro que Guterres esteve muito bem.

    Abraço

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    1. Não está ali para agradar.
      Foi corajoso, incisivo.
      Abraço

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  7. Desta vez estou ao lado de Guterres. Nem sempre estou. E não entendo para que é tanto chinfrim, ele disse o que me parece ser verdadeiro e justo no cargo que ocupa face a um conflito que é muito mais que isso; por vezes acho que de pouco servem as suas palavra ou a existência da ONU, não têm o poder que faz falta, têm a intenção. O papa Francisco também diz verdades que não convêm (até à igreja), faz alguma coisa, mas, mesmo sendo o representante de Deus, é um homem bom, com poder limitado. Hoje o poder não tem deveres nem honra, tem ganância.

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    1. Nada de discursos redondos, bea.
      Straight to the point.
      A deixar as orelhas a arder a quem o merecia.

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  8. Quem ouve Guterres? Mais, quem ouve a ONU?
    Apesar disso, o representante israelita na organização, usou da cretinice para fazer valer a posição sionista.
    Um crápula, em nome de muitos mais.
    Abraço

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    1. Mesmo sendo um tigre sem dentes, a ONU é fundamental neste reino de doidos, António.
      Guterres esteve MUITO bem.
      Abraço

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  9. Teresa Palmira Hoffbauer

    Li num blogue amigo:

    Quanto a todas essas teorias sobre a origem do anti-semitismo, mais a culpa original, etc., só me lembra um advogado que nos ia defender em tribunal e atalhou os nossos argumentos com esta pergunta: "vocês querem resolver o problema, ou só querem provar que têm razão?"

    Que sintoniza com o texto do Pedro.

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    1. Exactamente, Teresa.
      Andar às voltas, em círculos, e não atalhar o que tem de ser tratado ... ontem.

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  10. Pedro,
    Venho ler e me informar
    com sua publicação.
    Mas venho me desculpar
    por não ter vindo a sua
    festa de aniversário de
    casamento. A vida familiar
    me fez atropelar muita coisa
    e vir aqui foi uma.
    Saiba que desejo a Você e a
    sua Esposa toda manutenção
    da felicidade que conquistaram
    juntos. Parabéns não somente pelo
    aniversário, mas também pela linda
    familia fruto desse enlace.
    Bjins e Abraço ao casal.
    CatiahoAlc.
    pelo aniversário

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    1. Fomos namorar, CatiahoAlc.
      É assim há vinte e seis anos.
      Bjins

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  11. António Guterres falou bem.
    Quer o Hamas, quer a resposta de Israel, são criminosas.
    E de repente começa uma guerra com muitos interesses por trás de outros países também com grupos perigosos cuja função é matar sem dó.
    O povo palestiniano não é o Hamas, o povo israelita não é Benjamin Netanyahu e seus cúmplices.
    O povo quer viver em paz.


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    1. A tendência de tomar a nuvem por Juno, a árvore pela floresta.
      E os discursos vazios que não resolvem problemas concretos.

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  12. António Guterres é um bom representante do país na ONU, mas no mundo atual não passa de uma voz a pregar no deserto.
    Abraço e saúde

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    1. Vale a pena haver nem que seja só uma, Elvira.
      Abraço e saúde

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  13. Guterres desempenhou as funções que lhe competem.

    Até posso entender a reacção de Israel, mas nunca as que tenho ouvido de algumas criaturas portuguesas.

    O que Israel está a fazer aos palestinos é um genocídio quer em Gaza quer na Cisjordânia ... e eu pergunto : quando é que os EUA vão ser cúmplices de um corrupto e criminos de guerra como Benjamin Netanyahu?!

    Subscrevo o seu texto.

    Bom Novembro !

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  14. António Guterres apenas disse o que tinha de ser dito . E que bem o disse!
    A reacção de Israel foi vergonhosa, mas não uma surpresa.
    Duas guerras ao mesmo tempo... sofremos todos.
    Beijo.




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  15. Já tinha sido bastante assertivo no "conflito" da Ucrânia, quando explicou a Lavrov, a diferença entre invasores e invadidos... foi delicioso ver o outro engolir em seco...
    Felizmente Guterres deu ouvidos a P. Portas... e foi-se embora... para um cargo que só dá orgulho acrescido a todos os portugueses espalhados pelo mundo...
    Explodirem com um comboio de ambulâncias... começo a interrogar-me se o tipo do bigodinho não teria algum fundo de razão... armarem-se em vitimas para fazerem exactamente o que lhes fizeram, a outros, e durante décadas e décadas?... Ninguém aprendeu mesmo nada, em todo este processo?... Enfim! Estamos no bom caminho para cumprir as profecias de Nostradamus para 2024!... Essa é que é essa...
    Beijinhos! Bom fim de semana!
    Ana

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