Ministério da Solidão




Chama-se Ministério da Solidão e é já uma realidade em países como o Japão e o Reino Unido.
Herança da era da Inteligência Artificial, agravada pelos tempos de isolamento da Covid, a tendência para o afastamento do convívio social é uma realidade premente nas sociedades modernas.
Já não é o menino selvagem de Truffaut, nem o Robinson Crusoe de Daniel Defoe.
Quem hoje vive mais isolado é, paradoxalmente, quem tem mais acesso aos gadgets que a modernidade põe ao nosso dispor.
Uma conversa entre amigos é trocada por envios de mensagens; a aprovação social, a popularidade, são medidas por likes em publicações nas redes sociais.
As mesmas que fazem tudo menos permitir a socialização.
Enfrentar o outro, o estranho, causa pavor.
A menos que seja na realidade virtual, o zeitgeist da era do alternativo.
Aí, nesse universo pós - moderno, tudo é permitido.
Conversar com máquinas, ter relacionamentos com bonecos comandados pela linguagem dos números zero e um.
E a vida, a realidade, começam a desaparecer e a desfazer-se nesse novo admirável mundo novo.
Que tudo permite excepto existir, ser, viver.
E a solidão, pouco a pouco, sorrateiramente, instala-se.
E surgem os ministérios da solidão, a consagração política do falhanço da modernidade.

Comentários

  1. Solidão tornou-se numa epidemia social. E a tendência é para piorar...

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    1. Se as redes sociais já auxiliavam, a Covid ainda veio piorar esse cenário, Catarina.
      É assustador.

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  2. Caro Pedro,
    Este tema também foi abordado no ®DOUG BLOG, sob algumas perspectivas diferentes:

    https://blog-dougblog.blogspot.com/2023/10/uma-andorinha-so-nao-faz-verao-e-a-inteligencia-artificial.html

    A realidade é que estes tempos de tecnologias avançadas deixam as amizades e a antiga camaradagem humana com uma pesada corda no pescoço.
    Um abraço!!!

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    1. As pessoas começam a perder a capacidade e até a coragem de interagir, Douglas Melo.
      Assusta, sinceramente assusta.
      Um abraço

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    1. Ministérios dedicados a esta triste realidade, António.
      Abraço

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  4. Uma dura realidade mas pais e avós têm de educar já que os professores, a meu ver com tantas greves não cumprem o seu dever mantendo-se nas suas quintinhas!
    Beijocas e um bom dia

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    1. Este é mais um problema da família do que da escola, Fatyly.
      A família é que precisa estar atenta.
      Beijocas

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  5. Bom dia
    Um ministério que deveria ser adotado em todos os países.

    JR

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  6. "kehidupan, kenyataan, mulai menghilang dan hancur di dunia baru yang berani ini." iya. Ini adalah fakta yang terjadi di belahan dunia manapun.

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  7. Uma epidemia que tende a aumentar :(
    Beijos

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    1. Quem diria que o progresso ia trazer solidão, Manu...
      Beijos

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  8. Desconhecia a existência desse ministério, embora não me surpreenda lamento que se tenha chegado a isto.

    E serve para quê ?

    A Humanidade está enfrentando uma dura prova, sem dúvida, e não me parece que esteja evitando caminhar para o fim, mais uma vez.

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    1. São muitos os casos de pessoas que perderam literalmente a capacidade de interagir, São.
      E muitos os que passaram a ter medo dessa actividade tão humana.

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  9. Por outro lado...há a vertente mais animadora no meio de todo esse apelo à solidão social olhos nos olhos, Pedro.
    Foram as redes sociais que amenizaram o isolamento durante a pandemia e vão trazendo algum conforto e companhia aos que vivem literalmente sós .
    Sem o convívio virtual, a solidão da maioria dos aposentados seria muito mais solitária. Os blogues, por exemplo, são uma óptima forma de não deixar adormecer os neurónios...:)
    Há sempre a outra face mais 'colorida' desta e de outras moedas.
    Beijinhos

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    1. O problema foi terem criado em muitas pessoas a fobia ao contacto, à realidade.
      Que passou a ser só virtual.
      Beijinhos

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  10. Apesar de viver sozinha e de frequentar este novo meio de convívio, gosto muito de viver comigo e nunca me aborreço.
    Gostava de mais interacção por aqui mas é o que temos.
    No Facebook é diferente pprque "os amigos" são conhecidos.

    Abraço

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    1. As redes sociais não são um mal.
      Bem aproveitadas até podem ser muito úteis.
      Para alguns até essenciais.
      Como em tudo na vida, q.b.
      Abraço

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  11. Teresa Palmira Hoffbauer

    A escritora Milena Michiko Flašar aborda esse tema no seu livro “Ich nannte ihn Krawatte”.

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  12. Teresa Palmira Hoffbauer

    Solidão
    no meio de uma sala ouvindo rádio —
    num carro que pára numa estação de serviço de estrada.

    Início de um texto que escrevi inspirada nas pinturas de EDWARD HOPPER.

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer

      Não resisti ao tema que o Pedro hoje nos apresenta e publiquei o início do meu texto — embora eu não sofra de solidão — há tanta gente que morre sozinha e o seu corpo é descoberto meses depois.

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    2. Já são tantos os casos aqui em Macau, Teresa.
      Numa cidade pequenina, densamente habitada, custa compreender este fenómeno macabro.

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  13. Nem tempo tenho para a solidão ,rsrs , venha mais um Ministério.
    Continuação de boa semana

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  14. A tecnologia tem coisas boas e más, e uma pouco favorável é o afastamento das pessoas. a solidão é uma palavra assustadora.

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    1. Uma palavra que exprime uma realidade assustadora, horrível.

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  15. E tempos tão conflitantes e com tanta violência ficar em casa debruçada nesse 'admirável mundo novo' ,tornou-se um caminho, talvez mais seguro onde a solidão é atenuada nessa conversa contínua com as máquinas. :// Ainda há diversões sociais poucas,mas há _ os jovens que o digam ,eles interagem sempre ,apesar da maquininha sempre por perto. Enfim, guerra pior é essa que estamos vivenciando graças ao modelo digital. É isso,Pedro_ pessoalmente não me afeta,mas com certeza a solidão tem sido uma grande mal no mundo.Um abraço.

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    1. Lembra-se de quando nos castigavam por voltar tarde para casa??
      Onde vão esses tempos??
      Um abraço

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  16. Seres incompreendidos, incompreensíveis e totalmente associais e com zero % de empatia... por outros seres "vivos"... eis o retrato das futuras gerações.
    A IA apenas veio distorcer o conceito de informação... se usada sem critério, em nome de um qualquer direito à liberdade... e veio lembrar quantas profissões passarão a ser redundantes: bancários, professores, médicos, juristas... e talvez políticos, na evolução do processo! Enfim... veio lembrar-nos que a inteligência... não precisa de pessoas... se ficar registada de alguma forma! A vida passa por um banco de dados e algumas teclas... Que triste conceito de existência! De dar medo! Recuso-me a ter redes sociais, e o meu stupidphone manter-se-á ad eternum! Não abdico de um minuto de realidade, em nome de uma actualização qualquer que acaba de chegar e a reclamar atenção, em qualquer lado! Não tenho mesmo paciência... nem tempo a perder com tecnologia em demasia!
    Bom tê-lo de volta, Pedro, estimando que tenha tido umas excelentes férias, na companhia dos seus!
    Beijinhos! Feliz semana!
    Ana

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    1. As redes sociais pretendem que a pessoa socialize, Ana.
      Infelizmente acabaram por provocar o contrário em muita gente.
      A nova solidão.
      Sós no meio da multidão anónima.
      As férias foram...curtas.
      Isso diz tudo, não é, Ana?? :))
      Beijinhos

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  17. Solidão, abandono e consequente doença mental, são uma dramática realidade neste mundo moderno, perigoso e louco.
    Ministério da Solidão - venha um para Portugal.
    Excelente o teu texto, Pedro.
    Beijo.

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    1. O projecto já existe em Portugal, teresa.
      E gradualmente será uma realidade por esse mundo fora.
      Beijo

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  18. Brilhante crónica. Com o avanço da tecnologia é importante saber fazer coexistir o virtual com a realidade. É triste ver as pessoas isolarem-se refugiando-se cada vez mais nos meios digitais. Infelizmente já conheço alguns casos de jovens, em que os amigos que têm são apenas via internet e se mantêm fechados em casa, mesmo os pais insistindo para eles saírem e conviverem realmente.
    Beijinhos

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    1. O oposto do que acontecia conosco, Maria Rodrigues.
      Só agora é que chegas a casa????
      Lembra-se?
      Beijinhos

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