Respeitar e aceitar as diferenças

 


O que aconteceu todos estes anos no Médio Oriente, com epílogo agora no Afeganistão, fez-me reflectir na necessidade de tentar perceber e respeitar o outro, o diferente.
Vivo há muitos anos no Oriente e tenho tido a felicidade de, desde que aqui cheguei, contactar muito de perto com uma cultura completamente diferente daquela em que cresci.
E acho que posso afirmar que cedo percebi, com a ajuda de quem mais de perto me acompanhava, que não há um certo e um errado quando se fala de culturas e mentalidades.
Só em casos muito extremos de claras violações dos mais básicos princípios humanistas, que esses devem ser intocáveis em qualquer parte do Mundo.
O Ocidente não quis perceber que não podia impor a sua cultura e valores a povos tão diferentes e com cultura e valores tão diferentes.
E esse tem sido o grande erro da chamada civilização ocidental.
Convencido da sua superioridade moral e intelectual, o Ocidente, que se auto-intitula o berço da civilização moderna (então e a China? As Américas? O Egipto?), acaba surpreendido por não ver os seus valores aceites noutras latitudes.
E envolve-se em batalhas e guerras que nunca poderá ganhar.
Esse é um dos aspectos em que o Ocidente tem muito a aprender com a China.
A não-ingerência chinesa, tantas vezes criticada, faz aqui todo o sentido.
A China investe noutros países sem nunca lhes impor valores ou cultura.
Comércio e política são deixados bem separados.
A China respeita e aceita as diferenças.
E o Ocidente tem de aprender que essa é a postura correcta, sem insistir no erro de querer exportar modelos,  para não continuar a passar por vergonhas como aquela a que estamos a assistir no Afeganistão.

Comentários

  1. Desde que o mundo é mundo que as descobertas levaram os colonizadores a impor o seu tipo de governança, costumes e tradições depois de enriquecerem à custa dos colonizados. É um facto! Mas o objetivo principal dos americanos e aliados foi derrotar o “berço” do terrorismo depois de 2001.
    Ouvi Phil Mudd (ex-diretor adjunto da CIA e do FBI – perito em contraterrorismo) há poucos minutos. Dizia ele que não se pode ainda criticar os Estados Unidos pela forma como a evacuação está a ser feita. Confirma que os primeiros dias foram caóticos, mas para se esperar mais umas semanas, mais uns meses e até anos e então fazer uma análise sobre o que realmente foi feito e quantos milhares foram evacuados e salvos (mais ou menos isto).

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    1. Vivendo há muitos anos numa das cidades mais multiculturais do mundo, a aceitação das diferenças (em qualquer aspeto do ser humano) é-nos incutida. E a nossa responsabilidade é reforçar essa aceitação nos mais jovens.
      Aceito costumes e tradições diferentes desde que não as imponham no país onde vivo. Sou de opinião de que os que chegam a este país – ou a qualquer outro – devem integrar-se na sociedade canadiana e seguir as leis canadianas, mantendo a cultura do seu país de origem, se assim o desejarem.

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    2. Conheço o Canadá e sei que é dos países mais inclusivos, Catarina.
      Mas isso não significa abdicar dos seus costumes e tradições.
      Nem aceitar costumes e tradições que nos são completamente estranhos.
      Respeito é uma das tais vias de dois sentidos.
      Só assim poderá existir.
      Nunca se poderá exigir, para mais em terra estranha, o nosso sentir e o nosso modo de pensar.
      O problema do Ocidente, com os Estados Unidos na ponta, é querer transplantar modelos e valores.
      Não resulta.
      A conquista e colonização é passado.
      Um passado que não volta.

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  2. Concordo com você em relação aos costumes, cada país ou região tem o seu, mas em relação ao terrorismo deve haver sim uma mobilização, pois afeta vidas do mundo inteiro. A imposição não é sadia, deve sim, haver um entendimento para que as pessoas vivam de maneira digna e dentro dos valores universais.

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    1. Repare que eu sublinho que há valores que são universais, Cléo Gomes.
      Tratar as mulheres dignamente é um deles.
      E nisso não há negociação possível.

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  3. Concordo com tudo o que o meu amigo diz e é uma vergonha e principalmente uma tragédia para as mulheres o que se passa e irá passar-se no Afeganistão.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Querer transportar modelos políticos para onde são tão estranhos é um perfeito disparate.
      Com resultados trágicos.
      Um abraço

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  4. O que se está a passar no Afeganistão é um atendado aos direitos da humanidade.

    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  5. Concordo de todo.

    Aqui entre nós, o menor mal ainda é vergonha pela qual o Ocidente passa : o mais trágico é o desnecessário sofrimento que causa ...

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  6. Subscrevo tudo o que dizes e muitas vezes varridos do seu berço (tal como eu fui) deve-se respeitar a sociedade e hábitos, etc do país que nos acolhe assim como e até hoje, me respeitaram toda a minha forma de ser/sentir/estar. Fiz-me à vida e nunca me apelidaram de "retornada".
    O que se está a passar na terra da poeira não acredito no seu apregoar pacifista actual e sobretudo no horror que provocam ao seu próprio povo num fanatismo do tempo das trevas.

    Se não me falha a memória há uns anos não muito distantes Portugal acolheu três mil e tal refugiados ao abrigo de algo que não me recordo.
    Foram instalados com tudo e dois mil e tal deram à sola não se sabendo para onde. Talvez para outros países com mais condições...sinceramente não sei!

    Beijos e um bom dia

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    1. Chegar a uma terra que não é nossa e impor condições nem na época das conquistas funcionou muito bem, Fatyly.
      Há valores que devemos defender até à morte.
      Mas impor modelos políticos na terra de outros?
      Dizer ao dono da casa como é que ele a deve governar?
      Dá asneira.
      Beijos

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  7. Pedro, o título do seu texto diz tudo: "RESPEITAR E ACEITAR AS DIFERENÇAS"
    Quem não o fizer - por não saber ou não querer - anda desfasado da realidade, com as inegáveis consequências.
    Um abraço

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    1. Infelizmente as consequências ficam para outros, António.
      Um abraço

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  8. Concordo quando diz que há princípios básicos que não podem ser atropelados sejam quais forem as políticas ou as crenças religiosas.
    Costuma -me a concordar que a situação a que chegou agora o Afeganistão possa ser vista como um epílogo , porque sabemos de antemão que há princípios dos direitos humanos que não vão ser respeitados pelos usurpadores do poder.
    Abraço amigo.
    Juvenal Nunes

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    1. Sabemos que o novo Poder não vai respeitar muitos dos que são os valores mais básicos.
      E deve ser combatido nisso.
      Quanto mais não seja deixando-o isolado.
      Um abraço

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  9. Perfeito, Pedro! Assino embaixo! Grande abraço.

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  10. Penso que as coisas não vão ficar assim no Afeganistão. Vai haver guerra. Muitas mortes. Aguardemos ...
    Cumprimentos

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    1. Não acredito, Ryk@rdo.
      Guerra com quem se o povo afegão não reagiu e o governo destituído fugiu?
      E se os vizinhos Rússia e China não a querem?
      Um abraço

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  11. É verdade, queremos que os outros se moldem à nossa cultura.
    Mas há valores que devem ser iguais em todo o mundo.
    E a religião tem impedido que esses valores se implantem. Em Portugal, há 50/60 anos, por exemplo, era proibido às mulheres entrar nas igrejas sem véu na cabeça. E havia separação entre homens (à frente) e mulheres (atrás). Nas escolas também havia separação. Mas evoluímos. Por isso, estou em crer que daqui a umas décadas o Afeganistão e outros países com culturas semelhantes não serão tão fundamentalistas em matéria de usos e costumes.
    Excelente crónica, gostei de ler.
    Continuação de boa semana, caro Pedro.
    Abraço.

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    1. O Homem evolui, Jaime Portela.
      Mas com estes trogloditas tenho pouca esperança.
      Gente que recusa abrir os olhos.
      Abraço, bom fim-de-semana

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  12. A "não-ingerência chinesa" é um mito. Basta ver que grupo mediático multinacional controla agora o Jornal de Notícias, por exemplo. Ou quem pressionou o (des)governo portugês para criar os inenarráveis "vistos gold". Os chineses têm sabido ser mais inteligentes e discretos do que os ocidentais, mas exercem a sua influência sempre que podem.

    Da mesma forma, a ideia de que "a China respeita as diferenças" desmonta-se muito facilmente. Basta apontar aquilo que está aser feito aos Uigures e a posição da China em relação a Taiwan.

    Dito isto, eu concordo plenamente que a ideia de exportar modelos civilizacionais é estúpida e que a insistência dos governos ocidentais em fazê-lo constitui um ero crasso. Mas não concordo que a China não o faça. A China fá-lo é de uma forma mais discreta e inteligente.

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    1. A China presta mais atenção à vertente comercial, Afonso de Portugal.
      A que$tão para os chineses é mai$ cifrões.
      Ainda e sempre Mao Tse Tung - vamos primeiro cuidar da fome do povo.
      Depois podemos falar de outras coisas.

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  13. Subscrevo o que escreveu! Estamos num mundo de loucos!
    .
    Tudo em mim é emotivo ...
    .
    Beijos e um excelente dia.

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  14. Muito me diz, Pedro, quando escreve „A China 🇨🇳 respeita e aceita as diferenças“ AH! AH!AH! 🤣

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    1. Leia tudo, Teresa.
      Não tire do contexto.
      A Chine está-se nas tintas para ideias e ideologias.
      Pensam só em comércio.
      E não querem falar daquilo que não querem que falem acerca deles.
      Só nessa medida é que respeitam as diferenças.
      A Ásia é assim, não é só a Chine.
      Já viu algum país asiático tentar exportar o seu modo de pensar e governar para outros países?

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  15. Este texto, faz-me lembrar certas pessoas que vão viajar e ficam chocadas com os usos e costume desse país. Há que aceitar as diferenças.

    Beijos

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    1. Os chineses nem querem falar disso, Manu.
      Não lhes digam o que fazer e eles também não dizem aos outros.
      Tão simples como isso.
      Tudo começa e acaba numa noção de soberania que é muito diferente na Ásia e no resto do Mundo.
      Beijos

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  16. Pois é, Pedro, aceitar e respeitar as diferenças é o mais viável para qualquer pessoa, que passe a viver num país que não é o seu. Aqui nos três Estados do sul do Brasil temos uma grande quantidade de imigrantes italianos, poloneses, alemães, japoneses e de outras povos do oriente médio, sendo que aqui em Porto Alegre os imigrantes israelenses são de grande número. Interessante é que mal nos damos conta de que esses imigrantes não são daqui, como nós, de origem portuguesa, isso porque eles vêm para cá e são aceitos por todos, eles se sentem brasileiros, integram-se na nossa cultura, incluindo artes, trabalho, diversão esporte, em especial o futebol. Essa mesma prática você diz que ocorre na China, que ninguém poderá dizer que deu errado. Parabéns, pois, as povos que se irmanam.
    Uma excelente semana.
    Grande abraço.

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