Os indignados


Tanta gente indignada com a retirada americana do Afeganistão!
Do mais anónimo cidadão ao mais badalado político, todos têm uma palavra de desconforto para Biden e a sua Administração.
Mesmo os que iniciaram o processo que Joe Biden finalizou.
No top da hipocrisia, o primeiro lugar vai direitinho para Tony Blair.
Um dos principais rostos da investida no Médio Oriente, às cegas, à aventura, está agora indignado com a retirada.
Quem esquece a cimeira Bush, Blair, Aznar, com o patrocínio Barroso?
Avisados que estavam a mexer num ninho de vespas, teimaram nos seus propósitos e deixaram para quem lhes seguisse o odioso de continuar uma guerra perdida à partida e de uma saída sem honra nem glória.
Dizer que era possível negociar uma saída honrosa do Afeganistão, como o alucinado Trump afirmava propondo um encontro de alto nível em Camp David, é viver numa realidade paralela.
O grande erro foi ter entrado no Afeganistão e noutros países.
Países que eram de todo desconhecidos no seu terreno, na sua cultura, nas suas tradições, de quem os invadia.
Napoleão viu as suas tropas atoladas e derrotadas na Rússia.
Mas a História ainda é ignorada por aventureiros que procuram outros atoleiros.
E que depois se indignam quando são obrigados a reconhecer a derrota e a humilhação.

Comentários

  1. Se a memória não me falha, o principal objetivo dos americanos no Afeganistão foi destruir os terroristas causadores do 11 de setembro. Ficaram durante 20 anos. O que os “entendidos” estão a dizer é que mesmo que os americanos tivessem saído há 5 anos ou esperassem mais 5 anos para o fazer, o resultado seria o mesmo.
    Esta não é altura de críticas, é altura de os aliados fazerem o seu melhor para salvar os seus cidadãos que ainda lá se encontram e todos aqueles que os ajudaram.
    O que é também de lamentar é que todo aquele material de guerra tivesse ficado para os talibãs.
    Muitos falam sobre as diferenças culturais, as várias formas de governação de cada região/país e que ninguém se deve imiscuir.
    Se vivemos numa comunidade global, e um país transgride todos os direitos humanos, terrorizando mulheres e crianças, não será a responsabilidade dos “mais evoluídos” interferir e destruir atos medievais?

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    1. Tenho muito receio de ir por esse caminho, Catarina.
      Quem é que decide o que está certo ou errado?
      E até onde se pode ir?
      O objectivo dos americanos era evitar que o solo afegão fosse base para ataques terroristas e matar Bin Laden.
      Mesmo depois de terem conseguido esses dois objectivos foram ficando até não ser possível ficar mais.
      Deu cagada da grossa.

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  2. Quem é que decide o que está certo ou errado, Pedro? A sério??
    Mas há qualquer dúvida sobre o que está errado sobre o tratamento das mulheres e das meninas pelo Talibã? Sobre os apedrejamentos, o terror, a violação em massa... apenas “simples” exemplos...
    Não se vai para um país apenas porque as tradições e culturas são diferentes das do ocidente. Mas o que se passava antes destes 20 anos não pode ser aceite de maneiríssima nenhuma.
    Se uma professora tem suspeitas de que uma criança está a ser maltratada em casa, tem a responsabilidade de tomar as devidas medidas (é mesmo obrigada, por lei) e seguir o protocolo implementado. “O que se passa na casa de cada um não é da nossa conta” não se aplica aqui.
    Por que ficaram lá depois da missão principal ter sido cumprido já é discutível.
    Essa defecação metafórica é lamentável, sim, mas vamos aguardar até que os americanos e os aliados terminem a sua missão e depois podem criticar à vontade e copiosamente. Só oiço críticas, mas não leio sugestões concisas e fundamentadas em conhecimento.

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    1. A Catarina acha que eu compactuo com essas situações?
      Mas será que a melhor maneira de as combater é entrar por ali dentro à bruta?
      O que é que vai acontecer às mulheres que não puderam sair do Afeganistão?
      Vão ser mais bem tratadas?
      Sobreviveram a guerras afinal para quê?
      Para perderem familiares e amigos e continuarem sujeitas ao mesmo tratamento degradante?
      Tem que se ir pelo caminho mais difícil e mais moroso, a mudança de mentalidades, de hábitos.
      E isso não se consegue na ponta da baioneta.

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    2. “Educar” os talibãs quanto ao seu tratamento das mulheres vai levar anos e, enquanto isso o que acontece ou não acontece, como serão elas protegidas?
      A Clarissa Ward (jornalista da CNN), vestida de preto e coberta da cabeça aos pés quando andava na rua a fazer as suas entrevistas e reportagens, foi-lhe dito que tinha o rosto e as mãos descobertas. E alguns não quiseram falar com ela por ser mulher.
      Alguém acreditou ou acredita em Mujahid quando diz que não vai haver qualquer tipo de discriminação contra as mulheres? E acrescentou na altura “mediante os parâmetros que têm”.
      Como o Pedro sabe, o Afeganistão aderiu a tratados, tal como a convenção das Nações Unidas sobre os direitos das mulheres que obriga os governos a garantir os direitos humanos das mulheres e as liberdades fundamentais com base na igualdade com os homens.
      A comunidade internacional não tem que usar violência. As Nações Unidas e as organizações internacionais dos direitos humanos podem e devem monitorizar a situação em todo o país. E podem impor sanções. Isto é tudo muito bonito em teoria, mas a minha intuição diz-me que conversações com os fanáticos talibãs ou o “engolir sapos” não vão resultar a curto prazo e salvar as mulheres de hoje da opressão iminente. As interpretações seculares extremistas do Corão não se vão modificar em meia dúzia de dias, meses ou anos.

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    3. As conversas têm que passar por aí, Catarina.
      Por onde afinal é mais doloroso.
      O bolso.
      Intervenções militares já todos percebemos que não resultam e negociações também não.
      O bolso, tem que se combater o bolso.
      O que também não será nada fácil com um regime que vive muito do cultivo da papoila, da venda de droga.
      Quando se fala em atoleiro é em tudo isto que se pensa, Catarina.
      O terreno, os líderes, a população, a religião, a economia.
      Um caldo de cultura muito complicado.

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  3. Só agora os apelidados aliados, e mesmo assim alguns, dão sinais de preocupação. Talvez porque estejam, também eles, com receio de uma ação concertada do foro terrorista. No entanto, ninguém ainda apresentou sugestões.
    Minorar, nesta altura, um problema que se configura de uma gravidade extrema, não é fácil.
    Um abraço

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    1. Conversar com os talibãs, António.
      Não há outra possibilidade.
      Eu sei que custa mas às vezes temos mesmo que engolir sapos.
      Um abraço

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    2. Estou com o Pedro!!
      Engolir sapos é a única solução.

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    3. Não vejo outra, Teresa.
      E quanto antes para aquela população não sofrer mais.

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  4. Quais as verdadeiras intenções dos americanos ao invadir o Médio Oriente e ficar por lá mais de 30 anos vá lá a gente saber! A necessidade de matérias primas sempre foi e sempre será a grande razão que move os grandes países, como a Rússia, a China, ou os Estados Unidos. E os pequenos países fariam outro tanto se tivessem poder para isso. Afinal, qual foi a razão que esteve na origem dos nossos Descobrimentos?

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    1. Os chineses dizem isso mesmo - os americanos usam os direitos humanos como pretexto para muita coisa.
      Nisso os chineses são muito pragmáticos.
      Ma$$a, falam é de ma$$a.

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  5. Mas alguém acredita que os americanos entraram no Afeganistão com propósitos humanitários? Eu não.

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    1. Entraram no Afeganistão declaradamente para matar Bin Laden e limpar o Afeganistão de células que apoiassem o terrorismo.
      Isto foi o declarado.
      O que não foi declarado é outra conversa.

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  6. Bom dia
    Eu acredito que haja alguma preocupação humanitária por parte de alguns países , mas infelizmente os interesses económicos estão com certeza acima de tudo e de todos os que na realidade se impõe .

    JR

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    1. Agora o essencial é proteger ao máximo aquelas pessoas, Joaquim Rosario.

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  7. De politica não percebo mas tenho muita pena das crianças e mulheres e todos aqueles que não tiveram culpa a única coisa que querem é viver um bjo.😘🥰linda semana.

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  8. Tenho a mesma opinião da Sara! :)

    .
    Beijo, e um excelente dia!

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  9. O desplante de Blair é desmesurado, efectivamente!!

    O comportamento invasor dos EUA nada tem a ver com a defesa de direitos humanos ou afins, mas sim com os seus próprios interesses.

    Em todo este imbróglio, Biden é o que menos responsabilidades terá. Apesar desta saída não muito bem preparada.

    Os EUA despejaram dinheiro e militares no Afeganistão sem se preocuparem muito com os resultados nem como as verbas eram geridas.

    E agora em Cabul vemos pessoas desesperadas caindo dos aviões repetindo o que já tínhamos visto em Saigão . Assim como se repete o drama de deixar à mercê da vingança de quem tomou o Poder quem de algum modo colaborou com as forças internacionais.

    No entanto, a responsabilidade não é inteira dos ianques , é também de quem alinhou nesta aventura tresloucada de exportar democracia à bala.

    Dói-me muitissimo a tragédia que já se está abatendo sobre as mulheres e as crianças e ouvir o porta-voz dos talibãs numa entrevista tudo aquilo soa a discurso ensaiado .

    Quanto ao seu texto, subscrevo na íntegra.

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    1. Blair aponta o dedo a outros para desviar a atenção da cagada que fez, São.
      Não sei se seria possível outro tipo de retirada, muito menos como.
      Sei que foi um erro entrar.
      E quem agora berra foi quem teimou nesse erro.
      Pobres dos que ficam.
      Passaram por muitos terrores e agora têm que enfrentar mais um.

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  10. i feel embarrassed to say that first comment made me cry almost dear Pedro

    i appreciate your patience and a suitable response !

    we all know we cannot speak about it so freely because every word is being detected .we all know that speaking truth is not harmless here .i can say only that the best way to look at things complicated like these is to go back and see properly what the pattern describe about them.
    countries like Iraq ,Iran and others are example so open and obvious for all .nothing is hidden .a little insight it takes to understand what went wrong and who did this .when a clever and powerful predator wants to attack and take advantage , he considers the sneeze of weak s reason are such dumb to realize this .

    i hope that in future people with power will learn from their mistakes and don't repeat them because they must know that their wrong actions make other pay behalf of them .not only victims but those who live in free civilized countries like them .such injustice keep ingesting feeling of shame and guilt in next generations what i feel when i read others blogs or comments .common people of america or any other developed country don't want this mess belong to their ancestors anymore .which i feel happy about .

    i too believe that America itself will gain such insight to gather all nations at one place and step forward for better causes hopefully.the child is growing i believe !

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    1. That’s the bigger injustice, baili.
      The ones who are left behind are the ones who suffered and will continue to suffer.
      A friend of mine made a curious comparison.
      The West, with the USA in front, loves to enter your house, even uninvited, and tell you how to run it, decorate it, live there.
      In your house!!
      Living in Asia helped me grow and understand other mentalities, baili.
      Maybe someday the US will get it.

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  11. O que se passa no Afeganistão é uma situação muito discutível. Muito grave. Uns concordam, outros não. É sempre assim. E o Povo sofre.
    Cumprimentos

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  12. Sempre ouvi dizer que mais vale um mau acordo do que uma boa contenda, isto para lhe dizer Pedro, que perfilho a sua teoria de haver um entendimento, ou tentativa disso, com os talibãs, que se encontram agora, na mó de cima. Poupar-se-iam muitas vidas inocentes.
    Contudo, não tenho conhecimentos ( como tem a Catarina ) sequer para me pronunciar.

    Beijinhos.

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    1. Um qualquer acordo é essencial, Janita.
      É a única via possível neste momento.
      Beijinhos

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  13. O que eu sei dizer... é que Saddam e Kadafi, fizeram muita falta, para manter a ordem num explosivo mundo árabe, completamente ingovernável! Acabaram com eles, e o que foi conseguido? A big nothing... a não ser... vender mais armas, e munições... que a qualquer momento, podem voltar-se para quem as vendeu... quem com ferros mata...
    Abraço!
    Ana

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    1. Não foi só o Afeganistão, Ana.
      Toda a zona ficou em polvorosa com a intervenção americana.
      Abraço

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  14. Tenho um bocado de medo de dizer asneira pois não tenho grande conhecimento da situação. Ainda assim penso que os americanos com a desculpa do combate ao terrorismo instalam-se nos países cuja situação geográfica ou interesses monetários lhe interessam, como o Iraque ou o Afeganistão. Que se pode fazer agora? Pois eu estou consigo, penso que é preciso mesmo um entendimento, mesmo que para isso se tenham de engolir vários sapos.
    Abraço e saúde

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    1. Para quem diz que tem poucos conhecimentos acertou todas na mouche, Elvira.
      Abraço e saúde.

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  15. Os Americanos já deviam ter entendido, depois dos desaires da Coreia e do Vietname, que o Oriente só lhes traz problemas. Mas não! Como eles querem é ganhar dinheiro e poder, continuam!
    Contudo, há aqui uma coisa que me intriga: quem está a financiar os talibãs? É que é preciso muito dinheiro para manter aqueles homens ativos??
    Eu, na minha ignorância, tenho algumas suspeitas....

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    1. Basta controlarem a distribuição de papoila, de droga, para terem acesso a muito dinheiro.
      Directamente.
      Por via indirecta já é outra conversa.

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    2. Pois...eu gostava era de saber quem os financia por via indireta!
      E não há um jornalista ou comentador que fale nisto....

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    3. Subscrevo tudo o que dizes e agora não é altura de apontar baterias de culpa ou a culpados, mas dar a mão à palmatória e encetar o diálogo. 20 anos perdidos e não consigo ver as imagens de caos junto do aeroporto porque sei a cor do medo/fome depois de ter estado dois dias e duas noites e com a minha com 6 meses à espera de voo. A guerra civil estalou e com a invasão dos cubanos foi o que se vê nas imagens. Sobre esta mancha negra da história muitos teimam em ocultar.
      Pobre povo!!!

      Beijos

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