Para se repetir o cenário a que assisti há trinta anos só falta haver dissidentes no PS


Já aqui tinha escrito que assisti em primeira fila a um cenário político muito semelhante ao que está acontecer em Portugal.
Foi há cerca de trinta anos, numas eleições autárquicas, a nível de freguesia.
Também então tudo se conjugava para que os vencedores das eleições, que tinham quatro elementos eleitos, se vissem ultrapassados na assembleia de freguesia por uma aliança entre o segundo partido mais votado (três elementos) e o terceiro (dois elementos).
Reuniões entre os dois partidos que procuravam tomar o poder, estratégia acertada, até que apareceu o tal incómodo grão de areia que pode fazer paralisar toda a engrenagem.
Foi no dia de instalação da assembleia de freguesia e a carta que os vencedores tinham na manga passava pela sedução de um dos elementos do segundo partido mais votado (curiosamente também era o PS...) que acabou por repor justiça afastando um golpe com um contra-golpe.
Já se percebeu o que vai acontecer em Portugal nos próximos dias.
Cavaco Silva vai empossar Pedro Passos Coelho como primeiro-ministro.
Pedro Passos Coelho irá então formar governo.
Que será alvo de uma moção de censura, da iniciativa do PCP, apoiada por PS e Bloco, na primeira reunião plenária da Assembleia da República.
O governo recém empossado cairá imediatamente, numa reedição a nível político do célebre romance de Gabriel Garcia Marquez "Crónica de uma Morte Anunciada".
A menos que...a menos que se repita o tal cenário de há trinta anos e haja dissidências dentro do grupo parlamentar do PS (dentro do partido há tantas tendências que tudo é possível) que baralhem todas estas contas.
Déjà vu??

Comentários

  1. Não fujo de um governo à esquerda, Pedro, fujo sim, do António Costa que quer ser primeiro-ministro à força para não ter que ir limpar as matas.

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    1. Este será O grande teste à liderança de António Costa, ematejoca.
      Ou consegue travar as lutas que se vão desenrolando dentro do partido e mantém o grupo parlamentar disciplinado, ou é o fim

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  2. Estou esperando que isso aconteça, que haja trânsfugas no PS, mas -embora não concordando com a maneira como tudo isto se passou - acho que se isso acontecer , essas criaturas deveriam sair e ir filiar-se directamente no PSD ou no CDS.

    Principalmente, pelos motivos que os levam a isso...

    Tudo de bom, Pedro

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    1. Se acontecer é o fim político de António Costa, São.
      Ele tem vindo sucessivamente a adiar o que parece inevitável.
      Uma situação como esta seria irreversível.

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    2. Concordo, mas considero que seria também a pasokização do PS...

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    3. Essa é bem possível que já esteja a verificar-se, São...

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  3. O que se está a passar é tudo, menos política decente e assertiva, mas sim uma corrida ao poder sem precedentes. Quem irá pagar a factura? Nós, como os Lisboetas pagam a longa lista de dívidas que AC deixou. Uma tristeza porque só olham para o seu umbigo.

    Beijocas e um bom dia

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    1. Uma batota pegada, Fatyly.
      Quando os presumíveis entendimentos partem não da identidade de pontos de vista mas sim contra terceiros, sejam eles quem forem, não há que esperar nada de bom.
      Beijocas

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    2. «a longa lista de dívidas que AC deixou»?? Pensei que ele tinha, de alguma forma, equilibrado os buracos que o Santana deixou...

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  4. Pela forma como tudo tem decorrido até agora, será apenas um o grande culpado. Cavaco de seu nome.
    Não é capaz, entre outras coisas, de ser imparcial.
    Certo é que se for a coligação a constituir governo, teremos eleições dentro de pouco tempo.
    Uma governação à esquerda não assusta ninguém, desde que todos os partidos nela envolvida percebam a realidade da situação portuguesa.
    Um abraço

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    1. Mas eu nunca disse que uma governação à esquerda me assustava, António.
      O que eu critico é a maneira como se está a tentar chegar ao poder.
      E isso não tem nada a ver com o PR.
      O PR está em final de mandato, a asneira está a chegar ao fim.
      Mas não foi ele a criar a batota.
      Que, como já tinha referido, e aqui repito, já vi em moldes semelhantes há uns bons anos.
      Aquele abraço

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    2. Desculpe discordar de si, mas o grande culpado disto tudo tem um nome: António Costa. Ele é que está a ser o grande facto de instabilidade. Bastava assumir humildemente a derrota na noite da eleições e demitir-se. Se não quisesse demitir-se, então que viabiliza-se o governo PSD/CDS pela abstenção. Tudo o que sair deste cenário (e infelizmente saiu) é completamente anormal e nocivo para Portugal.

      Se houver eleições em pouco tempo, nada que me assuste, já aconteceu tantas vezes por cá.

      Quanto ao governo de esquerda. Se tivesse ganho numa coligação pré-eleitoral ou se o PS tivesse ficado em 1.º, nada a opor.

      No entanto no actual cenário, é completamente anormal o PS liderar um governo, para mais tal como os restantes partidos de esquerda, que aparecem com propostas completamente irrealistas.

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    3. CONCORDO 100% COM O PAULO LISBOA.

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  5. Já aqui disse que não entendo nada se política, logo nem devia estar a comentar este post.. Não gosto da coligação que nos governou até aqui. Mas percebo que eles governaram numa situação muito difícil. E como tenho boa memória, coisa que parece a maior parte das pessoas que oiço não têm, lembro perfeitamente dos anos 1983/1984, altura em que vivíamos sob a pata da FMI. Da austeridade de então, das fábricas que fechavam todos os dias, do desemprego gerado, dos salários em atraso de quem ainda ia trabalhando. Lembra-se de D. Manuel Martins, então bispo de Setúbal e das suas denúncias sobre a miséria em que se debatia o distrito de Setúbal? Eu lembro. Levei seis meses sem receber, e mais de um ano a receber os atrasados aos bochechos.
    Quem governava Portugal na altura? Uma coligação PS/PSD, tendo Mário Soares como primeiro ministro e Mota Pinto como vice.
    Penso que se na altura, o descalabro não foi pior, deve-se ao facto de não estarmos na U.E. e de o Mário Soares ter desvalorizado a moeda.
    Por tudo isto, e mesmo não gostando da coligação, compreendo que uma grande parte do povo lhes tenha dado o benefício da duvida. Não foi o meu caso, não tenho vergonha de dizer que votei Costa.
    Verdade que não esperava esta atitude, uma vez que perdeu as eleições, e nem acredito que dela venha algum bem para o povo, antes sim,penso, que possa ser o fim político dele. Veremos. E oxalá não paguemos a factura.
    Desculpe se me alonguei. Detesto injustiças.
    Um abraço

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    1. A Elvira Carvalho não esperava esta atitude e uma grande parte do eleitorado que votou no PS também não.
      Inclusivamente uma grande parte do eleitorado que votou no PCP e no Bloco também não estaria à espera disto.
      Atiraram-se à garganta uns dos outros em campanha e agora andam aos beijinhos???
      E as diferenças em termos ideológicos e programáticos??
      Vão para debaixo do tapete?
      É que são muitas e muito relevantes ....
      Um abraço

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  6. Estou cansada do AC e da loucura que se lhe meteu na cabeça de que tinha de ser PM:

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    1. Fácil de explicar Timtim Tim - se não for PM é trucidado.
      Se for...depois se vê.

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  7. Pedro, descreveu muito bem a triste realidade política do nosso país. Hoje dizem uma coisa, amanhã já dizem outra, sempre vogando a favor da próprias conveniências e interesses. O povo, esse, fica esquecido, como sempre. Mas daqui a um tempo, voltam a lembrar-se dele quando chegar a altura de pagar mais uma fatura.

    Um beijinho

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    1. Facturas e votos, Miss Smile.
      Porque, ou muito me engano, ou haverá votos daqui a muito pouco tempo.
      Beijinhos

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  8. Realmente esta política está uma amálgama de ideias e interesses que até arrepia. Nunca se lutou tanto "pelos tachos" e numa houve tanta corrupção. Claro que ou virão novas eleições ou o governo indigitado não consegue fazer passar nada na AR. O que mais virá sabe-se lá. Serão impasses em cima de impasses.

    Bom fim de semana

    Beijito da Gota

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    1. E o pais, Gota, como é que fica o país no meio dessa confusão??
      Parado???
      Já estamos a levar pancada na UE por não apresentar um Orçamento a tempo e horas (quando é irá ser apresentado e por quem??).
      Sentido de Estado é um conceito absolutamente alheio a esta gente.
      Beijinhos

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  9. Estou a achar a posição do PR muito sensata, ao não indigitar para já ninguém, antes da reunião da Comissão política do PS, de hoje, bem como ter a perfeita noção de, até onde irá o apoio do PCP ao PS (tem havido estranhas reservas ) !
    De resto,, a manterem-se as coisas neste impasse, acontecerá o que se espera de facto !
    Um governo para uns meses (um ano ?) ... e uma grande crise para Portugal a nível europeu !
    Não sei (ninguém compreende) como o AC, com tantas cedências ao PCP e ao BE, com um enormíssimo aumento das despesas do Estado, vai conseguir receitas para fazer face aos nossos compromissos europeus !
    Está-se mesmo a ver o que vai acontecer ! Às primeiras cedências a que o AC vai estar sujeito e obrigado pela Europa, lá se vai o acordo com o PCP por água abaixo e então será o fim do governo e o princípio do fim do PS em novas eleições !!!
    Quem sabe se, hoje mesmo, haverá no PS quem consiga ver este panorama !? ... e prefira então, nestes mesmos termos deixar "queimar o PAF" e ganhar "de caras" as próximas eleições ?! ...

    Abraço, Pedro

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    1. Há muita gente dentro do PS que não se revê minimamente nestas manobras de pura baixaria, Rui.
      E queria o PS a ser oposição, forte, construtiva, capaz de mais tarde tomar o poder por si próprio e sem as peias que um acordo com PCP e Bloco de Esquerda acarretam.
      Qualquer que seja o governo, da coligação ou desta santa aliança, será efémero.
      E lá irá Portugal para eleições outra vez na primeira oportunidade.
      Até onde é que vai a irresponsabilidade desta gente?
      A pura ambição política, a cegueira carreirista??
      Aquele abraço

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  10. João Soares: "Esta decisão faz o país perder tempo"

    Ah! Ah! Ah!

    Existem, pelo menos, 15 deputados socialistas que vão apoiar a coligação.

    "Crónica de uma Morte Anunciada" do António Costa.

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    1. Enquanto dormia o PR fez a sua comunicação ao País, ematejoca.
      Que foi um repetir do que tinha dito da primeira vez que recebeu Passos Coelho.
      Agora vamos ver o que vai sair desta embrulhada.
      É que essa comunicação do PR parece ter provocado um cerrar de fileiras num PS até aqui muito dividido.

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    2. Embora eu não seja cavaquista, devo dizer que o discurso do PR foi bem diferente do habitual, e não esteve com subterfúgios, para atacar o PS.

      Não acredito num cerrar de fileiras no PS. Há ainda muitos socialistas que não aceitam um político como o António Costa, que está disposto a tudo para se sentar na cadeira do poder.

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    3. É a sensação que dá, ematejoca.
      O PS não gostou do puxão de orelhas público que Cavaco lhe deu.
      E essas dissensões que pareciam possíveis afiguram-se agora mais afastadas.

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    4. Na verdade, os socialistas cumpriram a ordem do António Costa e o presidente eleito do Parlamento, Ferro Rodrigues, só teve duas abstenções.

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    5. Ferro Rodrigues é um caso muito especial, ematejoca - ele já merecia a presidência do Parlamento.
      Eu sei que rompe a tradição (o presidente da AR vem do partido mais votado) mas Ferro Rodrigues era um candidato muito forte.
      Ainda assim essa disciplina de voto já deixa a ideia que as temidas dissensões não se irão verificar.

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    6. Não, não merecia, Pedro!!!

      Ainda não me esqueci do Presidente da AR andar ligado ao caso “Casa Pia” e conectado à prática de pedofilia.

      O PS tem muitos cadáveres na cave.

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    7. Só depois de escrever isto é que ouvi aquele discurso inqualificável, ematejoca.
      Órgãos de soberania, os mais altos, a atacarem-se mutuamente????
      O PR manda recados aos deputados, o novo presidente da AR, no discurso de tomada de posse, ataca o PR?????
      Esta gente ensandeceu!!!

      A questão da Casa Pia, quando devia ser das que deviam ser esclarecidas cabalmente e com brevidade, foi deixada a um canto.
      Inocente até prova em contrário, ematejoca.
      Por aí não ataco Ferro Rodrigues.
      Já aquele discurso ..... :(

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    8. Compreendo o seu ponto de vista como advogado.
      Eu, como mulher, fiquei sempre com um gosto amargo.

      Uma outra mulher, a jornalista Helena Matos:

      "Os socialistas calaram-se face à forma inqualificável como os dirigentes reagiram ao caso Casa Pia. Depois calaram-se face aos desmandos de Sócrates. E agora vão calar-se perante a estratégia de Costa."

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    9. Começam a ser muitos silêncios, ematejoca.
      Daqueles silêncios barulhentos.

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  11. Parece mesmo dejá vu, Pedro!

    Gostei da analogia com o romance de GGM, a morte também foi profusamente anunciada, mas ninguém se precaveu...

    Como iremos sair deste impasse é a pergunta que se impõe.

    Beijinhos, de uma leiga em manobras políticas, mas suficientemente atenta.

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    1. Infelizmente não tenho resposta para essa pergunta, Janita.
      O PR não dá posse a um governo que integre forças anti-europeístas (PCP e Bloco).
      O governo da coligação PSD/CDS muito provavelmente cairá logo na primeira sessão parlamentar.
      Vamos ficar com um governo de gestão até o novo PR poder marcar eleições??? :(
      Beijinhos

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  12. Boa análise! Confesso que não tinha pensado muito seriamente nesse cenário, mas é de considerar.
    Quanto a mim ainda existem mais dois cenários:
    1.º O governo da coligação é viabilizado à última hora pela abstenção do PS. Tenho esperança que António Costa num assomo de lucidez e de juízo assim proceda.
    2.º O governo da coligação é rejeitado no Parlamento. Cavaco recusa-se a nomear Costa como primeiro-ministro, como no fundo sempre deu a entender. Mantem assim o governo da coligação em gestão até ser possível o futuro presidente resolver a situação. Que deverá ser pela marcação de novas eleições para daqui a um ano. Quanto a mim este último cenário, é mais expectável.

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    1. Depois da comunicação de Cavaco fico com a sensação que o 2º cenário, com tudo o que isso tem de trágico, é o mais provável, Paulo Lisboa.
      Um país adiado :(

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