Dicionário alentejano em verso
No Alentejo temos o nosso latim
a alcunha é anexim
Cesto grande é cabanejo.
Chamam chato ao percevejo
A gorjeta é melhadura
A diarreia é soltura
As fezes inquietações
Mas ó que lindas expressões
Vindas de gente tão pura!
Grande jantarada é pancão
Caramelo é água gelada
Pote de barro é azada
E zebre oxidação.
Homem traído é c*rno
Mulher de mau porte é zorra
Fêmea estéril é machorra
Neste meu vocabulário
Eu ando a ler ao contrário
Isto é que vai uma porra!
Morrinha é epidemia
E sisma é fixação
Desastre é acidente de viação
Chapa é uma radiografia.
Catarral é pneumonia
Deitar fora é aventar
Cagáço é medo a fartar
E retoiças são brincadeiras
Chamam cabras às frieiras
Mas que dialeto invulgar !
Ao vadio chamam gandulo
Girólmo é sempre jerónimo
Um gajo é um homem anónimo
Estar cheio é estar de cagulo.
Ao inchaço chamam matulo
Borrega é bolha no pé
Banco de madeira é ganapé
E cega rega é uma cigarra
Mas que prenuncia bizarra
Parece mentira até !
Velhacas são pessoas más
E trongas mulheres da vida
Multa é murta toda a vida
Sontordia, foi há um tempo atrás.
Chamam sofázes aos sofás
E cova a um grande vale
Monquita é corrimento nasal
Ó áik é abalar à pressa
Para mim não há mais conversa
É um dicionário especial
Tropeço é banco de cortiça
E os trástes são a mobília
Á lagarta chamam rosquilha
Mela e bôbas à preguiça.
Chamam quadra à cavalariça
E aos calos chamam ginetes
Fazer caretas são munetes
Aqui e em todo lado
Eu cá fico admirado
Chamarem às meias aos suquétes
Abuinha é borboleta
Impár é gemer de dor
Fora daqui diz-se; andor
Masturbação é p*nheta.
A mulher trigueira é preta
Mofina é ser egoísta
Quem protesta é comunista
Mas não creio nessa versão
Testó, é para afastar o cão
Ricas palavras à vista
Árencu é pirilampo
Miutera é ponte de pau
Pano de azeitona é laráu
Tubarões são cogumelos do campo.
Entrementes é entretanto
Chamam coito à coutada
Muitos cães, é uma canzuáda
Mas que léxico tão bonito
Se vou sair; eu me quito
Mas volto, não tarda nada!
Cama no chão é camastralho
Concha de buzio é buzino
Ao soco chamam moquino
Copa é roupa de agasalho.
Chamam chinas ao cascalho
E às beatas baronas
Os amendoins são ervelhanas
Carepa é caspa a cair
Como é tão bom ouvir
Estas expressões alentejanas
Escarióte é um ser fugidio
E o armazém é um casão
Cisco é resto do carvão
Esconfique eu desconfio.
Tudo o que é arisco é gentio
E ao orvalho chamam margia
Lamaçal é enxóvia
E as carraças são carrapatos
São estes os meus relatos
Que fiz em versos de um dia
Tráita, é ter certo costume
Buzio é estar embaciado
Borcalho é mal-educado
Luminária é um grande lume.
Ao suco chamam cerume.
Um larila é um maricas
Os tataranhos são riscas
E zarolho é quem vê mal
Neste canto de portugal
Às fendas chamam taliscas
Boca do corpo é a vagina
Regemento é o período pós parto
Chamam sardão ao lagarto
E quinita à joaquina.
Coisa ruim é malina
Lostras são manchas na pele
Um baraço é um cordel
Mais que muitos é muita gente
Brinhol é fartura quente
Na boca do ti manel!
Por fim, direi que é bizarro
Às nádegas chamarem nalgas
E às mulheres ricas fidalgas
E quarta ao púcaro de barro.
Chamam murrâo à cinza de cigarro
E a mascara é uma caraça
Muito barulho é arruaça
E as faúlhas são castelhanos
Estes vocábulos alentejanos
Digam lá se não têm graça?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEu também não conhecia a maior parte, Luciano.
EliminarEstá bestial!
Aquele abraço!!
Pois que se preservem estas preciosidades que são exemplos da diversidade cultural do PaÍs. O comentador refere o mirandês, eu o minderico.
ResponderEliminarEssa diversidade cultural, a riqueza da língua, são património inestimável, Agostinho.
EliminarOlá Pedro.
ResponderEliminarAdorei esse dicionário, muitas usamos aqui, mas outras não. Adorei, muitas dessas palavras vou usar por aqui.
Tenha um ótimo dia.
Anajá.
Termos que são usadas no dialecto alentejano, Anajá.
EliminarE que são efectivamente muito curiosos.
Tenha um óptimo dia também.
~
ResponderEliminar~ Olá, Pedro.
~ Achais graça aos dialetos, sotaques e pronúncias?!
~ Agora, imaginai o que sofre uma professora de Português!
~ Rainhas da paciência, que poucos pensam valorizar.
~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~
Majo,
EliminarO mestre que mais me marcou na minha longa vida escolar foi um professor de português.
Chama-se Abílio Queirós, era jesuíta, há muitos anos que deixou o sacerdócio e que colabora com a Faculdade de Letras (Filosofia, se não estou em erro).
E teve o arrojo de nos ensinar gramática portuguesa (tínhamos 10/11 anos) formando equipas para jogar o concurso televisivo da moda na época - Terra a Terra Minha Gente.
Um tipo fenomenal, inesquecível!!
Beijinhos
Estimado Amigo Pedro Coimbra,
ResponderEliminarComo alentejano que sou, gostei do que li e conheço todos esses termos, e muitos mais que só são usados pelos alentejanos, tal como ao cão chamam canito. A minha esposa quando foi a Portugal não entedia o que mãe dizia e lá tinha eu que servir de interprete. O cantor eborense, meu colega de escola António Pinto Basto tem um fado muito giro cujo link envio.
Abraço amigo
http://youtu.be/OYUvO3vMHiQ
http://youtu.be/OYUvO3vMHiQ
ResponderEliminarEstimado Amigo pedro Coimbra,
ResponderEliminarAgora me recordei de mais alguns termos alentejanos, PANTAMINEIRO = mentiroso, Alcagoita = amendoim, bácoro = porco. Azovia - bofetada, conduto = algo para se comer com o pão etc e tal.
50 anos fora já esqueci alguns termos, mas se os ouvir sei seu significado.
Abraço amigo votos de um óptimo dia.
Essas eu também conhecia, Amigo Cambeta.
EliminarGrande abraço!!
Não ha´direito! Este era o meu post de FDS, mas ia servi-lo em capítulos :-)
ResponderEliminarImitado por antecipação, Carlos :)))
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