A Geringonça senhores, e a Geringonça?

A hecatombe da Esquerda tem, a meu ver, raiz na Geringonça.

A manobra política que esta solução governativa representou foi o pináculo da politiquice, do desrespeito pelo voto expresso nas urnas.

O que, juntamente com a clara inabilidade política de Augusto Santos Silva e Edite Estrela; a viragem à Direita na Europa; o voto de protesto no Ocidente; levou ao crescimento exponencial do CHEGA.

A sobrevivência política de António Costa afinal resultou numa maioria absoluta do PS, fulanizada no próprio António Costa, e no esvaziamento do PS e da Esquerda.

Um esvaziamento que Pedro Nuno Santos e os seus compagnons de route exponenciaram.

Ao encostar-se cada vez mais à esquerda, este PS deixou de ser visto como um porto seguro e passou a ser visto cada vez mais como um partido sem identidade e ideologia próprias.

Curiosamente, movimento semelhante aconteceu com os partidos à esquerda do PS.

Para quê votar no Bloco de Esquerda ou no PCP se acabam por cair nos braços do PS?

Mas, para os votantes nestes partidos, votar no PS também seria esforço demasiado.

E serão precisamente estes votos que em muito terão engrossado a abstenção e o Livre.

Mais a mais após a deserção de António Costa e a forte sensação de orfandade que a mesma representou.

O grito de protesto que este voto representa é tão audível que o reforço da votação no CHEGA aconteceu apesar de todos os escândalos que tiveram o partido como protagonista.

Um partido que, é bom recordar, nem listas completas apresentou.

Mas que é o fiel da balança num Parlamento tão dividido.

A AD não pode governar sozinha.

Nem em conjunto com a IL.

A Esquerda não pode travar a governação da AD.

Ambos estão, queiram ou não, nas mãos do CHEGA.

A menos que AD e PS consigam dialogar e formar uma aliança parlamentar informal.

E voltamos à Geringonça - o PS que pode dialogar, viabilizar e influenciar um governo da AD não é definitivamente o PS que formou e alimentou a Geringonça.