O circo de Istambul

Confesso a minha estupefacção ao ler e ouvir algumas análises acerca do que passou em Istambul.

Considerar aquele circo, aquele espectáculo deprimente, um primeiro passo no sentido de um desanuviar de tensões entre Moscovo e Kiev vai muito além de wishful thinking.

Istambul foi apenas mais uma oportunidade para Putin literalmente gozar com quem ainda lhe dá ouvidos.

Depois de ter humilhado Trump e Rubio, enviando um conjunto de figurinhas, que não passam de meros figurantes, para a reunião em Istambul, Putin humilhou a delegação ucraniana e, indirectamente, Erdogan e a Turquia.

E fê-lo enviando como chefe da delegação russa o revisionista-mor da propaganda russa, o ideólogo da doutrina que vê a Ucrânia como uma parte integrante da Rússia.

A mensagem subliminar é óbvia - Putin mandou alguns idiotas para Istambul para marcar presença.

Mas marcar presença deixando claro que a Rússia não reconhece a Ucrânia como Estado independente, muito menos o Executivo ucraniano como interlocutor válido para algo que exceda a mera troca de prisioneiros que é algo que sucede regularmente em qualquer conflito.

Ainda sem perceber a bofetada, Trump falou ao telefone com Putin (I just called to say I love you??) e veio regozijar-se publicamente com a conversa franca (não seria fraca??).

Não resolveu nada, não adiantou nada, não ajudou nada no seu caminho até ao ansiado Prémio Nobel da Paz, mas foi o suficiente para justificar mais uns títulos na imprensa domesticada e uns posts na rede social de propaganda.