A justiça de Deus e a justiça dos homens

Américo Aguiar abriu nova polémica na sociedade portuguesa. 

A proposta para que seja concedida uma amnistia por ocasião do Jubileu da Igreja Católica é mais um motivo para fracturar um Parlamento já profundamente dividido.

Tenho uma opinião formada acerca do tema desde que me lembro de ser gente.

Misturar a justiça dos homens e a justiça de Deus é uma péssima ideia.

O perdão divino, a ser concedido no seio da Igreja, nunca se deve cruzar com o possível perdão laico, a ser concedido pelos tribunais ainda que com fundamentos políticos.

Separação rigorosa entre Estado e Igreja como axioma fundamental das sociedades modernas.

Argumenta-se que o que se pretende é dar um sinal de esperança num momento em que esse sentimento é tão essencial.

Intenção nobre, caminho e fundamento errado.

E a abrir um precedente perigoso.

O Estado é laico.

E assim deve continuar.

A amnistia concedida aquando da visita do Papa já foi um passo ousado.

Repetir esta ousadia tão pouco tempo depois, e novamente fundamentada na Igreja Católica, é dar um mau sinal num Estado que se pretende laico e inclusivo.

E é fazer imiscuir a Igreja na política criminal, no cumprimento de penas, na reinserção social dos reclusos.

Uma vez mais.

O perdão de Deus não se deve misturar com o perdão dos homens. 

A Igreja pode e deve perdoar aqueles que num momento ou outro das suas vidas prevaricaram.

E perdoá-los com base nas leis da Igreja.

O perdão criminal tem de obedecer a outros fundamentos e tem de ter outros objectivos.

Não uma celebração Católica. 

Comentários

  1. Subscrevo totalmente!
    Beijos e um bom dia

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  2. Nem mais, Pedro!
    Só esta sua frase já dizia tudo:
    "O perdão divino, a ser concedido no seio da Igreja, nunca se deve cruzar com o possível perdão laico, a ser concedido pelos tribunais ainda que com fundamentos políticos."
    Já Cristo dizia: " Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César"...!
    Beijinhos

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    1. Parece que começa a cair no esquecimento, Janita.
      Faz-me muita confusão, confesso.
      Beijinhos

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  3. Opinião de profissional com a qual estou completamente de acordo...
    Historicamente foi longa a luta para separar os dois poderes...
    Enfim, algo para entreter as cabecinhas pensadoras do parlamento.
    Dias bons.
    Beijinhos
    ===

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    1. Sou totalmente favorável a uma rigorosa separação de poderes, Majo.
      Se vamos por este caminho, porque não alargar estes perdões a outros cultos?
      E paramos onde e quando?
      Beijinhos

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  4. Gosto deste cardeal.

    Porém, a ICAR que trate de si e dos seus assuntos internos e não se imiscua nos do Estado. Principalmente, porque deixa impunes violadores e pedófilos da sua própria estrutura. Ainda hoje se desconhece a punição desses criminosos e o que pretende fazer quanto às vítimas !

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    1. Eu também gosto muito dele, São.
      E não é só por ser um fervoroso adepto do FCP.
      Mas está a ir por mau caminho com esta proposta.

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    2. Pelas alminhas do purgatório ( que um Papa já destruiu) não me deixe a impressão de que a clubite o afecta, Pedro !

      Bom resto de semana :)

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    3. É sempre um sinal exterior de bom gosto e bom senso 😉

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  5. Nossa...!
    Concordo plenamente...
    Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.
    Boa semana, Pedro!
    Beijo.

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    1. Precisamente, Tais Luso.
      A visita do Papa já foi pretexto para situação em tudo semelhante.
      Outra??
      Beijo

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  6. Mesmo que não fosse uma opinião de profissional, eu estava absolutamente de acordo. O „wokismo“ de Américo de Aguiar é muito apreciado pela esquerda portuguesa. O Paulo Raimundo está sempre a correr atrás dele. Ele não faltou à festa do AVANTE.

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    1. Gosto dele, Teresa.
      Grande portista.
      Mas aqui está a meter o pé na poça.

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    2. Céus! Virgem Maria!!
      O Pedro já está como alguns eleitores do CHEGA, que dizem que votam no André VENTURA, porque ele é um grande benfiquista.

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  7. Já dizia Luis Marques Mendes no seu comentário semanal, que conceder uma amnistia é prematuro nesta altura, já que foi concedida uma ,quando o papa veio a Portugal.
    Concordo com tudo o que escreveu
    Beijos

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  8. Concordo. A César o que é de César.

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  9. Pedro, estou contigo, não pode nem deve ser doutro modo.
    Estes políticos!
    Grande abraço e tudo de bom

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  10. Concordo plena e totalmente contigo. Se a igreja quiser perdoar os Herodes deste mundo à luz da justiça divina, que o faça. Mas deixe aos laicos o direito e a vontade de praticar a justiça humana. E o sr. bispo de Setúbal vá aguiar para outra freguesia.
    Grande abraço pah

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