A justiça de Deus e a justiça dos homens

Américo Aguiar abriu nova polémica na sociedade portuguesa. 

A proposta para que seja concedida uma amnistia por ocasião do Jubileu da Igreja Católica é mais um motivo para fracturar um Parlamento já profundamente dividido.

Tenho uma opinião formada acerca do tema desde que me lembro de ser gente.

Misturar a justiça dos homens e a justiça de Deus é uma péssima ideia.

O perdão divino, a ser concedido no seio da Igreja, nunca se deve cruzar com o possível perdão laico, a ser concedido pelos tribunais ainda que com fundamentos políticos.

Separação rigorosa entre Estado e Igreja como axioma fundamental das sociedades modernas.

Argumenta-se que o que se pretende é dar um sinal de esperança num momento em que esse sentimento é tão essencial.

Intenção nobre, caminho e fundamento errado.

E a abrir um precedente perigoso.

O Estado é laico.

E assim deve continuar.

A amnistia concedida aquando da visita do Papa já foi um passo ousado.

Repetir esta ousadia tão pouco tempo depois, e novamente fundamentada na Igreja Católica, é dar um mau sinal num Estado que se pretende laico e inclusivo.

E é fazer imiscuir a Igreja na política criminal, no cumprimento de penas, na reinserção social dos reclusos.

Uma vez mais.

O perdão de Deus não se deve misturar com o perdão dos homens. 

A Igreja pode e deve perdoar aqueles que num momento ou outro das suas vidas prevaricaram.

E perdoá-los com base nas leis da Igreja.

O perdão criminal tem de obedecer a outros fundamentos e tem de ter outros objectivos.

Não uma celebração Católica. 

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