Vocês não querem que eu volte?

 

Quem teve a felicidade de ver Jô Soares, recordará por certo uma das muitas brilhantes caricaturas que protagonizou na Globo.

O emigrante que não queria acreditar no que estava a acontecer no seu país e que reagia sempre com a mesma interjeição indignada nas conversas com a esposa - “você não quer que eu volte!”

Todos os que vivem longe da Pátria, seja ela qual for, terão num momento ou outro experienciado um sentimento semelhante, a vontade de gritar vocês não querem que eu volte.

Senti isso já algumas vezes, confesso.

A última das quais com a rábula ocorrida no Estádio do Dragão.

As imagens do ridículo, o árbitro com o telemóvel colado ao ouvido no meio do campo, correm Mundo.

E dão do País a pior das imagens.

Tudo o que vi e li revolta-me e envergonha-me.

E deixa-me perplexo.

Como é possível que uma indústria que movimenta milhões seja gerida de um modo tão arcaico, amador, anedótico?

De certeza vamos ouvir e ler muito mais as discussões de café, os temas das tertúlias das esplanadas.

Foi ou não penalti, foi ou não muito tempo de desconto, o habitual.

Vale o que vale.

Gostava muito mais de ver discutido, para se procurar resolver, o puro amadorismo de um sector de actividade que devia ser altamente profissional.

Mas sei antecipadamente que isso não vai acontecer.