Mudança de paradigma
Vale a pena ler com atenção a última quadra do poema de António Aleixo que hoje publico:
"Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba."
E vale a pena fazer a ligação da mesma com as manifestações que reuniram milhares de pessoas, na sua esmagadora maioria jovens, nas ruas de Macau no passado domingo e ontem.
Querer reduzir a dimensão, o impacto e a génese desses protestos, a uma reacção epidérmica a um projecto de lei, configura um exercício de puro autismo político.
O projecto de lei que deu o mote a estas manifestações foi apenas o rastilho que fez detonar o barril de pólvora do descontentamento de uma classe média cada vez mais consciente dos seus direitos e do seu poder.
Não sei se a actual elite governante alguma vez desfrutou do tradicional estado de graça que tradicionalmente abençoa quem aparece de novo.
Uma equipa governativa sem novidades, desgastada na imagem pelos problemas que ensombraram o mandato do segundo Executivo da RAEM, entrou neste primeiro mandato de Chui Sai On sem esse élan que resulta do benefício da dúvida que é dado a quem chega de novo.
Se esse estado de graça, esse benefício da dúvida, alguma vez existiu, e creio que não, há muito que se esgotou.
Sente-se no dia a dia da cidade, viu-se claramente na dimensão dos protestos destes últimos dias.
Fica a curiosidade de ver como vão reagir as elites que tradicionalmente detêm o Poder em Macau, habituadas a tudo fazer sem sofrer qualquer contestação, a este fenómeno completamente novo.
Chui Sai On caminha indubitavelmente para um segundo mandato como Chefe do Executivo.
Mas terá que ser capaz de um golpe de asa muito significativo (será?!) para fazer reverter o crescente descontentamento que se sente na sociedade.
Descontentamento que, de certeza, também já terá chegado, e também já se fará sentir, ainda que a outro nível, em Pequim.
Sinais de mudança, o comunicado da Xinhua sobre a alteração legislativa...
ResponderEliminar~ De uma veemente explosão deste género, precisávamos nós em Lisboa.
ResponderEliminar~ ~ ~ Um dia agradável e revigorante. ~ ~ ~
~ ~ ~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~ ~ ~
Majo,
EliminarO descontentamento foi crescendo.
E os responsáveis seguiram a postura da avestruz.
Agora, com o berreiro de domingo e de ontem, acham que acordaram.
Beijinhos
Nós já tivemos em Setembro, e eu participei ( a emissão em directo da SIC até abriu comigo), um manifestação gigantesca em Lisboa e não só , mas a coligação PSD/CDS continuou, impávida e serena, a ir além da Troika e a empobrecer o país.- até porque tem o apoio incondicional do reformado de Boliqueime ( não o considero Presidente senão formalmente, porque preferiu , por conveniência receber a reforma em vez do salário do cargo .E eu acho que os franceses têm razão : "Noblesse oblige").
ResponderEliminarOxalá aí nessas bandas as vozes sejam ouvidas de maneira a conseguirem alterações num rumo que não parece ser o melhor.
Voltando à abstenção, claro que é uma forma de abstenção e eu respeito as pessoas que assim pensam, mas discordo porque não vejo qual seja o resultado prático.
Desta vez, pela primeira vez, vi a classe política preocupada com as pessoas que se deram ao trabalho de sair de casa e votarem nulo ou branco, pela elevadissima percentagem atingida.
Quanto à abstenção, o discurso não mudou significativamente...
Ah, acho que a quadra de Aleixo foi muito bem escolhida para mote da análise que faz !
Fique bem, Pedro
Repare no último parágrafo, São.
EliminarO maior medo destes caramelos nem é a insatisfação local.
É o impacto que essa insatisfação tem em Pequim.
Hong Kong dá problemas a Pequim há muitos anos.
Agora também Macau?
É bem capaz de soprar vento do Norte.
E essa nortada é que assusta.
Não se compreende que uma cidade que tem um PIB só ultrapassado pelo Koweit a classe média passe por dificuldades.
Aqui é que se vê brutalmente os ricos a ficarem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
E, quando é assim, o povo acorda.
Errata: " abstenção, claro que é uma forma de expressão"
EliminarPois, se Pequim decide intervir não se augura nada de bom, não.
Realmente, se o PIB é tão alto, não há motivo para a classe média passar dificuldades.
Aqui, embora o labrego do Braga de Macedo tenha o descaramento de afirmar que a classe média foi a que menos sofreu com a austeridade desmedida que a coligação PSD/CDS impôs,o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior: estamos como no Brasil.
Meu Pai disse-me uma vez algo que eu já lera num livro francês( coisa impossível para meu Pai, que só conhecia português): quando as pessoas com instrução e preparação começarem a ver que não têm saída , mas que alguns concentram riquezas e poder deflagrará um conflito armado a nível mundial!
Considero que já estivemos mais longe.
E eu, infelizmente, tenho que concordar, São
EliminarCaro Amigo Pedro Coimbra!
ResponderEliminarAqui está o maior bafafá, porque uma parcela significativa dos meus patrícios, incluindo este reles escrevinhador outonal e insulso professorzinho primário e coordenador pedagógico aposentado, não concorda com a destinação de expressiva verba do Erário Público para a Copa do Mundo Futebolística, enquanto a saúde, educação e segurança pública não cumprem suas funções precípuas estabelecidas em preceitos Constitucionais.
Caloroso abraço! Saudações inconformadas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver
Um problema mundial, Amigo João Paulo de Oliveira - a prioridade, quando se gasta dinheiro público, tem que ser satisfazer as necessidades básicas da população, tem que ser o pão.
EliminarO circo só vem muito depois.
Grande abraço
Por cá a classe média está em vias de extinção graças às políticas de austeridade deste (des)governo que tem carregado forte e feio sobre a referida classe!
ResponderEliminarAqui está a ser conhecida por classe sanduíche, Rosa dos Ventos - nem e suficientemente pobre para beneficiar da assistência social, nem é suficientemente rica para não viver sem dificuldades.
EliminarIncompreensível quando há tanto dinheiro disponível!
Na minha opinião, não é o mundo que nos aldraba; somos nós que aldrabamos o mundo.
ResponderEliminarPor aqui os aldrabões estão muito bem identificados, ematejoca.
EliminarE começam a ser confrontados com essas aldrabices.
Enquanto lia o seu post dei comigo a pensar que, um pouco por todo o mundo, as pessoas estão a despertar para os seus direitos e a regir em conformidade. Eu disse todo o mundo? Enganei-me. Em Portugal somos extra terrestres que não percebem nada do que se está a passar. Cá, na Europa e no mundo.
ResponderEliminarPortugal seguirá esse caminho, Carlos.
EliminarImaginava algo de semelhante ao que está a acontecer em Macau?
Em Macau??!!
E, o que mais me deixa feliz, é que a grande maioria desta malta é gente jovem, com formação, com capacidade de raciocínio, que se recusa a comer o que lhe é posto no prato.
As manifestações raramente são devidas apenas a um erro, ainda que em forma de decreto!
ResponderEliminarBeijocas
O projecto de lei foi só o detonador, Teté.
EliminarO descontentamento já está presente há muito tempo.
E agora chegou a um ponto que os detentores do poder não julgavam ser possível.
Beijocas
O blogger não gosta de mim...
ResponderEliminarO problema é que alguém pôs um potente soporífero na sopa do portuga.
ResponderEliminarSe no tempo do António Aleixo já andava a dormir, imagine-se a potência da dose...
Mas um dia acorda, Agostinho.
EliminarE quando acordar vai ser uma chatice