Mau comportamento é fruto da educação dada pelos pais desde o berço



As práticas educativas parentais desde o nascimento dos filhos são responsáveis, em noventa por cento dos casos, por comportamentos inadequados como o bullying e a indisciplina escolar, defende em livro o investigador e psicólogo Luís Maia.

"E Tudo Começa no Berço", é o título do livro no qual o autor defende que é desde o nascimento da criança que se desenvolvem grande parte das suas características, positivas ou negativas.
"Perdoem-me pais, mas a culpa de muitos de nós não termos controlo sobre o comportamento dos nossos filhos, estou convencido, não é dos filhos, nem da sociedade: é nossa", escreve o autor alertando para a necessidade de os pais estarem mais presentes na vida dos filhos.
Partindo de exemplos práticos, Luís Maia pretende demonstrar como a desresponsabilização dos membros familiares e educadores próximos das crianças e adolescentes apenas contribui para a acomodação a uma sociedade desumanizada.
Então haverá ou não uma relação entre o comportamento das crianças e a forma como são educadas desde bebés? Na opinião do psicólogo, baseada em 20 anos de prática clínica, essa relação é bem evidente e manifesta-se em 90 por cento dos casos.
"Na minha opinião cerca de 90% da responsabilidade do comportamento inadequado das crianças e adolescentes está sedeado nas práticas educativas nos primeiros dias e anos da criança", disse em declarações à Lusa, adiantando que na maioria dos casos são os pais que precisam de ajuda para se reorientarem na educação dos seus filhos.
Luís Maia explica que nos milhares de casos que já atendeu, quando começa a investigar as causas dos comportamentos inadequados das crianças quer sejam de indisciplina escolar, de violência contra os pares ou de outras atitudes antissociais, na maioria das vezes os pais foram orientados percebendo que eram as suas práticas educativas que deveriam ser alteradas.
A má prática educativa, explicou, ocorre em todas classes socioeconómicas e mesmo em ambientes familiares normais quando por exemplo os pais se desautorizam em frente à criança, quando quebram rotinas ou quando delegam competências.
A sociedade, defende o autor em declarações à agência Lusa, desaprendeu a arte de educar os filhos e a comportarem-se em sociedade, delegando nas estruturas essa responsabilidade. Uma aposta que considera errada.
A educação desde o nascimento, diz, determina efetivamente o percurso de uma criança, porque "tudo começa no berço" à exceção de uma pequena minoria em que há de facto problemas no desenvolvimento ou distúrbios psicopatológicos.
O livro é baseado em vivências e casos reais, fruto da experiência do autor no acompanhamento de jovens e famílias.
Trata-se de um guia com informações dedicadas à boa aplicação da prática educativa, para pais, educadores, cuidadores, educadores de infância, professores dos mais variados níveis de ensino, psicopedagogos, psicólogos, técnicos de saúde mental, entre outros.

Lusa, 26 Fev. 2012

Comentários

  1. Concordo com o que o psicólogo afirma. Os pais deveriam ser todos assim. Mas não são. Não há pais perfeitos. Concordo que os pais também têm de se adaptar, ajustar, reconsiderar certas práticas pois não há manuais direcionados para os seus filhos em particular e cada criança é única. Fiquei com curiosidade. Teria o psicólogo abordado o tema “peer pressure”? Afinal, de uma maneira geral, as crianças passam mais tempo com os seus colegas do que com os pais. É que mesmo com bases sólidas, os desvios – do percurso perfeito – são uma possibilidade.
    Numa sociedade globalizada é difícil não interagir com pessoas de outras culturas, muito diferentes da sua, que causam atritos, antagonismos, violência no seio familiar e que leva os filhos a condutas imprevisíveis, filhos estes que tiveram até então comportamentos irrepreensíveis.

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  2. Catarina,
    Julgo que o tema, e o livro, dão sequência e procuram ser resposta para uma série de acontecimentos, mais ou menos recentes, que chocaram os portugueses.
    E que, invariavelmente, caíram na resposta fácil da culpabilização da sociedade.

    Quando estava a ler a notícia, lembrei-me da família Portas dos comentários da mãe (Helena Sacadura Cabral) e do Paulo Portas, ambos num programa qualquer do Herman.

    O Herman entrevistou a mãe e comentou que deveria ser complicado manter a disciplina em casa quando se é mãe do Paulo Portas e do (falecido) Miguel Portas (ainda há a Catarina Portas que também é terrível).
    A Helena Sacadura Cabral ripostou:
    "Era o que faltava! Eu ainda sou a mãe! Quero lá saber se um é ministro, o outro deputado, ou coisa que o valha. Eu sou a mãe!!!"

    Muito pouco tempo depois, o Paulo Portas é entrevistado no mesmo programa e é confrontado com as declarações da mãe.
    A resposta dele é a resposta que é dada neste artigo - "sabe, Herman, acima de tudo, hoje em dia há uma grande falta de pais. Que efectivamente, lá em casa nunca se sentiu".

    Catarina,
    Tenho duas filhas.
    Que adoro mais que tudo e como nunca pensei que se pudesse adorar alguém.
    Não posso (podemos, eu e a mãe) controlar tudo.
    Mas procuramos estar lá para elas.
    Sempre.
    E ser, ao mesmo tempo, pais e amigos.
    É, simultaneamente, complicado e fascinante.
    Uma aventura linda!

    Sem guia, sem manual de instruções, mas com algumas pistas que todos devemos conhecer e seguir.
    Se o fizermos, os desvios, sendo sempre possíveis, serão sempre mais difíceis de acontecer.

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  3. Pedro,

    concordo com o escrito de Luís Maia, no entanto, e por experiência própria sinto que educar crianças é uma tarefa absorvente, desgastante e, ao mesmo tempo, um desafio para os pais.

    Quer eu, quer a minha mulher temos profissões desgastantes e exigentes, como o Pedro sabe eu sou jurista num Gabinete Ministerial e a minha mulher é Juíza de Direito, mas nunca faltamos nos momentos importantes da vida das nossas três filhas, nem que tal implique uma ginástica e um contorcionismo endiabrado da nossa parte.

    Como o Pedro afirmou "sermos, ao mesmo tempo, pais e amigos" é uma tarefa hercúlea, porém, temos conseguido com maior ou menor dificuldade, e elas sabem que quem ditas as regras do jogo são a Mãe e o Pai sem margem para grandes negociações, apenas uns ajustes.

    Caro amigo, tento ser o melhor pai possível, pois não me posso queixar da educação que recebi e ainda recebo dos meus pais, só o tempo o dirá se fui bem sucedido.

    Aquele abraço!

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  4. Caro confrade Pedro Coimbra!
    Reconheço que a família exerce papel preponderante na formação dos filhos... Por conta do meu árduo/fascinante ofício me deparo diariamente com a dificuldade que os alunos têm em se adequar as normas estabelecidas na convivência escolar e este é um dos grandes desafios da escola, que é tornar um fato um dos pilares da educação, o aprender a conviver.
    É constrangedor quando somos obrigados a solicitar a presença dos pais e nos damos conta que o aluno reflete o meio em que vive...
    Caloroso abraço! Saudações familiares!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  5. "elas sabem que quem ditas as regras do jogo são a Mãe e o Pai sem margem para grandes negociações, apenas uns ajustes.

    Caro amigo, tento ser o melhor pai possível, pois não me posso queixar da educação que recebi e ainda recebo dos meus pais, só o tempo o dirá se fui bem sucedido."

    Em primeiro lugar, e pelo que nos vamos conhecendo, aposto no seu sucesso nessa tarefa fascinante, Ricardo.
    Porque deixou bem claro que há regras, que são explicadas, que são entendidas, que são aceites.
    Ou seja que, havendo regras, há diálogo.
    Não podemos fazer mais, Ricardo.
    E isso já é muito.
    Tenho quase 48 anos.
    Estou no outro lado do Mundo.
    Mantêm-se as regras lá de casa.
    Que eu sempre conheci.
    E que nunca foram impostas à chapada nem coisa que o valha.
    A maior parte das vezes, um simples olhar dizia, e ainda diz, tudo.
    Acho que aprendi essa técnica :))
    Aquele abraço


    Prof. João Paulo de Oliveira,
    A tarefa de um professor, que deve ser fascinante, terá por certo momentos dramáticos.
    Sobretudo esses em que o professor se depara com alunos que não têm a mais pequena ideia do que é a existência de normas de comportamento, de regras de convívio.
    Porque, como eu explicava à Catarina, se confrontam com a ausência dos pais.
    Aquele abraço

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  6. Caro Pedro
    Post oportuno.
    Concordo em obsoluto!
    Abraço
    Rodrigo

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  7. Pedro,
    Confesso que não vi novidade nenhuma no livro. Parece-me tudo um déja vu.
    Sorry!:)
    Beijinho.

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  8. Rodrigo e ana,
    O livro é um grito de alerta.
    Tem teorias e técnicas revolucionárias, novidades extraordinárias?
    Não.
    Mas, muitas vezes, é preciso dar um murro na mesma.
    Nem que seja para dizer o óbvio
    Abreijos

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