O erro bom e o erro mau
Vítor Gaspar, o contabilista--mor do regime, aquele que transmite a
ideia que
nunca erra e que raramente tem dúvidas, disse, no seu tom
soletrado, que
errou sobre a previsão do corte no subsídio de Natal e
de Férias dos
portugueses. Passo a explicar.
Todo o Governo afirmou em peso que os
cortes eram temporários e
vigoravam apenas em 2012 e 2013.
O nosso
ministro veio dizer que se enganou, que teve um lapsus
linguae, que os cortes
vão até ao ano de 2015, o ano, como disse,
"imediatamente consecutivo a
2014".
Tem piada, o ano de 2015, imediatamente consecutivo a
2014.
O País não é uma escola e os portugueses não são alunos de Vítor
Gaspar.
O humor negro é dispensável quando se fala de problemas sociais,
de
miséria, de pobreza escondida e de falta de dinheiro para o
sustento
digno das famílias.
Soletra as palavras, fazendo lembrar
alguém de outros tempos negros da
história de Portugal, como soletra a vida
dos portugueses.
O erro de Gaspar é um erro mau que mexe com o orçamento
das famílias,
deixando suspensas as suas vidas.
O erro bom é aquele
que não tem consequências nem reflexos sociais,
que não é ofensivo da
dignidade do ser humano.
O erro mau de Gaspar é indigno, amachuca e
amarrota a dignidade dos
portugueses. Magoa falar assim da vida das pessoas.
Todos nós podemos
errar. Mas errar com esta simplicidade e com esta
justificação, com um
sorriso nos lábios, é que não.
O confisco por
mais tempo, que deixa suspenso, de forma ilegal e
inconstitucional, direitos
adquiridos, por causa de um lapso, não é
aceitável.
O erro é mau e
intencional, tendo Gaspar agido com consciência da
ilicitude, logo, passível
de responsabilidade. Não é um erro
desculpável, que exclua a culpa.
O
erro é o reflexo da incompetência, sendo intencional, é mais grave,
porque é
injusto e transforma a vida das pessoas num circo. Será que o
erro foi
intencional porque não havia coragem política para
justificar, no momento, um
corte tão prolongado?
Então, passamos a estar no território da mentira e
não do erro. A ser
assim foi a forma que encontrou para preparar o elo mais
fraco da
cadeia, os trabalhadores, para a brutalidade do corte,
transformando-o
em definitivo.
Três anos de massacre social e de
indigência é demais.
Dizia, assim, Frederico II, o Grande, Rei da
Prússia: "A trapaça, a
má-fé e a duplicidade são, infelizmente, o carácter
predominante da
maioria dos homens que governam as nações".
12 Abril 2012
Por:Rui Rangel, Juiz Desembargador
Por:Rui Rangel, Juiz Desembargador
"O Estado das Coisas"
Correio da Manhã
E eu assino por baixo do Exmº Desembargador!
ResponderEliminarAbraço
Um tipo que tem uma cultura extraordinária, Ricardo.
ResponderEliminarPor isso comentava no seu blogue que, esquecendo aquelas parvoíces sensacionalistas que deram fama ao Correio da Manhã, há ali gente a escrever muito bem.
Abraço
O RR também não é flor que se cheire, Pedro. Viu a sentença dele sobre o caso de corrupção do Sá Ferenandes? Um nojo!
ResponderEliminarA família Rangel, Carlos.
ResponderEliminarMas lá que é culto e inteligente, lá isso é.
Conheço a sentença de que fala, sim senhor.