Conferências de imprensa e decisões judicias muito estranhas


Pouco tempo depois de chegar a Macau, avisaram-me que não seria de bom tom falar nas especificidades de Macau.
Porque poderia ferir algumas susceptibilidades.
Ainda que assim seja, e continuo sem perceber bem porquê, é inevitável fazer referência a algumas especificidades de Macau.
O dia de ontem foi pródigo em exemplos dessa realidade.

- Convoca-se uma conferência de imprensa para anunciar que a fórmula escolhida para a concretização da reforma política na RAEM é a conhecia "2+2+100".
Que grande novidade!!
Depois, quando se tenta saber pormenores (exactamente quando foi tomada tal decisão, por quem, com base concretamente em quê,....) não há resposta.
É um assunto sigiloso, secreto até.
Então convoca-se a conferência de imprensa para quê?!

- Um jornalista do South China Morning Post foi impedido de entrar na RAEM no dia 1 de Maio.
Porquê?
Motivos de segurança interna foi a resposta oficial.
Em que medida é que o jornalista ameaçava a segurança interna da RAEM, porquê, o que é que tinha feito para merecer o estatuto de persona non grata?
Não se pode divulgar, é secreto.
Então convoca-se uma conferência de imprensa para quê?!

-No Tribunal de Última Instância, Ao Man Leong, o ex-secretário caído em desgraça, mais de cinco anos depois do início dos seus intermináveis julgamentos, falou.
Para dizer que quatro documentos que a testemunha do CCAC apresentava ao Tribunal tinham uma caligrafia que não era sua.
Requer então que seja ordenada uma perícia para averiguar qual a proveniência e autoria dos documentos.
A testemunha, ripostando, declara que não afirmou que os documentos apresentados haviam sido elaborados por Ao Man Leong.
E o Tribunal decide que não é necessária qualquer perícia.
Mas, que se saiba, também não manda destruir os referidos documentos.
Sem se saber qual a sua autoria, porque é que continuam juntos ao processo?
Não se pode saber porque, isso mesmo!, é secreto.

E não se pode falar nas especificidades de Macau?
Sublinho, são especificidades tão específicas que é impossível ignorá-las.

Comentários

  1. Ora aí está, Pedro!

    As conferências de imprensa quer sejam a Oriente, quer a Ocidente vem com uma mão cheia de nada e outra cheia de coisa nenhuma!

    É para isso que servem, não é?

    Preferia que, em vez de as intitularem de Conferências de Imprensa, fossem honestos e as denominassem de Comunicações!

    Abraço

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  2. Que bem me lembro das "especificidades" de Macau que serviam para tantas justificações injustificáveis, Pedro!

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  3. Ricardo,
    Para uma coisa destas, faz-se um press release (em estrangeiro até tem outra pinta, não é?), um comunicado qualquer, um fax, um "emilio", seja lá o que for.
    Uma conferência de imprensa pressupõe a existência de contraditório, de perguntas e respostas.
    Se fosse jornalista, numa situação destas levantava-me e ia embora.
    Aquele abraço


    Especificidades que se mantêm pós-99, Carlos.
    Algumas ainda mais específicas como se pode constatar.
    Um abraço

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  4. Há coisas que são sempre iguais independentemente das latitudes. :)

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  5. Pedro,
    Que inveja! (No bom sentido) Adoro desenho e ópera, aliando as duas artes adorava ter um dos desenhos.
    Parabéns por ter esse achado.
    Quanto à especificidade de Macau, julgo que é milenar, não é? Quando havia negócios falava-se de tudo, bebia-se chá e no fim, já de partida, é que se falava no negócio, não era assim? :)
    Beijinho. :)

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  6. Coimbramigo

    Sempre que fui a Macau - e várias vezes isso aconteceu - tive a oportunidade de observar as especificidades. Desde 1978 até 1996 foram uns largos anos, umas quantas viagens, algumas estadias e muitíssimas especificidades.

    Quanto às ditas conferências de imprensa, nem pio. Participei em tantas, que já nem me lembro do kisso é. A tentar fazer perguntas e a tentar responder a perguntas. Estar-se em Goa éké bom. E sussêgado. Sem coisas dessas, com caril e cocos verdes. Caté

    Abç

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  7. FireHead,
    Eu diria que há coisas (especificidades) em Macau que não mudam.
    Ontem, uma responsável dos Serviços de Educação (!!!) falava em incentivar financeiramente o ensino de línguas estrangeiras nas escolas particulares.
    Por exemplo, o portugês, o mandarim, o inglês,....
    E ninguém lhe diz que o português e o mandarim é que são as línguas oficiais cá do burgo?
    Se calhar vou ter que lhe dizer eu!


    ana,
    Gosto muito de antiguidades.
    E possuo algumas.
    Parte que me foi dada, outras que fui adquirindo.
    No meio dessas preciosidades estão, por exemplo, alguns manuais, um Código Civil, o anel de curso, da primeira senhora que se licenciou em Direito em Portugal.
    Irmã da senhora que mos deu.

    No que se refere às especificidades, veja ao ponto que chegaram, ana:
    Agora, mesmo no fim, não se fala no tema da conferência de imprensa!! :))
    Beijinho


    FerreirAmigo,
    Insisto, se eu fosse jornalista, num cenário destes, pirava-me.
    Mas isso sou eu que, às tantas, sou bruto.

    Ando há muito tempo para ir visitar Goa.
    E hei-de ir, se hei-de!!
    Abraço

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  8. VICI,
    Andam a gozar cononosco, só pode ser isso.
    Hoje vai outra cacetada para o fds.
    De Macau e de Portugal.
    Anda tudo doido?!

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