Não gosto nada de concordar com Tsui Wai Kuan...

Tsui Wai Kwan está nos antípodas do que sou como pessoa e dos valores que defendo enquanto cidadão.
Como tal, é muito raro concordar minimamente com as posições expressas pelo deputado nomeado pelo Chefe do Executivo.
Uma dessas raras ocasiões aconteceu ontem por ocasião do debate acerca da reforma do sistema político em Macau.
E concordo com Tsui Wai Kwan num ponto.
E é mesmo num só ponto.
Quando este enumera as prioridades da população.
A saber -  políticas de habitação, trânsito e transportes, o emprego e a inflacção.
Serão estes os tópicos que o deputado julga essenciais para que sejam elaboradas umas LAG "pragmáticas" (por mais que sejam os anos de permanência em Macau acho que nunca vou conseguir evitar um sorriso perante este vício de constante adjectivação de todos os assuntos em discussão!).
Tenho a mesma sensação que Tsui Wai Kwan.
São estas as questões que realmente preocupam uma grande fatia da população.
Mais, julgo que a discussão acerca da evolução do sistema político é totalmente alheia a uma maioria muito significativa dos residentes.
Várias vezes recorre-se, a meu ver precipitada e erradamente, ao número de votos conseguidos pelos chamados democratas, incluindo aqui não só os membros da Associação do Novo Macau Democrático, mas também Pereira Coutinho, Agnes Lam, Paul Pun, para contradizer esta percepção.
O argumento é simples.
Mais correctamente, é simplista - se estas forças políticas são as mais votadas, então a população quer ver implementada rapidamente uma reforma do sistema político.
O sufrágio directo e universal.
O silogismo padece de um maniqueísmo quase pueril.
O voto nas forças políticas supracitadas não é um voto favorável à  reforma do sistema político.
É, isso sim, um voto de protesto.
Um protesto que tem como destinatários precisamente os Tsui Wai Kwan de Macau.
A população está cansada, farta, enjoada, de ver a política local dominada pelas mesmas famílias, pelas mesmas pessoas.
Que estão presentes em todos os domínios da vida pública.
Que controlam a economia, a política.
Que repartem entre si a riqueza gerada.
Que é cada vez mais.
E que chega cada vez menos à classe média/baixa.
É esse o sentido do voto naquelas forças políticas.
Um voto dos excluídos naqueles que sentem que mais se aproximam do seu estatuto.
E que são os únicos que podem dar voz ao descontentamento e à revolta que sentem.
Poderão dizer-me que seria este então um óptimo argumento para implementar o sufrágio directo e universal.
De acordo.
Mas não é esse o sentido do voto expresso, insisto.
Nem é essa a intenção e a percepção dominante dos votantes.
Tsui Wai Kwan detecta bem as preocupações mais pungentes da população.
Que até lhe interessa realçar.
Enquanto forem essas as preocupações essenciais, Tsui Wai Kwan,  e outros como ele, estarão em "win-win situation".
Não serão afastados dos centros de decisão fruto da implementação de reformas políticas, por um lado.
Por outro, poderão responder a esses anseios da população através da vasta rede tentacular de negócios que exploram.
Melhor que isto....
É, mais uma vez, o cartaz da campanha de Clinton que está sempre presente.
Nos Estados Unidos, em Macau, na China - "It's the economy, stupid!"

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