Crueldade e incúria


Reguengos de Monsaraz saltou de repente para as primeiras páginas dos jornais.
Não por causa da sua pacatez, da variedade e qualidade de oferta turística, do consagrado vinho, mas porque foi o último palco de uma miserável tragédia.
Repete-se à exaustão, e um pouco por todo o Mundo, o título do filme “Este país não é para velhos”.
Infelizmente, à medida que a esperança de vida aumenta, somos mais e mais confrontados com revoltantes situações de países que não são para velhos.
Os pormenores que se vão conhecendo do que era a realidade do lar de Reguengos de Monsaraz são aviltantes.
A crueldade de fazer sobreviver pessoas no final das suas vidas naquelas horrendas condições é incompreensível.
Actividades económicas que são licenciadas, que devem ser fiscalizadas em permanência, não podem descambar em autêntico suplício para os seus utentes.
Receio que toda a revolta que agora se sente e manifesta seja apenas nuvem passageira.
E que haja muitos mais lares a operar nesta indignidade.
Em países que não são para velhos convém não esquecer que um dia, se tivermos sorte, também todos nós seremos velhos.

Comentários

  1. É como alvitra, Pedro. Há mais. Muitos mais. Tratamos muito mal os nossos velhos. A começar pelas famílias que ali os depositam como bagagem indesejada e que, tanta vez, nem sequer os visitam, quanto mais preocuparem-se com as condições em que vivem. Note-se que vivo num lugar onde existem duas organizações que tratam dos velhos em sua casa: levam as refeições, fazem as tarefas domésticas, lavam e passam a ferro, fazem a higiene aos acamados, dão a medicação. E cada utente paga na medida da sua reforma. Pois, ainda assim, os lares, todos particulares, proliferam e estão à cunha. O que significa isto? Pois só pode significar uma coisa: que levar os velhos para o lar é descansar deles em definitivo. É que, estando em sua casa sempre existe a obrigação de os visitar regularmente, de vigiar, de.
    Tenho para mim que a ida para um lar , numa localidade como esta, servida por instituições que preservam a estada em casa própria, devia ser medida extrema e só aplicável se a demência ou o mau feitio os invade e torna inoperante o trabalho de instituição e família. Aí, tanto lhes dá este como aquele lugar e ficam mais protegidos de si mesmos.
    Quanto há a fazer neste campo!

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    1. Acima de tudo a ida para um lar nunca pode ser uma condenação a maus tratos, bea.
      Na civilização do imediato é difícil cuidar-mos uns dos outros.
      Mas não se pode maltratar ninguém.
      Muito menos no Outono da vida.

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  2. Bom dia
    Quando se vem a saber estas noticias na comunicação social , há uma revolta da sociedade em geral contra tudo e contra todos , mas passados umas ligeiras semanas , já ninguem ouve falar mais no assunto e continua-se a ignorar toda esta situação , até que volte a surgir algum novo caso para voltar-mos novamente ao mesmo .
    Enfim tudo como dantes no quartel de Abrantes .

    JR

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    1. Esse é o meu receio, Joaquim Rosario.
      Daqui a dias deixa de ser notícia.

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  3. A revolta dura pouco. Antes do covid , quantas vezes ouvimos nas notícias que a S.S fechou um lar onde por denúncia tinham descoberto vários idosos, em condições sub-humanas?
    Depois de cuidar durante vários anos da minha mãe, e numa situação em que não podia continuar a fazê-lo, vi-me obrigada a colocá-la num lar. foi para um lar pequeno, a 200 metros da casa onde sempre viveu, e onde nunca detectei maus tratos. Via-a todos os dias, estava num quarto com outra utente, deixaram-me levar para lá um pequeno móvel, uma televisão e algumas molduras com fotografias. permitiam-nos a mim ou ao meu irmão, levar-lhe almoço, quando fazíamos algum prato de que ela muito gostava, enfim pelo que vi, e pelo que ela me dizia, não podia ter sido mais bem tratada. Infelizmente não é o que se ouve de outros lares,
    Abraço e saúde

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    1. A esperança de vida aumentou, Elvira.
      E vai continuar a aumentar.
      Mais a mais hoje em dia somos todos cidadãos do Mundo.
      A era de ficar ao pé da casa onde se cresceu a cuidar dos mais velhos já passou e não volta.
      As sociedades têm que se preparar para cuidar dos mais velhos.
      Algo que, repito, com alguma sorte, um dis seremos.
      Abraço e saúde

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  4. O que se passou no lar em Reguengos de Monsaraz é muito grave e configura, mesmo, um caso de polícia.
    Ficamos à espera dos próximos episódios, cientes de que a Justiça anda aos trambolhões e deixa muito a desejar.
    Resta perguntar quantos casos semelhantes existem. Uma pergunta para a qual seria interessante conhecer resposta.
    Um abraço

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    1. Mas que raio de fiscalização têm os lares, António?
      Anda tudo a dormir?
      Aquele abraço

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  5. E se não me engano era um lar das Misericórdias e que na reunião de ontem com o Governo o representante das mesmas apelaram mais apoios. No meio deste horror o que fez e faz a Igreja Católica?
    Felizmente e até agora o Lar onde está a minha mãe(24 utentes)não tem falhado em nada e pelo incrível que pareça os lares legais são mais inspeccionados que os não legais e sobretudo os das Misericórdias que quando procurava um...vi coisas que não te passa pela cabeça .
    Um problema com décadas, mil e uma queixas e não se fez nada.
    Também algo muito estranho que vi no da minha mãe e que duas ou três utentes não tinham qualquer visita familiar ou até de amigos e agora é que aparecem muito preocupados. Como?

    Beijos e um bom dia

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    1. Os lares licenciados terem mais fiscalização é normal, Fatyly.
      O que não é normal é haver lares que não sejam licenciados ou onde a fiscalização seja feita a pontapé.
      Beijos

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  6. É a triste realidade de muitos lares infelizmente...

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  7. Fiquei chocada com o que vi e ouvi.
    Agora tentam-se apurar responsabilidades, mas temo que esta celeuma, seja sol de pouca dura.

    Beijos Pedro

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    1. É revoltante, Manu.
      É assim que tratamos os nossos velhos?
      Beijos

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  8. Infelizmente muitos lares funcionam desta maneira trágica e palpita-me que pós pandemia nada se alterará.

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    1. Esta escumalha, se não tem sentimento, ao menos não percebe que um dia pode ser utente??

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  9. É o Ministério de Segurança Social e respectivos orgãos inspectivos que temos, Pedro.
    Aquele abraço.

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    1. Afinal andam a fazer o quê, Ricardo?
      Não se vê esta miséria?
      Aquele abraço

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  10. Só espero que a ser tudo verdade os culpados sejam julgados. Há coisas que são inadmissíveis.
    A fiscalização é necessária, mas não pode ser a culpada. De contrário, seriam necessários muitíssimos mais fiscais e o país não tem (nunca teve) dinheiro para fiscalizar tudo e todos.
    Bom fim de semana, caro Pedro.
    Abraço.

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    1. Tem que ter, Jaime Portela.
      Nunca o Estado, qualquer que seja, pode licenciar uma actividade sem ter a certeza absoluta que a pode fiscalizar.
      Se for assim a licença não serve para nada.
      Aquele abraço

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  11. É muito triste ler notícias como esta! Triste realidade. Para o que estamos guardados!!
    *
    .
    Beijo e um excelente dia!

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    1. A resposta para a Cidália apareceu no comentário da Lizzie.

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  12. Notícias assim são tristes demais :(

    https://itslizzie.space/

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  13. Nunca Reguengos de Monsaraz, foi tão falado como, está sendo, agora. Na minha opinião, os responsáveis pelo que aconteceu, em vez de se acusarem uns aos outros.
    Já que não conseguiram evitar a tragédia. Devem, agora, tomar as medidas adequadas para que situações semelhantes não se repitam.

    Continuação de boa semana. Um abraço.

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    1. Reguengos está a ser célebre pelas piores razões, amigo Eduardo.
      Aquele abraço

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  14. Muito triste ao saber dos pormenores que agora estão a ser noticiados. Este país ainda é para velhos pois felizmente nem todas as instituições ou lugares de acolhimento dos nossos seniores se podem comparar a este ou outros que se pautam pela decadência do ser humano. Eu acredito que casos pontuais proliferem aqui em Portugal e na maior parte do mundo e acredito também que a maioria são lugares dignos.

    Um beijinho para si Pedro, estou de regresso!

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    1. Os pormenores arrepiam, mz.
      Não se pode tratar as pessoas assim.
      Mais ainda numa fase da vida em que necessitam de apoio e carinho.
      Beijinho

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  15. Respostas
    1. Este é dos tais tópicos que deve provocar reacções próximas da unanimidade.

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  16. Este parágrafo que escreveste, diz tudo:
    "Em países que não são para velhos convém não esquecer que um dia, se tivermos sorte, também todos nós seremos velhos."

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  17. Infelizmente a maioria dos lares neste país não têm o mínimo de condições.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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    1. O que é absolutamente incompreensível, Francisco.
      Aquele abraço

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