Oito factos sobre a selecção de futebol
No dia que se disputa um jogo essencial para o futuro da selecção neste Europeu (ou ganhamos, ou ganhamos, ou........vamos embora se não ganharmos) vem mesmo a propósito.
Facto n.º 1: o sucesso da selecção determina o sucesso do país. Talvez,
sobretudo se tomarmos em conta o caso da Grécia, que 2004 ganhou o campeonato
europeu e desde então vem progredindo sem parança (a Espanha, que ganhou o
"europeu" seguinte e um "mundial" de brinde, também não se saiu mal). O
princípio é o de que as conquistas no futebol se repercutem no resto: se onze
jogadores provarem que são os maiores dentro do campo, dez milhões de
portugueses provam automaticamente que são os maiores fora dele e a sra. Merkel
sofrerá um vexame sem nome. Muito bem. Mas a validade do pressuposto exige que
levemos a sério o seu reverso, ou seja, que aceitemos as derrotas na bola
enquanto um sinal inequívoco da nossa inferioridade geral. Uma eliminação
humilhante no Europeu deverá levar o povo às ruas aos gritos de "Somos os
menores!". Já um lugar honroso que não o de vencedor legitimará os berros de
"Somos assim-assim!".
Facto n.º 2: os jogadores da selecção são um exemplo para os jovens. Sem
dúvida. Qualquer sujeito que não estudou, confiou na habilidade para os
pontapés, conseguiu um emprego raro e fartamente remunerado no Real Madrid ou no
Chelsea, aplica os rendimentos em automóveis de luxo, é incapaz de produzir uma
frase em português corrente e enfeita o físico com jóias, tatuagens e penteados
belíssimos constitui o modelo que os pais conscienciosos devem impor à
descendência. De resto, a alternativa passa pelas Novas Oportunidades ou,
erradicadas estas, pelo Impulso Jovem, que também promete.
Facto n.º 3: a vitória no campeonato europeu dissipará o clima de tristeza
que se vive em Portugal. Claro que sim, logo que admitamos andar tristes por
falta de triunfos simbólicos no desporto internacional e não por excesso de
desvarios materiais na vidinha quotidiana. Se os nossos problemas se resolvem
mediante remates certeiros é sinal de que os nossos problemas não se prendem com
o défice, a dívida, a austeridade, as falências e o desemprego, ao contrário do
que vulgar e equivocamente se refere. A troika? Um bode expiatório. A solução?
Investir no futebol, ganhar torneios (este ou os próximos), organizar torneios,
construir mais meia dúzia de estádios e "infra-estruturas" sortidas, apelar à
epopeia dos Descobrimentos. Não pode falhar.
Facto n.º 4: o futebol é o sector mais bem gerido do país. Então não é? Nem
vale a pena falar nos clubes, os quais, ao contrário das empresas comuns (os
supermercados, por exemplo), nunca se agridem com violência verbal ou física nem
oscilam entre passivos monumentais, ordenados em atraso e a pura extinção.
Fale-se na "equipa de todos nós", que costuma sair das competições com grande
dignidade e que ajuda a balança comercial tanto quanto a exportação de
microprocessadores.
Facto n.º 5: a celebração prévia das proezas da selecção é normal. Pois é. Em
noventa e um anos de história, a selecção acumulou zero títulos. Se não se
festejar antes, o que se festeja depois?
Facto nº 6: a cobertura noticiosa da selecção é a adequada. Até certo ponto.
Ainda há uns pedacinhos da programação televisiva que não estão preenchidos com
as notícias da selecção, os treinos da selecção, as conferências de imprensa da
selecção, os "painéis" de comentário à selecção, o lado pitoresco do dia-a-dia
da selecção, as polémicas da selecção, a euforia dos adeptos da selecção e os
anúncios dos patrocinadores da selecção. Bem sei que o almoço da selecção na
Fundação Champalimaud foi devidamente relatado, que a essencial recepção à
selecção em Belém foi transmitida em directo e que um repórter orgulhoso
informou a pátria de que a selecção sobrevoou a Alemanha para chegar à Polónia
(a expectativa, pelos vistos, era de que sobrevoasse o Zaire). Mas continuo sem
saber a cor favorita de Fábio Coentrão ou a morada da manicura de Ricardo Costa.
Aliás, continuo sem saber quem é Ricardo Costa.
Facto n.º 7: as críticas à selecção são inconvenientes. Obviamente. A
gravidade da hora pede união, espírito nacionalista, 11 por todos e todos por
11. Se a selecção sair enxovalhada do "europeu", com todas as consequências
calamitosas para o nosso futuro daí decorrentes, a culpa será das más-línguas
que abalaram a confiança dos rapazes. Se a selecção ganhar o "europeu", com
todas as maravilhas daí resultantes, o mérito será dividido entre os patriotas
que nunca duvidaram. Mas desconfio que o prémio monetário não.
Facto n.º 8: os portugueses acreditam na selecção. É inegável. Até eu, que
não quero saber da selecção para nada, acredito nela na medida em que ela
comprovadamente existe.
(....)
Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 10 de Junho de 2012
Querido amigo,
ResponderEliminarse ser patriótico e - garanto-lhe, Pedro, que para muitos portugueses o patriotismo passa pela bola - adepto deste bando ...então, hoje podem contar com o meu apoio!
Quanto ao meu palpite, Pedro, não lhe digo porque você ficaria...triste!
Aquele abraço
P.S. - E hoje vai ver o jogo?
O texto está muito bem elaborado.
ResponderEliminarPerdoar-me-á o Alberto Gonçalves mas não acredito nesta selecção.
Gostava muito de dar o braço a torcer. O que farei se sairmos vencedores. Não apenas do jogo de hoje mas mais, muito mais.
Não quero o 'caneco' do Europeu. Serve e chega um bom comportamento, uma dignidade que não se possa questionar.
A ver vamos.
Por enquanto estou pessimista.
Um abraço, caro Amigo.
Ó meu rico Santo Antoninho!
ResponderEliminarSe Portugal perder esta noite
contra a Dinamarca em Lemberg
Levas no ...
Ricardo,
ResponderEliminarNunca fez tanto sentido o prognósticos só no fim do jogo.
Achava um piadão que Portugal ganhasse à Dinamarca e a Holanda ganhasse à Alemanha.
Tudo com três pontos antes do último jogo.
Confusão total!!!
Não sei se vou ver o jogo, Ricardo.
Da meia-noite às duas??
Complicado.
Um dia feliz, Ricardo que há coisas MUUUUUUUIIIIIITO mais importantes que a bola.
Sentido abraço
António,
É isso que também quero (exijo).
Dignidade.
Depois, há sempre três resultados possíveis.
Deve-se é SEMPRE lutar pelo melhor.
Aquele abraço, caro Amigo
ematejoca,
Ele é santo namoradeiro, não futeboleiro :)))
Obrigada, Santo António,
ResponderEliminarmas pelo sim e pelo não,
também pedi a victória
ao meu querido São João!!!
Eu também sou uma santa namoradeira, Pedro, namoro com o Cristiano Ronaldo e com o Manuel Neuer!!!
A política e o desporto são dois pares de botas e, a filosofia futeboleira do Alberto Gonçalves deixa-me completamente fria, o que me aquece são os resultados: Portugal e a Alemanha ganharam.
O Observador está a observar muito mal a Selecção Nacional!!!
Pedro
ResponderEliminarNão vi jogo nenhum este ano,não sinto vontade nem alegria para tal.
Beijinho e uma flor
Alberto Gonçalves novamente no seu melhor. Costumava colocar as crónicas dele no meu blogue, penso que já está na hora de voltar a fazê-lo, pois este texto está simplesmente excelente.
ResponderEliminarematejoca,
ResponderEliminarFelizmente, a selecção nacional ganhou.
Não vi o jogo, confesso, mas ainda não percebi o sacrifício público do Ronaldo que já hoje li na Internet.
Falhou?
Pois, ele também falha.
Mas não gostei de muita coisa que já hoje li.
Vamos ver o que acontece agora com a Holanda.
A Alemanha já está apurada.
Adélia,
Também ainda não vi jogos.
Por causa dos horários.
Este fim-de-semana acho que já vou ver alum (uns).
Vamos lá a levantar o ânimo!!
Beijinho
Esta crónica está excelente, FireHead.
Fino humor.
Facto 1: A ser real, a Espanha não estava agora a pedir um resgate financeiro :)
ResponderEliminarFacto 2: Depois de ver o Nani a tocar piano e o Ronaldo a falar melhor o Inglês do que muitos políticos já não considero que seja bem assim.
Facto 3: Não vejo apoio dos portugueses suficiente que indique que estejam a vibrar com o futebol (eu não faço parte dessas estatísticas, mas isso sou, que graças a Deus gosto de futebol e de me divertir independentemente das crises) e apoio a selecção sempre, não apenas quando ganha.
Facto 4: Eu acho que é o sector das sucatas, é que os futebolistas pelo menos paga impostos dos valores que recebem e não devem ser assim tão baixos.
Facto 5: Nunca se festejou a vitória absoluta, festejam-se golos, se um dia se ganhar o Europeu ou o Mundial o país vai parar, porque nesse momento a selecção vai ter mais adeptos (aqueles que só apoiam quando se ganha), e aí poderemos verificar que festejar um golo é diferente de festejar o Eurpeu :)
Facto 6: Hum, a tv tem um botão ON/OFF
Facto 7: Se a selecção não sair vitoriosa com certeza não será por causa das más línguas, mas que as más línguas não são ajuda nenhuma, não o são de facto!
Facto 8: Os portugueses dividem-se em 2, os que acreditam na selecção e apoiam para o bem e para o mal, e aqueles que só são da selecção quando esta ganha.
Sim, Pedro, acordei bem disposta, mas de gente que enquanto se perde somos uma merda e só aparece para falar bem quando se ganha ando eu fartinha :p
Catarina,
ResponderEliminarÉ por isso que eu gosto de si.
Vai direitinha ao assunto e é mesmo naquela - saiam de baixo!!
E sabe que mais?
Ainda por cima tem razão no que diz!
Mulher de armas, carago!!!
Gostei muito, Pedro! Ainda bem que não sou a única má-língua que anda por aí. :)
ResponderEliminarOhhh Pedro então prepare-se para o que vai ler amanhã de manhã lá pelo Sabor da Maçã, é que eu ganhei coragem, e resolvi tirar dos rascunhos a minha opinião sobre este assunto, indo contra praticamente todas as opiniões de todos os amigos mais próximos que tenho neste espacinho virtual que é a Blogosfera...
ResponderEliminarO alerta está lançado!*
Não, não é má-língua.
ResponderEliminarÉ viver na realidade a não andar alienado.
Apoiar a selecção é uma coisa (apoio incondicionalmente!)
Outra é focar a atenção, toda!!!, nesse assunto.
Isso é pura alienação.
Catarina,
Vou espreitar daqui a pouco.
E já sei que, de certeza, vou gostar!