Texto de Joaquim Vieira, lido na Antena 1


É um país descalibrado, onde manda muita gente sem calibre.
Há um país onde a lei diz que todos são iguais, mas onde há uns menos iguais do que os outros.
Estes ajudaram a erguer o país, e muitos até foram à guerra 
em nome desse mesmo país.
Mas agora são gente pacífica, de físico debilitado e cujas vozes não chegam ao céu.
Não ameaçam ninguém, não paralisam o trabalho e já não cumprem os padrões de produtividade exigidos.
Adoecem mais do que os outros, e são considerados um fardo para a sociedade pelo que custam em tratamentos.
Não trabalham para pagar o que gastam, embora já antes tivessem trabalhado para pagar o que recebem.
O poder político desse país entende que vivem acima das suas possibilidades e que por isso são uma dor de cabeça.
Acha mesmo que seria mais fácil governar se eles não existissem.
Conclui assim pela sua inutilidade, que estão a mais, que são descartáveis.
Não se importa de lhes dificultar o acesso à saúde, porque é indiferente que morram mais cedo.
Talvez seja até preferível, porque morrendo mais cedo ajudam a melhorar o exercício orçamental.
Sendo alvos fáceis e dóceis, sem capacidade contestatária e sem instrumentos de pressão, nada custa retirar-lhes direitos e regalias antes julgados vitalícios.
Sendo solidários e ajudando os familiares mais carenciados, não recebem em troca a solidariedade dos poderes públicos.
Pelo contrário, são os primeiros na linha de fogo, e quando o poder sente alguma aflição financeira é a eles, e muitas vezes só a eles, que começa por retirar as verbas necessárias.
Mesmo que a suprema autoridade judicial se interponha, declarando ilegal tal prática, os governantes não se sentem na obrigação de acatar a restrição, antes a contornam e insistem no mesmo.
E insistem retirando-lhes ainda mais verbas, e retirando a mais vítimas do que antes tinham feito.
Não dizem que aumentam o confisco, mas que estão a recalibrar.
Dizem também que não é um imposto, quando tem toda a forma de um imposto – e um imposto agravado.
Um imposto que se aplica apenas ao tal grupo, e não a todos os contribuintes do país.
Esse grupo são os velhos, e o país, onde não há lugar para velhos, chama-se Portugal.
É um país descalibrado, onde manda muita gente sem calibre.

Comentários

  1. Era um lindo país de sol brilhante e incomparáveis tons de azul.

    Hoje, o sol pode estar radioso, mas os sentimentos lusitanos estão acinzentados por nuvens baixas e escuras,

    Mas uma coisa é certa, depois da destruidora tempestade, chegará a bonança.

    Um final de tarde muito feliz.

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    1. Eu também mantenho essa esperança, Majo.
      E continuo a achar o país muito bonito e a luz natural a mais bonita que já vi.
      Os fins de tarde em Portugal são do mais bonito que já vi por esse Mundo fora.
      Um dia muito feliz para si.

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  2. Isto já só se corrige à força. Os pilares da moralidade e da verticalidade há muito ruiram em Portugal. Para que haja esperança no futuro deste país, é preciso que se arrase de vez com estes politicos corruptos e mentirosos que temos...O povo devia juntar-se em frente aos portões do mentiroso e trapaceiro de Belém e ninguém devia de lá sair enquanto o governo não caísse de vez. Mais do que partidos e politicos, deviamos ter como prioridade um governo de gente séria, de salvação nacional, verdadeiramente empenhado em governar sustentavelmente Portugal, na Europa e no Mundo. Enquanto deixarmos que estes ladrões nos continuem a roubar, nunca mais vamos ter futuro ou sequer, vislumbrar uma luz ao fundo do túnel...

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    1. RM,
      Este governo é uma desgraça, o anterior também foi, por aí fora.
      E não aparece ninguém que mobilize as pessoas, que mostre capacidade para realmente dirigir o país.
      É revoltante.

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  3. Subscrevo inteiramente mas o império destes "descalibrados" terá o se fim...

    Recordo bem a crise dantesca de 80 a 86, uma a juntar a outras por que passei e hoje já há quem concorde comigo e Mário Soares estava aos comandos, os velhos eram os alvos... e fez o que fez. Depois veio o Cavaco que fez o que fez e sobretudo aumentou a máqina do Estado em termos de pessoal...toca a entrar, entrar...enfim...e hoje são dois velhos jarretas a vomitar bitaites sobre uma cambada de putos que governam, que fazem leis de bradar os ceús, malham nos mesmos.

    Dou-te apenas um exemplo: Os descalibrados, neste caso a descalibrada da Cristas fez a original lei do arrendamento urbano dos contratos até 1990. Tudo bem, eu nunca fui contra o aumento das rendas, a casa não é minha, contrato de 1979...e aceitei sempre os aumentos impostos desde 2005. Pois...mas esqueceram-se que 80% dos serviços do Estado estavam em prédios arrendados e levaram com a brilhante lei...e o que está a acontecer? Fecham-se finanças, centros de saúde, lojas do cidadão, etc, etc. com desculpas que "não há dinheiro"...pois e estão agora a mudar a lei "no que toca ao comércio e serviços do Estado". É nós? É tudo calculado sobre o rendimento bruto, no meu caso reforma (já onde ela vai com cortes e mais cortes)...e como não tenho 65 anos e felizmente sem invalidez (o que não proteje nada ou muito pouco), passar de 80€ para 214€ como? Quando receber a carta irei propor o que a lei me obriga e que eu possa pagar, se ele aceitar tudo bem, se não aceitar que fique com a casa...porque encontra-se "num mar de casas/apartamentos desabitados" para alugar por 150€.

    É tudo ao mesmo tempo, tudo serve para obter dinheiro, o IMI é dantesco e no entanto pavoneiam-se como reis sem se aperceberem que de facto "o rei vai nuo".

    Enfim...desculpa a extensão mas de facto este país tem que levar uma grande volta ou revolta!

    Beijos

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    1. Fatyly,
      Desculpar o quê?
      O testemunho na primeira pessoa, corajoso, desassombrado, só merece respeito e agradecimento.
      Que melhor maneira de perceber qual é o efeito da (des) governação que um testemunho pessoal tão sentido?!
      Beijos

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  4. O trágico é que essa escumalha sem calibre foi eleita!!

    E ainda há quem a apoie!!

    Abraços, Pedro

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    1. São,
      Não me lembro de assistir a semelhante fenómeno na minha vida.
      O governo é mau, muito mau, mas as pessoas não acreditam nas alternativas que lhes apresentam.
      E, por mais asneiras que os governantes façam, por maiores que sejam os desmandos, não se dá crédito às oposicões.
      Impressionante.
      Abraços

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  5. O Joaquim Vieira sem papas na língua! Até porque os pais são dois velhotes velhinhos aqui de Leiria que trabalharam até há meia dúzia de anos e são dos muitos vilipendiados, confiscados, assaltados, roubados pelas luminárias que integram este "governo" descalibrado, sem calibre!

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    1. Hoje vou publicar um outro texto, este de Pacheco Pereira, acerca do mesmo tema, Graça

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