Praxe e selvajaria



"PRAXE ACADÉMICA é o conjunto de usos e costumes tradicionalmente existentes entre os estudantes da Universidade de Coimbra e os que forem decretados pelo Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra."
Reproduzo aqui o conteúdo do artigo 1º, com a epígrafe Da Noção da Praxe, do Código da Praxe Académica da Universidade de Coimbra (aqui).
Confesso que, nos meus tempos de estudante de Coimbra, nunca fui um grande entusiasta das tradições académicas, muito menos das praxes académicas.
Ainda assim, sempre percebi que faziam parte do acervo de tradições da Academia e que representavam o lado boémio e irreverente associados ao estudante de Coimbra.
E, sem querer ser bairrista, sublinho a traço grosso - de Coimbra!
Fazer referência a tradições em Universidades e Institutos Superiores que têm pouco mais de dúzia de anos de vida vem a redundar num puro absurdo.
Uma simples consulta ao Código da Praxe permite facilmente perceber que se está perante um conjunto de regras muito claras que estabelecem limites ao que deve ser considerado praxe.
Regras, ditames, que estão nos antípodas da pura selvajaria, da pura barbárie, da humilhação e da degradação, que têm sido comuns em instituições de ensino superior um pouco por todo o País.
A brutal tragédia da Praia do Meco é só o último exemplo, o mais mediático, de uma longa lista de acontecimentos trágicos ligados ao que uns meninos idiotas resolveram chamar praxes.
Mas que são tudo menos praxes.
Rituais da mais absoluta brutalidade, talvez.
Praxes, no sentido em que a praxe académica, de Coimbra, insisto, sempre foi conhecida, definitivamente não!
Confundir as duas coisas é, para além de um erro, uma ofensa.
Sobretudo para aqueles que gostam de viver essas tradições e as sabem viver.

Comentários

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    1. Tétisq,
      Eu nem nunca vivi com grande intensidade as tradições de Coimbra (o meu pai, bem mais velho, viveu e ainda vive!!) sinto-me particularmente à vontade para pôr os pontos nos is

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    2. Não estudei em Coimbra, mas vivi comportamentos académicos que nunca colocaram em perigo a dignidade dos caloiros («infras»), antes os integraram na comunidade existente nos mais velhos, criaram amizade, ajudaram a evidenciar sentido artístico e de humor dos mais novos, gerando momentos de são e alegre convívio. Só raramente houve algo de menor agrado para os «infras».

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    3. Amigo A. João Soares,
      Essas são as tradições da praxe académica em Coimbra.
      Colocar em perigo a integridade física de colegas, ter para com eles atitudes que os degradem, os rebaixem, isso não é praxe, isso é malvadez.
      Grande abraço!

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  2. Estimado Amigo Pedro Coimbra,
    Muito tenho visto dessas bizarras praxes académicas, e me repugna muitas delas, mas o pessoal é assim.
    Já nas escolas secundárias de outrora assim se procedia, e eu caloiro, me tentaram cortar o cabelo, mas eu resisti e soquei um dos tipos que por azar foi cair dentro do tanque de água.
    Não mais praxes para mim.
    Aqui na Tailândia e tendo tido 3 filhas estudando na universidade, nunca vi praxes como as que são, infelizmente, praticadas em Portugal.

    Abraço amigo

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    1. Amigo Cambeta,
      O que é mais curioso é que, em muitas destas instituições de ensino superior onde acontecem estas tragédias (o Meco é só a mais recente e mais mediática), nem sequer fazem ideia do que é praxe académica.
      Aquilo que o A. João Soares refere é que são praxes académicas.
      Isto são rituais degradantes.
      Aquele abraço!!

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  3. Uns idiotas, sem dúvida que se aproveitam das chamadas "tradições inexistentes" para humilhar, maltratar os caloiros.

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  4. Quando a minha filha mais velha netrou na Faculdade em Lisboa, foi praxada mas algo simbólico, simpático e longe, bem longe das actuais aberrações. No dia seguinte não foi e nunca a incomodaram por tal. No 2º ano foi convidada para a comissão(?) de praxes e a resposta dela foi que não, porque não "faças aos outros o que não querem que te façam a ti".

    Acho que a sociedade civil que "assiste" também terá uma quota de culpa...porque eu há uns anos a caminho do trabalho, deparei-me com uma no Rossio...e sem medos...dirigi-me aos 5 (rapazes e raparigas) e disse o que tinha a dizer e ameacei chamar mesmo a polícia, porque mergulhar a cabeça dos praxados nos chafarizes até espernearem pondo em causa a vida dos outros...É CRIME. Pararam, os alunos escapuliram-se e o certo é que a "assistência plauserosa e estúpida" desandaram também.

    SOU TOTALMENTE CONTRA AS PRAXES...mas todos já são adultos e como tal quantos não andaram a fazer das suas sem que os pais saibam?

    Beijos

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    1. Fatyly,
      Todos eles já são crescidinhos e devem ser responsáveis pelas suas acções.
      Como, por exemplo, o impensável - praxar um professor.
      UM PROFESSOR???!!
      Onde é que vamos chegar?
      A ver o Reitor de cabeça mergulhada no chafariz como esses garotos?
      Isto não são praxes.
      E não se aponte o dedo às instituições de ensino superior.
      Se calhar é preciso é isso mesmo que está no comentário - em vez de deixar passar, ou até rir, intervir.
      Se for caso disso, chamar a polícia.
      A estupidez já passou todos os limites.
      Beijos

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  5. Neste momento , embora achando que as famílias têm o direito de saberem o que se passou naquela noite, a mim já não me importa isso: eram todos adultos e estavam lá porque o decidiram.

    O que cada vez mais me preocupa e exijo saber é o processo que desemboca numa situação daquelas, é conhecer o poder real de criaturas cujos comportamentos de Juventude Hitleriana se aliam à omertà da Mafia italiana.

    Como se permitem ameaçar publicamente quem falar?!

    E o Governo continua mudo e quedo, dando tão péssimo sinal que até já originou o incrível episódio da Universidade do Minho envolvendo um funcionário e um professor.

    As praxes deveriam ser total, pura e simplesmente proibidas em definitivo, exceptuando as de Coimbra, velhas de séculos.

    Esta impunidade tem que findar e passa também pela sociedade, que tem Petições para tudo , mas que ainda não se mexeu nesta ocasião.

    Bom dia e desculpe o tamanho

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    1. Como comentam o Rui e o António, este não é um caso de praxes, São.
      É um caso de polícia.
      Porque aquilo não é praxe.
      É um ritual qualquer que ainda não percebemos bem.
      E só assim se explica o inquebrável pacto de silêncio.
      Espero bem que a polícia intervenha e possa esclarecer melhor o que se está a passar nestas associações ditas de estudantes.
      Ao mesmo tempo, como diz a Fatyly, cada um de nós, à sua maneira, tem que intervir e fazer parar estas porcarias.

      Nunca peça desculpa por emitir as suas opiniões aqui, São.
      É sempre muito bem-vinda

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  6. As praxes foram criadas pela Universidade de Coimbra, como sabemos.
    Nada de violência, até porque tinham regras.

    As praxes - que pena manterem o termo - de agora são formas de violência gratuita.
    E são essas que devem ser atacadas, mesmo que as associações de alunos pensem o contrário.

    O que se passou no Meco não deve ser tratado ao nível das praxes mas sim como um caso de polícia.

    Aquele abraço.

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    1. Brincava-se, António.
      Boémia e irreverência misturadas.
      O caloiro que ia substituir o polícia de trânsito.
      O polícia que alinhava porque não era desrespeitado e até se ria também com a situação.
      Nada destas actividades que exigem intervenção policial porque são criminosas.
      Aquele abraço

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  7. Praxes do estilo clássico, feitas a caloiros, desde que dentro do razoável, até têm a sua graça ! Agora estes rituais próprios de seitas secretas não deixam de ser muito estranhas ! :(((
    Resolver estas coisas ou arranjar maneira de acabar com isto é que não será tão linear como se possa julgar, o que lamento muito ! :(((

    Abraço !
    .

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    1. É isso mesmo, Rui - rituais que se aproximam muito dos rituais de certas seitas criminosas.
      Praxes?
      Nem de perto, nem de longe.
      Como estamos a falar de crimes, as autoridades policiais e judiciárias têm que intervir.
      Aquele abraço!

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  8. Muito se tem escrito e dito sobre esta recente e brutal tragédia que ceifou a vida de seis jovens!
    Já o comentei várias vezes...
    Penso que todos concordamos que estas praxes são degradantes, perigosas, indignas.
    Mas a minha solidariedade está com os pais daqueles que partiram!

    Abraço

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    1. Rosa dos Ventos,
      Nem me passa pela cabeça o sofrimento e a revolta daqueles pais!!
      Até por isso, há que esclarecer muito bem que porras são estas que se diz serem praxes.
      Aquele abraço!

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  9. Pedro,
    Também não fui entusiasta, até porque estavam a reaparecer quando entrei na Faculdade. Havia no ambiente académico um misto de fuga e de entrega...
    Estive longe das mesmas.
    Quanto a esta brutalidade, julgo tratar-se de uma brincadeira que deu para o torto, um acto inconsciente...
    Quanto a apurar culpados, na minha ideia, eram todos os que estavam na brincadeira, é tão mau quem faz como quem entra no jogo.
    Por Coimbra quem não quer fazer parte não faz, isto é, não obrigam, tenho cá em casa quem testemunhe este caso.
    Beijinho, Pedro!:))

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    1. Eu, Ana, eu não queria fazer parte.
      E ninguém me obrigou.
      Essa é mais uma razão para eu dizer que isto não é praxe.
      Um ritual qualquer, sim.
      Praxe?
      Nem pensar!
      Beijinho

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  10. SOU CONTRA AS PRAXES, SEJAM ELAS RACIONAIS OU IRRACIONAIS, Pedro!

    Sou conservadora, em geral, mas só conservo aquilo que considero digno e meritório.

    Quando entrei para a Faculdade, pintaram-me o rosto, mas FUI EU quem escolheu o desenho e as cores a aplicar (gata). Não fui obrigada, mas deixei fazer, porque com 18 anos, eu queria que as pessoas soubessem que eu já era aluna da universidade, o que se compreende, em parte.

    Dia/noite feliz.

    Beijo.

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    1. Quem era suposto ser a minha madrinha era a filha de um político muito famoso, Luz.
      Mas eu disse não.
      Porque não achava, não acho, piada nenhuma àquilo
      Amigos como dantes, e para o futuro.
      Assim é que é
      Isto é violência gratuita, rituais bárbaros
      Beijo

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  11. Sou das que gostam de tradições quando têm valor edificante da personalidade das pessoas e alma dos seres amigo.

    Beijos

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    1. Quando é assim, e é assim que deve ser, nada contra, Carla Fernanda.
      Isto é que não!
      Beijos

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  12. Era bom que as pessoas tomassem noção que este caso não tem nada a ver com as clássicas e habituais praxes aos caloiros ! Estas, dentro de certos limites (que por vezes são ultrapassados), têm até a sua graça, embora eu próprio nunca tenha simpatizado com elas e recusando-me a ser praxado ou a praxar!
    Neste caso trata-se de “rituais” próprios de “seitas secretas”, que neste caso até são estudantes universitários com recalcamentos do foro psicológico, estudantes que não conseguindo ter êxito nos estudos e por isso vão permanecendo na Universidade anos e anos, se dedicam e este tipo de “exercício” para compensar as suas frustrações.
    Repare-se que não estão em causa caloiros, mas sim outros, que já o não são, que pretendendo ascender hierarquicamente no grupo, se vão sujeitando a uma espécie de Bullying para atingir esses objectivos ! Alguns vão conseguindo suportar toda aquela violência, outros não e estes serão humilhados, por considerados fracos e sem carácter para poderem tomar as posições dominantes! Pretende-se criar autênticos monstros com características de liderança, que incutam o medo, embora com o juramento de respeito à sua hierarquia de grupo !
    O que está constitucionalmente regulamentado em termos de ensino, está e está bem, mas isto é um caso de polícia e da Justiça e esta é um órgão independente para julgar estes casos que infringem a lei !
    Não há razão alguma para meter nisto o governo ! Constitucionalmente, o Governo não pode fazer rigorosamente nada ! Quando muito, a Assembleia da República, para que se alterem ou criem na Constituição alguns tipos de leis !
    .

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    1. Em cheio, Rui!
      Quem tem que intervir são as forças policiais.
      Porque isto é, sem sombra de dúvida, um caso de polícia.
      Grande abraço!

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  13. Sabe Pedro infelizmente não andei na universidade, mas sim a trabalhar com 13 anos numa fabrica.
    No entanto por o que tenho ouvido ao longo dos anos sobre as praxes, antigamente não me parecem que fossem violentas, nos últimos anos acho que são uma loucura, arrepia, sou totalmente contra a este tipo de praxes, aliás, eu penso que nem deviam ter este nome, isto é macabro, lamento imenso a morte de tão jovens e a dor incalculável dos pais, sei o que é perder um neto, é uma dor inesplicavel, dói a cada minuto e sei que ninguém imagina a não ser quem passa por tal violência, mas caramba, esses jovens eram adultos, isso que eles fizeram ultrapassa-me completamente a minha pouca inteligência.

    beijinho e uma flor

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    1. Adélia,
      Eu não alinhei em praxes.
      Porque não gostava, porque não me dava gozo.
      Mas as praxes académicas não eram, não são, nada disto.
      Pôr em risco a vida das pessoas?
      Nem pensar!
      Beijinhos

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  14. ´Tudo leva a crer que a tragédia na praia do Meco tenha a ver com as estúpidas praxes académicas, no entanto, a verdade ainda está por apurar.
    De qualquer maneira tudo aponta para um acto de pura inconsciência.

    Nenhum caloiro é obrigado a sujeitar-se a humilhações e crueldades, mas o receio de serem discriminados, para mim, é a única razão que os leva a submeterem-se a semelhantes riscos e vexames.

    Eu não frequentei nenhuma Faculdade, mas os meus filhos licenciaram-se na Universidade do Minho e nunca anuíram a praxes, e mais, nem sequer quiseram trajes académicos. O objectivo deles era tirarem o curso que escolheram, estudar, ter boas notas e não andarem a exibirem-se por serem universitários
    Diga-se, em abono da verdade, que o traje académico de lá é horroroso!

    O bulynng é outro flagelo que afecta os alunos mais jovens e que precisava ser severamente punido, para servir de exemplo a futuras selvajarias.

    Desde o suicídio do jovem Nelson que não me canso de alertar os meus filhos para que estejam atentos a qualquer sinal estranho no comportamento dos filhos.
    Estamos num mundo onde os valores humanos se estão a perder, Pedro!

    De quem é a culpa?

    Beijinhos.
    .

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    1. Janita,
      É por isso mesmo que digo que estamos perante um caso de polícia.
      Para podermos perceber como é que estas situações acontecem.
      Em nome de quê, a coberto de quê, a mando de quem?
      Beijinhos

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  15. Sou, diz o meu filho mais velho, mais nova do que ele... :-) mas não posso deixar de dizer uma vez mais que considero as praxes, um atentado à dignidade, uma estupidez, a prova do país pimba e inculto, em que nos estamos a tornar.
    Abraço.

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    1. O meu pai licenciou-se já depois dos 70 anos, Maria do Sol.
      E sempre viveu, e ainda vive, as tradições académicas com muito mais fervor do que eu.
      Tradições académica, sublinho.
      Não são estas actividades criminosas.
      Abraço

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  16. No meu tempo de faculdade, em Lisboa, não havia praxes. Pelo menos na minha faculdade não me lembro de nada disso. Eu e os alunos da minha turma, apenas tivemos uma "aula" dada pelos alunos mais velhos. Foi essa a nossa receção ao caloiro. Hoje tenho um filho na universidade que também não foi praxado e em cuja faculdade, parece não haver grande atividade a esse nível. Ainda bem. A minha filha, essa foi praxada e também praxou mas nada do que ela me reportava se assemelha aos atos bárbaros, imbecis e absolutamente intoleráveis a que temos assistido nas reportagens televisivas.

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    1. Essa era uma das praxes clássicas, luisa.
      Os caloiros eram recebidos numa aula dada pelos "doutores", na qual lhes era pedido que comprassem determinados livros, um tipo muito específico de calculadora (em Direito!!) com indicação da loja e tudo, ....brincadeiras desse género que terminavam com a malta a rir à gargalhada e com um eferreá.
      Veja a distância que separa as duas coisas.

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  17. A confusão de conceitos e tradições próprias da Academia levam à massificação de comentários desprovidos de qualquer conhecimento do que é a essência da praxe.

    Pedro, na Faculdade de Direito de Lisboa, em tempos, fui interpelado por um "grupo de veteranos" que não me deixavam passar teria de ser praxado, aos costumes, com o pêlo na venta de um puto de 17 anos vindo da Madeira, respondi que poderia ser praxado desde que pagassem as lentes de contacto que usava, a roupa que vestia e os sapatos que calçava, as mocinhas lá me deixaram passar, mas para tal teria de beijar uma rapariga na boca (um "french kiss"), por acaso, a minha namorada da altura (também estudante de Direito) estava por perto e lá fizemos o que nos pediram com prazer.

    Caro amigo, já me alonguei, aquele abraço e eferreá!!!

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    1. Ricardo,
      Isso, meu caro, é praxe.
      Com consentimento do caloiro, sem o denegrir, muito menos o degradar.
      Estas porcarias a que temos assistido não são praxe porra nenhuma!!
      Aquele abraço e um grande eferreá!!!

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