A onda de pleonasmos


Os portugueses usam e abusam do pleonasmo.   Aqui vão quatro exemplos clássicos: “subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para dentro” e “sair para fora”.

Mas não se pense que isso só acontece aos outros. Ou vai dizer-me que nunca“recordou o passado”, nunca esteve atento aos “pequenos pormenores”, nunca partiu uma laranja em “metades iguais” ou que nunca deu os “sentidos pêsames” à “viúva do falecido”?

Note que isto não é uma “opinião pessoal”!

Este “aviso prévio” de uma “doença má” que se está a transformar numa onda gigante que ameaça engolir-nos a “todos, sem excepção” baseia-se em “factos reais”.

Se prestar um pouco de atenção descobrirá facilmente lojas que nos aliciam com “ofertas gratuitas”, agências de viagens que oferecem férias em “cidades do mundo”; chefes que pedem um “acabamento final” no projecto, para evitar “surpresas inesperadas”.  Até em casa, numa discussão com a esposa, por vezes apetece  “gritar alto”: - “Cala a boca!”. O que vale é que depois fazemos as pazes e vamos ao cinema ver um filme que “estreia pela primeira vez” no nosso país.

Mas se pensa que, fechado em casa fica a salvo desta onda, desengane-se: a televisão é, de “certeza absoluta”, a “principal protagonista”, o veículo através do qual ela lhe vai chegar. Não acredita? Ponha-se a pau e logo à noite, experimente assistir ao telejornal. “Verá, com os próprios olhos”, em directo, um jornalista dizer que a floresta “arde em chamas”; um treinador de futebol queixar-se dos“elos de ligação” entre a defesa e o ataque; um governante garantir que o culpado do estado em que o pais se encontra é o governo anterior que geriu mal o “erário público”; um ministro anunciar o reforço das “relações bilaterais entre os nossos dois países” e um qualquer “político da nação” pedir um“consenso geral” para sairmos da crise.

E por falar em crise: quer apostar que a próxima manifestação vai juntar uma “multidão de pessoas”?

Felizmente – ao menos valha-nos isso – a onda de pleonasmos não causa “dores desconfortáveis”, não origina  “hemorragias de sangue”, não nos impede de “viver a vida” com um “sorriso nos lábios”, nem nos obriga a fugir do nosso “habitat natural” e buscar outras paragens para ganhar a vida.

Por amor de Deus: tente cortar aqui e ali um ou outro pleonasmo. Vai ver que não custa nada e facilita a comunicação.  Ah! E  “já agora” siga o meu conselho: não “adie para amanhã”; comece já hoje a“encarar de frente” este hábito. Ou então, esqueça. Talvez seja eu que estou “maluco da cabeça”.

Comentários

  1. Ahahah!
    Quando pensei nos “elos de ligação”.... ali estavam eles mais abaixo.
    Eu não subo para cima, nem desço para baixo e não sou utilizadora de multidão de pessoas... todas as outras me fazem sentido!!! Afinal, necessitamos de dar ênfase a certas situações! : )))

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    1. Não sei quem é o autor, mas está bestial, Catarina.
      E há que gritar alto isso mesmo :))))

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  2. Eheheh!
    É sempre útil, uma "aulinha" destas! ;))
    Gostava de saber quem foi o autor do texto.

    Tem um bom dia, J. Pedro.

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    1. Majo,
      Há um skectch brasileiro, que também por aqui publiquei, que é muito semelhante.

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  3. Estimado Amigo Pedro Coimbra
    É assim já, vamos subir para cima para variar quando descemos para baixo rsrsr.
    Abraço amigo

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    1. tem que ser, Amigo Cambeta - nem sempre a subir para cima, nem sempre a descer para baixo.
      Como os interruptores, a bem dizer :))
      Aquele abraço!!

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  4. E o "há-dem" utilizado em discursos patéticos por políticos e não só?

    Mas poetas "intemporais" usaram tantos pleonasmos. Um que recordei agora ... Fernando Pessoa

    Enfim...deu para rir e foi bom:)

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    1. O texto é um mimo, Fatyly.
      Pena não saber quem é o autor.

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  5. Caro Amigo Pedro Coimbra!
    É por isto que cada vez mais fico fascinado com a nossa amada Língua Portuguesa!
    Caloroso abraço! Saudações linguísticas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Um ser vivente em busca do conhecimento

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    1. Amigo João Paulo de Oliveira,
      No Brasil falam mais em tautologia em vez de pleonasmo, não é?
      A língua portuguesa é riquíssima!!
      Grande abraço!

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  6. Eu classifico os pleonasmos em duas partes: os graves e os menos graves.
    Dos que, o Pedro, aqui referiu, já disse alguns, mas inconscientemente, como aliás, se dizem, a maior parte deles, mas o "subir para cima", "descer para baixo" e "ambos os dois", que julgo não estar aqui citado, e até tem, "dono/autor", nunca disse. O "preferir antes" também é muito usado, mas sendo pleonasmo, quase que não se dá por ele.

    Gostei muito do texto, que li umas duas/três vezes, porque há pleonasmos apresentados nele, que me fizeram pensar, como, por exemplo, "cala a boca". Ora bem, só falamos pela boca, é verdade, mas neste caso, estamos a reforçar, a "exigir" e não a duplicar o sentido. Bem sei, e agora, a talho de foice, que ninguém nos pode dizer, exigir, "cala o pensamento ".

    Não sei de onde o Pedro extraiu o texto, ou se é da sua autoria. Caso não visse inconveniente, gostaria que mo enviasse através do meu endereço eletrónico.

    E o fim de semana já espreita. Aqui, está um frio de rachar. É janeiro, como diz a canção de Rui Veloso.

    Um beijo da Luz.

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    1. Luz,
      Há alguns que são verdadeiras calinadas.
      Outros, nem tanto.
      Um beijo

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  7. NÂO PUBLICAR, P FAVOR!

    O meu endereço é: estanque.emilia@gmail.com

    Obrigada!

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  8. Confesso o pecado de usar alguns deles! :)

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    1. Acontece com todos, Rosa dos Ventos.
      Ninguém lhe vai atirar a primeira pedra :))

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  9. Não adiei este comentário para amanhã, não quis deixar de dar a minha opinião pessoal e juntei-me à multidão de pessoas que aqui vem, desci para baixo para comentar e subi para cima várias vezes para ler o texto escrito (esta não tinhas aqui), comecei com um sorriso nos lábios e acabei a rir para o ecrã do computador...se calhar também estou maluca da cabeça eheheheh

    Beijinho :)

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    1. Ainda bem que não adiou, maria.
      Porque já nos deixou bem dispostos com o seu comentário :)))
      Beijinho

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  10. Sobre o descer para baixo (no qual já fui apanhada) estive a desenvolver uma profunda reflexão: se eu estivesse no cimo de um escadote dentro de um elevador e começasse a descer os degraus ao mesmo tempo que o elevador subir eu poderia estar a descer para cima...

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    1. E não é que é mesmo assim, Gábi??!! :)))
      Com reflexões dessas, à segunda-feira, um tipo fica tonto. :))
      Beijinhos e votos de boa semana!

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