Crónica de uma morte anunciada





Não, não é o clássico de Gabriel Garcia Marquez, é a tristeza que vai na alma dos que amam Coimbra e a Académica.
Confirmada a queda de divisão, um “feito” inédito num clube centenário, com as capas traçadas em sinal de luto, nós os que crescemos com a Académica receamos que este seja só o princípio do fim.
O princípio do fim de um clube que formou grandes jogadores, grandes homens (“primeiro o homem, depois o futebolista”), que ousou enfrentar o regime fascista, que sempre soube fazer conviver a boémia e a responsabilidade.
Comecei a ver os jogos no Calhabé ainda muito novo com o meu pai, o meu padrinho e o Fernando.
Aos seis anos de idade o meu pai fez-me sócio.
Talvez ainda ande lá por casa o cartão de sócio com uma foto com um colete azul e uma camisa com uns colarinhos enormes e cheia de cavalinhos.
Quando a Académica passou a Académico, depois da revolução e porque uma cambada de parvos ligou o clube ao antigo regime, o meu pai zangou-se e prometeu que não voltaria aos jogos.
E eu continuei a ir com o meu padrinho e o Fernando.
O juízo regressou a Coimbra e a Académica com ele.
Mas a ligação à Academia perdeu-se.
Continuei a ver os jogos, agora já em tertúlias de amigos.
Até que também eu me afastei.
Mas segui sempre a Académica e vibrei à distância com a conquista da Taça de Portugal.
Infelizmente, depois desse brilharete, o que foi sucedendo foi um declínio que era uma dor de alma observar.
Temo pelo futuro do clube.
Leio que há um investidor interessado.
E é bom que assim seja.
Sinal dos tempos.
A ligação à Academia só no domínio do romantismo pode ser solução.
É necessário dinheiro, investimento, profissionalismo, dedicação.
Porque, se assim não for, esta pode ser mesmo a crónica de uma morte anunciada.

Comentários

  1. É pena que acabem os clubes com menos poder económico porque só contam com os grandes e os seus milhões, muitas vezes obtidos sabe-se lá como!
    Beijocas e um bom dia

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    1. A Académica precisa de dinheiro e de uma gestão profissional, Fatyly.
      Coimbra tem um tecido industrial residual e não sei como será possível atrair investimento para a equipa.
      Sei que é absolutamente necessário para não se chegar à extinção.
      Beijocas

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  2. Bom dia
    Quando li esta semana esta notícia , nem queria acreditar .
    Apesar de não ser de Coimbra e viver a cerca de cem Kms. ,desde miúdo que tenho uma certa simpatia pela Académica .
    Para além de um grande clube respeitado , era também uma escola donde saíram grandes nomes do futebol Português .
    Espero sinceramente que haja mais alguém para alem do Sérgio Conceição que já se disponibilizou para ajudar o clube, e que este venha a ocupar o lugar merecido no futebol Português .

    JR

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    1. Grandes craques e grandes homens.
      Custa ver o clube nesta situação.
      O meu professor na escola foi um grande craque, o Bentes, o Rato Atómico.
      O que ele sofreria se visse a Académica nesta situação.

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  3. Fico muito, muito triste , porque sempre apreciei o clube e adoro Coimbra.

    Espero sinceramente que consiga ultrapassar esta situação e sobreviver.

    Esse livro foi o primeiro que li de Gabriel Garcia Marquez e fiquei fiel ao escritor.

    Boa semana

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    1. O livro é fabuloso.
      A Académica...já foi.
      Macau também tem ligação à Académica.
      O Augusto Rocha, o José Belo, o craque Jorge Humberto que fez aqui toda a sua vida de médico.
      É triste ver o clube assim.
      Boa semana

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  4. Que venha o investidor interessado.
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  5. È triste ver um clube terminar assim.
    Que venha um investidor que ressuscite a Académica.

    Beijos

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    1. A Académica, o Vitória de Setúbal, o Belenenses, o Barreirense, o Beira-mar, o Salgueiros,…
      Beijos, boa semana

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  6. O que se passa com a gloriosa Académica é (mais) um espelho da forma como o desporto em geral e o futebol em particular andam a ser tratados.
    Faz-me confusão que clubes com tradições - e a Académica é um deles - sofram o que sofrem, apenas pela incúria do ser humano que se diz gestor. Não é assim que a boa gestão se afirma.
    Lembro-me de quando na equipa de futebol senior da AAC, apenas podia jogar quem tivesse frequentado (ou estivesse a frequentar) o ensino superior coimbrão. Lembro-me de quando apenas portugueses atuavam no Clube. Nesses tempos, a Académica de Coimbra era enorme, de fazer inveja a muitos outros.
    Agora, num tempo em que a finança fácil é quem mais ordena e que o ser humano parece andar em sentido contrário, é o que é. Sou dos que fazem questão em tornar a ver a AAC entre os grandes. Será possível? Respondam-me os pomposos diretores de coisa nenhuma que enriquecem à custa de negociatas absolutamente escuras.
    Para si, Pedro, um abraço com votos de boa semana.

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    1. Esses tempos já não voltam, António.
      Tantos craques!
      No relvado e na sala de aula.
      Isso já lá vai.
      Esperemos é que a Académica se reerga.
      A região centro começa a ficar sem nenhuma equipa representativa.
      Um abraço, boa semana

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  7. Coimbra tem mais encanto na hora da despedida...

    Não desanime, Pedro, quem sabe aparece um investidor e a sua Gloriosa Académica/o de Coimbra, volta a readquirir o seu antigo esplendor?! Haja esperança num amanhã mais sorridente.
    Beijinhos, boa semana.

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    1. Académica, Janita, Académica.
      O Académico foi uma invencionice de idiotas ignorantes.
      Beijinhos

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  8. Abraço solidário, Pedro.
    Também eu amo Coimbra e a Académica.

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    1. Faz doer a alma, Teresa.
      E não é só o futebol.
      São quase todas as modalidades.

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  9. Muito triste. A académica era uma equipa à parte. Toda a gente que conheci, tinha uma certa simpatia pela académica independente de qual fosse o seu clube de eleição.
    Abraço e saúde

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    1. A Académica era consensual.
      E era parte da nossa História.
      Abraço e saúde

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  10. Boa tarde Pedro. Infelizmente isso também acontece com grandes times do futebol brasileiro. Grande abraço carioca.

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  11. Creio que estes últimos dois anos, em tempos de pandemia, também não tenham facilitado a vida aos clubes... sobretudo aos mais modestos, em termos de finanças... talvez seja apenas uma fase transitória, em que alguma injecção de capital, e um sócio influente e carismático impulsionem toda uma nova dinâmica!
    Beijinhos! Feliz semana!
    Ana

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    1. Dinheiro e gestão capaz, Ana.
      O dinheiro é essencial mas não é suficiente.
      Beijinhos, boa semana

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  12. Pode haver um milagre ,aparece alguém com muitos €€€ e o club volte a dar alegria a essa linda cidade que tanto gosto , linda Coimbra.
    Continuação de boa semana

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    1. Repito o que comentei com a Ana - dinheiro e gestão competente.
      São necessários os dois.
      Boa semana

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