Medidas regionais bem antigas


Talvez nem todos saibam que antigamente, desde a Idade Média, sobretudo a partir do movimento foraleiro, isto é, da atribuição das Cartas de Foral aos Concelhos, que as medidas com que se aferiam os pesos, capacidades e comprimentos das produções, agrícolas e industriais, assim como dos bens e mercadorias que animavam as actividades mercantis nacionais, eram diferentes de terra para terra, o que em nada beneficiava os preços e em muito contribuía para a inflação dos preços e consequente destabilização do mercado. 

Só após a institucionalização do Sistema Métrico Decimal, adoptado e aprovado a partir de 1795, é que as unidades de medida passaram a ser padronizadas. 

Aqui fica, portanto, a relação dessas medidas e do seu valor oficial, sendo que estes só tiveram efectividade no nosso país a partir de 1814, mercê da aprovação do sistema métrico décimal pelo príncipe-regente D. João VI. 

ALMUDE - medida para aferir os líquidos, sobretudo o vinho, e que era equivalente a 12 canadas, correspondendo a 16,8 litros. 

ALQUEIRE - medida de capacidade, usada para secos de volume variável, geralmente milho, trigo, aveia, centeio, grão, feijão, assim como todo o tipo de gramíneas e sementes. Também podia ser usado para os líquidos, o que só acontecia em pouquíssimos concelhos do país, e nesse caso equivalia a 6 canadas, ou seja, 8,4 litros. Mas o seu valor em seco (quer para as transações comerciais, quer para a avaliação das terras de semeadura) passou a ser oficialmente de 13,9 litros, por decisão do Marquês de Pombal, logo após o terramoto de 1755. Valor esse que se manteve para sempre. 

ARRATEL - medida de peso, que na Idade Média correspondia ao peso da libra que se usava na península ibérica, mas que não era igual à que se usava, e ainda usa, nos países anglo-saxónicos. O seu valor no século XIX, após a converção ao SMD, era de 459,5 gramas. Esta medida usava-se muito para aferir o peso dos animais, sobretudo para o preço da carne ao público. A libra britânica corresponde a 500 gramas. 

ARROBA - como medida de volume, para líquidos como o vinho, valia aproximadamente 16 litros, mas se fosse para o azeite já valia menos, cerca de 12,5 litros; era principalmente usada nas transações comerciais como medida de massa, para pesar porcos e bovinos, e nesse caso era equivalente a 32 arráteis (14.720 gr), sendo arredondada com o SMD para 15 kilogramas. 

CANADA - medida de volume mais usada nas transações mercantis, e talvez a mais antiga que se conhece em Portugal. Nos forais aparece para aferir quase todos os líquidos, sendo muito usada para medir o azeite. Equivalia a 1,4 litros, mas o valor mais comum era o usado no mercado de Lisboa, onde valia 1,5 litros, sendo esse o que prevaleceu até à adpção do sistema internacional de unidades em 13-12-1852. Dividia-se em 4 quartilhos, era a 12ª parte do Almude, e 6 canadas prefaziam um pote, unidade que rapidamente caiu em desuso no nosso país. O quartilho foi muito usado para a comercialização a retalho do vinho, equivalendo a 0,35 litros. 

COVADO - medida de comprimento, talvez a mais antiga, conhecida e usada desde os tempos bíblicos, baseava-se no tamanho do antebraço, isto é na distância que ia da ponta do dedo médio até ao cotovelo. Parece terem sido os egípcios os seus inventores, com um valor aproximado de 50 cm. Com o desenrolar dos séculos evoluiu entre os 45 e os 67 cms, fixando-se, antes do SMD, em cerca de 66 cm, o equivalente a 3 palmos. 

MOIO - medida de capacidade muito usada no nosso país desde a Idade Média, que tinha uma grande ambivalência, pois que não só se usava para capacidades de sólidos e de liquídos, como também servia para medir superfícies agrárias, tendo como exemplo a área média de terreno que podia ser semeada com um moio de trigo, de centeio, de cevada, etc. Herdamos esta medida dos romanos que a usavam para os sólidos como para os líquidos, mas com valores muito díspares. Entre nós valia 560 litros com D. Afonso Henriques e subiu até 790 litros com D. Manuel I. O seu valor mais comum era de 60 alqueires, só que o valor do alqueire variava de terra para terra. Mas com a introdução do sistema métrico de unidade o moio passou a ser avaliado em 828 litros. 

QUARTA - medida de capacidade ou de volume, era a quarta parte do alqueire, do arrátel e da vara. Era por vezes citada com o valor de 2 maquias, o equivalente no sistema métrico a 1,725 litros. Já agora, acrescento que cada maquia valia 0,8625 litros. Já que falei em "vara" convém dizer que se usava como medida de comprimento, e que equivalia a 5 palmos, que foram arredondados no sistema métrico para 1,1 metros. 

QUARTILHO - medida de volume para líquidos, que antigamente valia cerca de 0,5 litros, passando com a introdução do sistema métrico para 0,35 l. 

VARA - medida de comprimento, que como já disse valia 1,10 metros. 

JARDA - A origem da “jarda” (yard, em inglês), como medida de comprimento, remonta ao século XII, durante o reinado de Henrique I de Inglaterra, que decidiu instituir a distância entre seu nariz e o polegar de seu braço estendido como sendo uma jarda. Esta medida não está desactivada nem foi esquecida, pois que ainda hoje é usada (por exemplo no Futebol Americano para decidir as medidas que separam as linhas em que se divide o terreno de jogo). Era oficial no comércio britânico aferir-se a jarda como equivalente a 3 pés ou a 36 polegadas, e julgo que é essa ainda a medida usada no mercado anglo-saxónico. A jarda mede cerca de um metro, mais concretamente 0,91 m, ou seja, 91 centímetros.

Comentários

  1. Respostas
    1. E é sempre bom não esquecer, Mena Almeida.
      Tenha uma óptima quarta-feira

      Eliminar
  2. É sempre bom conhecer um pouco mais! =)
    Beijinhos,
    https://chicana.blogs.sapo.pt/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. fico contente por ver que já está melhor, Ana.
      É uma verdade indesmentível - o saber não ocupa lugar.
      Beijinhos

      Eliminar
  3. bom dia
    lembro me de quase todas , inclusive de ir á loja buscar quartilho e meio de vinho e á leitaria buscar meia canada de leite e muitos outros.
    uma boa lição da historia das medidas.
    JAFR

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Para não esquecer para alguns, Joaquim Rosário.
      Para aprender para outros.

      Eliminar
  4. Em casa dos meus avós lembro-me de se usar muito o alqueire.
    Outras medidas aqui descritas confesso que desconhecia.

    Continuação de boa semana

    Bjs Pedro

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também desconhecia a grande maioria, Manu.
      Estamos sempre a aprender.
      Se estivermos dispostos a isso.
      Beijos

      Eliminar
  5. Era habitual ouvir esta terminologia aos mais velhos, sobretudo, rurais.
    Interessante.
    Abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caiu em desuso.
      Mas acredito que em meios rurais ainda se utilize, Agostinho.

      Eliminar
  6. Várias destas medidas ainda são perfeitamente do meu tempo, embora já com o conhecimento das medidas actuais :
    Por ex. :
    O ALMUDE - para aferir os líquidos, correspondendo a 16,8 litros. 

    O ALQUEIRE - usada para o milho, … Nunca me apercebi ser usada para líquidos.

    A ARROBA, não para líquidos, mas especialmente como medida de massa, para pesar porcos, sendo arredondada para 15 Kgs.  Um porco de 7 arrobas já era um belo bicho ! :))

    O QUARTILHO - medida de volume para líquidos, que antigamente valia cerca de 0,5 litros . Quantas vezes fui à mercearia com uma garrafa para trazer um quartilho de vinho da pipa (quase não havia vinho engarrafado e em garrafão seria muito para o consumo diário ! :)))

    A JARDA – os Pés, a polegada, estas mais actuais em termos desportivos por ex. Ou em certo tipo de medidas de comprimento.

    Muito interessante este post, Pedro . ☺

    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É o que eu digo, Rui, estamos sempre a aprender.
      Aquele abraço

      Eliminar
  7. lembro-me destes nomes Pedro!
    muitos devem ser de origem árabe com o tal "Al" ?!
    a explicação é interessante por não conhecia as quantidades :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acredito nessa origem, Angela.
      Como muitas outras palavras que hoje são de uso comum, é bem provável que haja aqui origem árabe.

      Eliminar
  8. Publicação muito interessante Pedro !
    Abraço

    ResponderEliminar
  9. O alqueire também era conhecido na minha zona como rasa, que era um alqueire alisado pelo rodo (peça cilindrica que rodava sobre os lados do alqueire), quando era totalmente cheio era o "alqueire acogulado", se o alqueire era de cereal quando ia ao moinho era "maquiado" (um oitavo do total) que era para o moleiro. Se fosse o moleiro a recolher o cereal e traze-lo de volta já moído pagava-se maquia e meia (cerca de 18% do valor do cereal). Quando um negociante roubava no peso ou na medida de qualquer produto que se vendesse dizia-se que "maquiava" a mercadoria. Já agora um "carro" de cereal eram 40 alqueires. Cumprimentos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ora aqui está a prova do que ainda agora comentei, álvaro silva - estamos sempre a aprender.
      Cumprimentos

      Eliminar
  10. Só lembrava o alqueire e a arroba...
    E foram objetos importantíssimos...
    Beijinhos
    ~~~

    ResponderEliminar
  11. CANADA e MOIO desconhecia

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares