Os recados de Sheldon Adelson


Sheldon Adelson, o todo poderoso patrão do grupo Sands, 18º lugar entre as grandes fortunas a nível mundial, um dos maiores empregadores em Macau, aproveitou ontem uma conferência no auditório do Instituto de Formação Turística (IFT) para deixar uns recados e lançar umas farpas aos  governos da China e de Macau.
O que devia ser uma lição de empreendedorismo destinada aos alunos do IFT, foi transformado pelo self made man Sheldon Adelson numa oportunidade para dizer o que lhe vai na alma.
Confrontado com a descida nas receitas provenientes do sector do jogo, sobretudo no mercado VIP e no que Adelson designa por prime mass market (entre o mercado de massas e o VIP), com novos projectos em fase de conclusão, Sheldon Adelson foi incisivo nas suas apreciações.
Bem alto e bem sonoro, gritou que a "caça às bruxas" (sic) na China tem que terminar.
Referia-se obviamente à campanha anti-corrupção que o Executivo de Xi Jinping vem promovendo e que tem afastado os grandes jogadores das mesas de Macau.
Sheldon Adelson, quando falou no fim da caça às bruxas e nos ciclos económicos, estava claramente a referir-se à necessidade de revitalizar os sectores que ficam a jusante do jogo de massas.
Dito de outro modo, estava a dizer a Pequim que tem que abrandar um pouco a trela curta que colocou nos movimentos de dinheiro e pessoas.
Novos projectos, e a continuação dos já existentes, com restrições que não estavam na agenda, estão a deixar Sheldon Adelson pouco contente com os seus amigos chineses.
Mais para dentro, direitinho aos governantes de Macau,  outro berro bem audível - é necessário agilizar o processo de contratação de mão-de-obra não-residente porque, a nível local, não há ninguém para contratar.
Mais, não se pense que os trabalhadores locais, só por serem locais, vão assumir cargos de gestão nas suas empresas.
Se não forem qualificados para isso não serão escolhidos apenas pelo facto de possuírem BIR.
Sheldon Adelson, um dos maiores empregadores em Macau, pode dar-se ao luxo de protestar e ser ouvido.
Um luxo reservado aos grandes high rollers do universo da finança como todos estamos fartos de saber.

Comentários

  1. Como sempre, os ricos e poderosos fazem-se ouvir, Pedro.

    Aquele abraço.

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    1. 81 anos, dificuldades de locomoção muito intensas, número 18 das grandes fortunas de acordo com a Forbes (já andou bem mais lá em cima), a empregar directa indirectamente milhares de pessoas em Macau, como é que não se faz ouvido, Ricardo?
      Sabendo isso, ele falou curto e grosso.
      Aquele abraço

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  2. Que pena só ser audível a voz de quem tem dinheiro e, consequentemente, Poder :(

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    1. Este tem uma arma muito forte, São - já imaginou o que era (não vai acontecer mas existe sempre essa possibilidade) ele interromper os projectos que está a realizar e liquidar os outros?
      Qual seria o impacto económico e social?
      Money makes the world go round, é bem verdade.

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  3. ~ Querido amigo, sou uma nulidade em alta finança e absolutamente incapaz de avaliar ou fazer juízos de valor sobre qualquer "self maid men".

    ~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~
    .

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    1. Eu também não faço juízos de valor, Majo.
      Sei que ele começou a trabalhar aos 12 anos.
      O que é que foi fazendo pelo caminho para chegar a esta fortuna, não faço ideia.
      Também sei, porque é público, que foi ele que teve a ideia dos resorts integrados - jogo, entretenimento, compras, restauração - e que essa ideia lhe deu muito dinheiro a ganhar.
      Beijinhos

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  4. Está a acontecer com o jogoem Macau, o que um dia destes vai acontecer com Portugal em relação ao turismo.

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    1. O que está a acontecer aqui é muito simples, Carlos - a China apertou o torniquete.
      Não sejamos ingénuos (e Sheldon Adelson é tudo menos ingénuo) - a China controla totalmente os fluxos de pessoas e de capital para Macau.
      E achou que era altura de abrandar um bocado a voragem dos gulosos que por aqui pululam.
      Estão em crise?
      Estão, coitados.
      Já não se fazem trinta biliões por mês, "só" se fazem cerca de 25 biliões.
      Para os mais esquecidos, valor superior ao Orçamento tal da Administração portuguesa no ano de 1999.
      "Só".

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  5. Quem tem o poder do dinheiro pode dar-se ao luxo de dizer o que pensa.
    Um abraço

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    1. E ser ouvido, Elvira Carvalho.
      Dizer, muita gente diz.
      Mas entra por um ouvido e sai pelo outro.
      Um abraço

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