Sense and sensibility, please


Sense and sensibility é o que se pede aos dois lados em confronto em Hong Kong.
Pequim ofereceu a Hong Kong menos do que era esperado por uma larga franja da população, ansiosa pela implementação de um regime de sufrágio directo e universal livre de restrições já em 2017.
Algo que nunca terá estado nos planos das diferentes lideranças em Pequim.
Porque, com um regime de sufrágio directo e universal sem condições ou restrições, a obrigatoriedade constitucionalmente consagrada de ser Pequim a nomear o Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial faria pouco sentido.
Qual seria a utilidade de levar a cabo uma eleição com candidatos que se sabia à partida que Pequim não iria nomear?!
Neste particular vem à memória a frase de um ilustre cidadão macaense, já desaparecido, que dizia que Pequim nunca organiza umas eleições sem antes saber quem as vai ganhar.
Tendo Hong Kong repelido a implementação do famoso artigo 23º da Lei Básica na Região, mais  se acentuava o risco de os candidatos a Chefe do Executivo não serem do agrado de Pequim.
E Pequim não corre riscos, como todos sabemos.
Neste cenário ofereceu a Hong Kong mais do que aquilo que tem agora (o sufrágio directo e universal só será realidade depois de os candidatos ao cargo de Chefe do Executivo terem passado pelo crivo de Pequim), muito mais do que existia sob administração inglesa.
Uma larga fatia da população de Hong Kong, que aspirava a ainda muito mais, sente-se defraudada, afronta abertamente Pequim, sai para as ruas em consciente acto de desobediência civil, primeiro conhecido por Occupy Central, agora cognominado Umbrella Revolution, porque serem os guarda-chuva o meio de defesa utilizado para os manifestantes se protegerem do gás lacrimogéneo e do gás pimenta lançados pelas forças policiais.
Os excessos já aconteceram, as posições estão extremadas.
Mas é bom que haja serenidade, que haja bom senso, para a situação não deslizar para além do controlável.
Sexta-feira será um dia essencial para se perceber até que ponto poderemos estar à beira de semelhante cenário.
Com os feriados que se aproximam é de prever alguma acalmia nos dois dias que se seguem.
Na sexta-feira, no regresso do business as usual, o perigo de haver excessos de parte a parte recrudesce.
E será então o momento ideal para começar a imperar a máxima sense and sensibility.
Pequim não vai dar a Hong Kong o que uma boa parte da população de Hong Kong neste momento exige.
Mas terá que tentar dar algo mais para desbloquear este impasse.
Que não interessa a ninguém.
Em última análise Pequim poderá sempre retirar a proposta agora sobre a mesa e deixar ficar tudo como está em termos políticos (uma forte possibilidade, admita-se).
Com que custos, no presente e no futuro, na governabilidade de Hong Kong?
Ninguém sabe, ninguém poderá seriamente prever.
E volta o apelo às duas partes - sense and sensibility, please.

Comentários

  1. Não posso estar mais de acordo, Pedro.

    Abraço

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    1. Têm que chegar a um entendimento no qual as duas partes não percam face.
      Verdadeiramente win/win situation.
      Tem que ser assim.
      E quanto mais depressa melhor para todos.
      Aquele abraço

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  2. Apesar de não estar muito por dentro da questão, serei sempre adepta do diálogo e do bom senso do que arruadas e ou confrontos que dão sempre mau resultado e que em nada adiantam mesmo que tenham razão.

    Um abração e boas férias

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    1. Espero sinceramente que o bom senso prevaleça, Fatyly.
      As posições estão extremadas, a resiliência dos manifestantes é admirável, mas é preciso encontrar pontos de equilíbrio.
      No interesse de todos.

      Vão ser uns dias de intenso convívio familiar, espero eu.

      Um abração

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  3. É bom saber a opinião de <alguém como o Pedro sobre tão importante tema, especialmente bem informado .

    Boa semana

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    1. Muito do futuro político de Macau está também a ser jogado neste momento em Hong Kong, São.
      Espero bem que haja canais para que o diálogo e o bom senso imperem.

      A semana acabou hoje, São.
      Amanhã é depois são feriados, sexta há tolerância de ponto.
      Only in Macau!! :)))

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    2. É mesmo: ONLY IN MACAU!! :)

      Parabéns pelo 19º aniversário....

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    3. Os primeiros 19, São, os primeiros 19

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  4. Belíssimo este teu post. Bom ler uma artigo escrito por uma pessoa que está verdadeiramente integrada no assunto e tem uma opinião válida sobre um tema tão importante e actual.

    Obrigada pela partilha

    Beijinho da Gota

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    1. Gota,
      As pessoas não desmobilizam, o protesto mantém-se, de forma absolutamente pacífica, mas não há solução à vista.
      E se é verdade que Pequim não quer recuar, os manifestantes também não dão sinais do o virem a fazer.
      Terá que haver cedências de parte a parte.
      Que não tirem face a ninguém mas que permitam desbloquear um impasse insustentável.
      Beijinho

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  5. Sense and sensibility deviam presidir à gestão de qualquer conflito... Mas a história mostra-nos que raras vezes é assim. Espero, pelo bem de Macau e de todos, que a questão de HK se resolva da melhor forma. (Tive sempre muito receio da psicologia das multidões...)
    Um abraçou e bom fim-de-semana prolongaaaaaado!

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    1. Miú Segunda,
      A psicologia das multidões também é algo que me assusta.
      No entanto, e há que o reconhecer, o comportamento dos manifestantes, a forma como tem sido gerido este conflito, tem sido excelente.
      E não têm faltado provocações......
      Um abraço

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  6. Gostei muito de ler a sua análise ao que se está a passar em HK. Tenho seguido através da BBC, CNN e Sky News ( em matéria internacional, as televisões portuguesas são para esquecer...) e abalancei-me a escrever um post sobre o assunto, que publicarei amanhã. Se não fosse o facto de estar de fim de semana prolongado (aliás, prolongadíssimo :-), gostaria imenso de ter o seu comentário

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    1. Mesmo em modo de repouso, vou passar no Rochedo para ler e comentar, Carlos
      Fica a promessa.

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    2. Obrigado pelo seu comentário ao meu post noCR, Pedro. Estou globalmente de acordo com o que escreve. Só não estou tão optimista quanto à possibilidade de cedências da RPC, pelas razões que aponto no post, mas espero sinceramente que a razão esteja do seu lado, caso contrário, pode haver uma tragédia de grande dimensão.
      Abraço e continuação de bom FDS

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  7. Do pouco que conheço do regime chinês, não me parece dado a cedências...

    Beijocas e que corra tudo pelo melhor!

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    1. Teté,
      Pequim não vai dar a Hong Kong (tudo) o que Hong Kong quer.
      Mas tem que dar algo.
      E tem que receber algo em troca.
      Essa é a única forma de ultrapassar este conflito.
      Com o continuar de posições extremadas a situação só terá tendência para se agravar.
      Beijocas

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  8. Quando a cobra tem medo morde.
    Como lidar com as situações de exceção? O poder centralíssimo de Pequim conseguirá conciliar as discrepâncias do regime? Como legitimar "os regimes especiais" e manter o resto do país aprisionado por um sistema anquilosado?
    Surgirá um Gorbachev chinês ou a tentação "patriótica" da reunificação de Taiwan?
    Boa noite, Pedro, e que seja possível a sensatez nos dois lados da barricada.

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    1. O problema foi terem sido criadas altas expectativas na população de Hong Kong, Agostinho.
      Não sei se Pequim o fez deliberamente, ou não.
      Mas a maneira como lidou com todo este processo foi muito canhestra.
      Também eu espero que haja sensatez dos dois lados, Agostinho

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  9. Tenho seguido através dos media esta polémica. Não há maneira compreenderem que a violência trará mais violência... quanto ao sufrágio nem digo nada!
    Lamentável.
    Beijinho, Pedro!

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    1. Só com cedências dos dois lados se poderá resolver esta polémica, ana
      Enquanto as posições se mantiverem extremadas o impasse durará
      Beijinho

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  10. Coisas que não padecem os politicos: senso e sensibilidade, por muito que custe.

    Reparo que a politica deve ser a linguagem mais universal que conheço: igual em todo o mundo salvo as nuances necessárias.

    Beijinhos

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    1. Pérola,
      Contrariando os meus receios, o bom senso imperou e a situação é extremamente calma hoje.
      Esperemos que se chegue agora a uma plataforma de entendimento para poder ultrapassar esta situação.
      Lava a alma ver jovens, em Macau e Hong Kong, protestando pelo que acham correcto, com civismo, com elevação.
      Indo ao ponto de limparem todo o lixo que resultou desses protestos.
      Bonito de ver, uma lição a aprender e a ser seguida.
      Beijinhos

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  11. A sensibilidade é algo que escasseia na política... infelizmente. É esperar que as partes cheguem a alguma espécie de acordo que gere acalmia.
    Abraço

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    1. Como em qualquer processo negocial, tem que haver cedências das duas partes, ganhos também de ambas.
      Com intransigência mútua não haverá avanços, a situação tende a prolongar-se, é mau para todos.
      E há sempre o potencial para maiores problemas.
      Abraço

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  12. O poder e as suas perplexidades, contrários e paradoxos! Uma enorme complicação!

    Bom fim de semana!

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    1. Ontem já houve umas escaramuças novamente, Graça.
      Com manifestantes (pró e contra o processo de sufrágio directo e universal sem restrições) e com a polícia.
      A intransigência, o impasse, continuam.
      Pequim aposta agora no desgaste, no cansaço dos manifestantes.
      Que me parecem muito resolutos na sua postura para se deixarem vencer pelo cansaço.
      Uma situação que não interessa a ninguém, verdadeiramente.
      Bfds (por estas bandas já dura desde quarta - feira)

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  13. Olá, bom tudo, para você Pedro Coimbra
    Neste dia de sábado, doado-nos graciosamente pelo Criador, estou cá, com o sentimento de amizade, respeito e alegria, à saudar-te.
    Viva, o dom da Vida.
    Um abraço.

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    1. Estou a gozar um fim-de-semana (bastante) prolongado, José Maria de Souza Costa.
      Um abraço

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