CLARA PINTO CORREIA - DESPEDIDA



MÃEZINHA QUERIDA, BOA VIAGEM 
Está tão bonita, ela, agora muito tranquila e quase sempre a dormir... e, nas pouquíssimas vezes em que abre os olhos, faz uns sorrisos tão bonitos, mas tão bonitos, tão calmos...
Quando entrou nos cuidados intensivos do hospital Egas Moniz teve mesmo de fazer uma cirurgia grande e ficou a dieta zero imenso tempo, e nesse período era evidente que estava a sofrer. Chamava, em desespero, pela minha avó, que morreu quando eu tinha dez anos. Implorava-nos que a tirássemos dali. Gritava que queria morrer. Uma vez chegou a sussurrar-me "que vergonha, morrer assim". E aqueles imbecis quase nunca lhe davam morfina!
Agora perdeu de vez a consciência, mas está tão tranquila que é bom vê-la partir de mansinho.
Querida, querida Mãe. Os sorrisos de total plenitude e felicidade quando chegava a casa do trabalho e nos encontrava sentadinhas a brincar no chão do quarto, a minha primeira memória de infância.
E todo o brio que investiu nas questões da Saúde Escolar enquanto educava quatro filhas, era a esposa do Prof. e supervisionava a casa. Hei-de homenageá-la como ela merece, mas ainda não tive a concentração que nisso exige.
É bom saber que não estou sozinha nesta despedida. Bem hajam. 

Lido aqui


Comentários


  1. Qualquer despedida custa... mas despedirmo-nos da nossa mãe ou do nosso pai no leito de morte é muito duro. Infelizmente sei do que falo!


    Um beijinho com a saudade no coração

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    1. Afrodite,
      Há algum tempo, tinha aqui publicado um ensaio fotográfico da Clara Pinto Correia que me pareceu de todo inusitado.
      Já lá vão uns dois anos, talvez.
      Neste tempo nem me tinha lembrado dela.
      Até me deparar com este texto.
      Muito bonito, comovente.
      E que tinha que partilhar aqui.

      Beijinho

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  2. A morte não é um "adeus", mas sim um "até logo". Acreditar nisso ajuda a viver melhor.

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    1. Se não estou em erro, a Clara Pinto Correia é agnóstica, FireHead.
      Adeus, ou até logo, perder uma mãe, ainda para mais vendo-a a partir a pouco e pouco, deve ser terrível.

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  3. Caro Amigo Pedro Coimbra!
    Como é cruciante lidar com a perda de um ente querido e difícilimo aceitar a ideia que, nunca, jamais, em tempo algum, o veremos.
    Caloroso abraço! Saudações inconformadas.
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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    1. Ver alguém que nos é querido a sofrer, sabendo-se que vai partir, deve ser horrível.
      Emociona a despedida da filha a uma mãe que obviamente tanto ama.
      Aquele abraço!!

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    1. Acho que todos nos emocionamos ao ler um texto assim, Margoh

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    1. Passei a gostar um bocado mais da Clara Pinto Correia, António.

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  6. Já conhecia e comovo-me sempre que leio.

    Felizmente que a morte do meu irmão foi em minutos (acidente de moto), já estava eu no Brasil. Não o vi mais desde que saí da minha terra e a minha imagem de saudade é dele "vivo" com aqueles olhões azul marinho e um ar de malandro, mas doce, tão doce. Dizia-me sempre: maninha eu quero viver tudo, experimentar tudo porque irei morrer cedo e seria feliz se fosse ao volante de uma moto!

    O meu grande e amigo pai partiu em 10 minutos com um enfarte do miocárdio, tal como sempre desejou...sem sofrimento.

    Esta vivência é dura para quem fica, mas consegui dar a volta e hoje são doces lembranças.

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    1. Fatyly,
      Eu, e a minha mulher, já muitas vezes falámos acerca destas situações.
      E temos a mesma opinião - é preferível partir de repente, sem dor, para nós e para quem nos rodeia, do que estar assim, em sofrimento, a própria pessoa e terceiros, à espera do inevitável.

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  7. São momentos tão difíceis esses, Pedro! Infelizmente também me tocaram a mim...

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    1. Quando li o post, e o publiquei, pensei no Carlos.
      Não imagino o que se sofre numa situação destas.
      Quem vê e quem está em situação terminal.

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  8. Clara. Tenho tido medo de perguntar. Para estes momentos só o silêncio conta. Os três amigos de Jó vendo como ele sofria sentaram-se durante três dias junto a ele em silêncio e penso que foi a sua melhor prova de amizade. Quando o meu irmão morreu e a minha mãe também fiquei muda.

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  9. Clara, Tenho tido medo de perguntar.
    Silêncio é o melhor conselheiro. Os três amigos de Jó vendo como sofria sentaram-se três dias e noites em silêncio junto dele. Foi uma prova de respeito e amizade. Quando a minha mãe e irmão faleceram fiquei muda. Não há muito a dizer.
    Ana Silva Carvalho

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    1. Westfalia (Ana Silva Carvalho),
      Publiquei o texto tal como o recebi.
      Emocionante, uma despedida dolorosa, o sentimento de ver alguém que se ama sofrer antes de partir.
      Não imagino a dor que se sente nestes momentos.

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