Manobrismo nas Farmácias



SERÁ VERDADE O QUE AQUI SE DIZ ?

(Miguel Múrias Mauritti, "O Buracão", Jornal Médico de Família)

Se é verdade, é uma grande mama!!!

Desconhece-se a identidade do "Garganta Funda" que declarou o seguinte em entrevista telefónica:

«- Há uma grande fraude que se está a passar nas farmácias.

- Ai sim? Ora conte lá isso...

- O senhor jornalista lembra-se de quando ia aviar remédios à farmácia e lhe cortavam um bocadinho da embalagem e a colavam na receita, que depois era enviada para o Ministério da Saúde, para reembolso às farmácias?

- Lembro, perfeitamente... Mas isso já não existe, não é verdade?

- É... Agora é tudo com código de barras. E é aí que está o problema... É aí que está a fraude. Deixe-me explicar: como o senhor sabe, há muita gente que não avia toda a receita. Ou porque não tem dinheiro, ou porque não quer tomar um dos medicamentos que o médico lhe prescreveu e não lhe diz para deixar de o receitar. Ora, em algumas farmácias - ao que parece, muitas - o que está a acontecer é que os medicamentos não aviados são na mesma processados como se o doente os tivesse levantado. É só passar o código de barras e já está.
O Estado paga.

- Mas o doente não tem que assinar a receita em como levou os medicamentos?
- Perguntei.

- Tem. Mas assina sempre, quer o levante, quer não. Ou então não tem comparticipação... Teria que ir ao médico pedir nova receita...

- Continue, continue - Convidei

- Esta trafulhice acontece, também, com as substituições. Como também saberá, os medicamentos que os médicos prescrevem são muitas vezes substituídos nas farmácias. Normalmente, com a desculpa de que "não há...
Mas temos aqui um igualzinho, e ainda por cima mais barato". Pois bem: o doente assina a receita em como leva o medicamento prescrito, e sai porta fora com um equivalente, mais baratinho. Ora, como não é suposto substituírem-se medicamentos nas farmácias, pelo menos quando o médico tranca as receitas, o que acontece é que no processamento da venda, simula-se a saída do medicamento prescrito. É só passar o código de barras e já está. E o Estado paga pelo mais caro...
Como o leitor certamente compreenderá, não tomei de imediato a denúncia como boa.
Até porque a coisa me parecia simples de mais.
Diria mesmo, demasiado simples para que ninguém tivesse pensado nela.
Ninguém do Estado, claro está, que no universo da vigarice há sempre gente atenta à mais precária das possibilidades.
Telefonei a alguns farmacêuticos amigos a questionar...

- E isso é possível, assim, de forma tão simples, perguntei.

- É!... Sem funfuns nem gaitinhas. É só passar o código de barras e já está, responderam-me do outro lado da linha.

- E ninguém confere? - Insisti.

- Mas conferir o quê? - Só se forem ter com o doente a confirmar se ele aviou toda a receita e que medicamentos lhe deram. De outro modo, não têm como descobrir a marosca. E ó Miguel, no estado a que as coisas chegaram, com muita malta à rasca por causa das descidas administrativas dos preços dos medicamentos... Não me admiraria nada se viessem a descobrir que a fraude era em grande escala...

E pronto... Aqui fica a denúncia, tal qual ma passaram...

Se for verdade... Acho que é desta que o Carmo e a Trindade caem mesmo!»

Comentários

  1. Sempre olhei com desconfiança este universo que engloba farmácias, indústria farmacêutica e Estado! E este é sem dúvida um grande calcanhar de Aquiles!
    Aquele abraço!

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  2. Luciano,
    Estes negócios, e outros semelhantes, são coisas que fomos ouvindo em surdina ao longo dos anos.
    Aqui temos um testemunho concreto, ainda que anónimo, denunciando estas trafulhices.
    Aquele abraço!!

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  3. Apesar de fazer lógica o que é escrito, não sei se é assim tão simples. Exigiria programas adaptados para isso... a simulação de uma venda iria parar às finanças visto que é para lá que enviamos todas as nossas despesas. E quanto às receitas "trancadas", se o médico não autorizar genéricos as farmácias também não os dão. Dizem-nos para falarmos com o médico a pedir que as autorize...

    Mas já não sei de nada...

    Um beijinho :)

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  4. S.o.l.
    Eu nao posso afirmar peremptoriamente que seja assim.
    Vendo como comprei.
    Um beijinho

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  5. Pedro, volto daqui a uns meses para saber se o Ministério da Saúde disse ou fez algo.

    Aqui para nós que ninguém nos ouve, quando vou a uma farmácia e não preciso de um dos medicamentos prescritos, traço o mesmo.
    Assim vão registar o quê?
    Não diga nada a ninguém, Amigo.
    :):):)

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  6. Fica um segredo só nosso, António :)))
    Um segredo que reforça a possibilidade de ser verídico o que aqui se relata.

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  7. É apenas mais um de muitos motivos que levam o Carmo e a Trindade cair.

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  8. Tem piada, porque a semana passada fui confrontado com a situação. Um dos medicamentos está esgotado, por isso, não podia ser aviado.
    Quando fui assinara receita levantei esse problema e, então, por baixo da assinatura coloquei a informação de que esse medicamento não me tinha sido fornecido.

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  9. Sim, FireHead, apenas mais um.
    Este um daqueles que nos levam a dizer que estamos bem podidos (com um p de pharmacia, obviamente) :)))

    Carlos,
    Se todos adoptarem essa atitude o esquema vai por água baixo.
    Mas julgo que o Carlos é a excepção que confirma a regra.

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  10. Bem... A ver se não me estico muito :p

    Ponto número 1, na área da saúde em concreto na área dos medicamentos, há quem roube e quem não roube o estado, mas isso não é só nas farmácias é em tudo, é tão grave aquilo que é citado como quem vende sapatos não passar facturas e não pagar impostos.

    Ponto nº 2: Sim, o que é descrito é passível de ser feito mas não é assim tão fácil como é descrito... Infelizmente há quem faça, felizmente nem toda a gente faz, chama-se ética.

    Ponto nº 3: Antigamente cortava-se as vinhetas, no entanto também havia trafulhice uma vez que da parte da indústria também havia acordos trafulheiros com algumas farmácias e médicos uma vez que "arranjavam" vinhetas - soube disto por um delegado de informação médica (este crime não é só das farmácias, tem por norma 3 intervenientes uma vez que também havia médicos a passarem receitas fantasmas, nem sempre acontece só com aquele medicamentozinho que a pessoa não quer levar).

    Ponto nº 4: Acerca dos genéricos (a minha opinião pessoal e profissional)

    Entende-se por medicamento genérico "um medicamento com a mesma substância activa, forma farmacêutica e dosagem e com a mesma indicação terapêutica que o medicamento original, de marca, que serviu de referência."

    Se os medicamentos genéricos são todos iguais? Ensinaram-nos que sim, mas na verdade não são todos iguais. Se fazem efeito? Claro que fazem, se não vendiam-se comprimidos de farinha.

    Em relação aos genéricos a minha opinião pessoal é que numa situação de doença crónica, ou seja de medicamento que é tomado por tempo prolongado o utente deve manter o mesmo genérico (há colegas meus que não concordam, mas esta é a minha opinião), em situação temporária por exemplo fazer um antibiótico por 8 dias é igual fazer deste ou daquele laboratório, eu opto sempre pelo mais barato, mesmo para mim, por isso trocarem o laboratório nestas circunstâncias na farmácia não é nada do drama que procuram pintar. E se a pessoa consegue ter o mesmo tratamento com a mesma eficácia a um preço mais barato sinceramente não sei qual é a dúvida.

    Há ainda excepções que reconheço e acerca das quais não me vou alongar, de genéricos que falharam comparados com a marca. Há pessoas que se sentem melhor com marca Y do que X. Teoricamente isto fazia-me confusão, mas quando tenho perante mim um utente que diz "sabe menina, eu não duvido de si quando me diz que os genéricos são todos iguais mas eu não me senti muito bem com este genérico é melhor voltar a fazer o anterior", psicológico ou não, não sou ninguém para colocar em causa o que me diz aquele utente.

    Se há coisa que a minha pouca experiência já me ensinou é que por muita teoria bem composta que haja, por muitos estudos que se façam, por muito bons que sejam os estudos não há duas pessoas iguais, e a pessoa tem o direito de escolher se quer este ou aquele genérico.

    E finalizo como comecei, é de facto possível toda a trafulhice citada nesse texto, felizmente há pessoas com ética e valores em todas as áreas e há as pessoas que não sabem o que é isso. Isto verifica-se em todas as áreas mesmo! Não vale a pena bater sempre no mesmo ceguinho :D E aproveito também para dizer que há ainda burlas bem mais graves nesta área e algumas têm vindo a ser descobertas, o que aconteceu? Os promotores dessas burlas deram à sola e colegas meus ficaram sem ordenados e sem direitos. Não se esqueçam de nós quando colocarem toda a indústria e toda a questão das farmácias no mesmo saco. Eu sou a primeira a reconhecer que é uma área com grande trafulhice, felizmente sempre trabalhei com pessoas providas de valores.

    Se as pessoas tivessem mais sentido cívico em todas as áreas e sempre tivessem pago os seus impostos e não tivessem roubado o estado não andávamos agora com problemas de défice. O problema... O problema é que agora pagamos todos!

    Espero não me ter alongado nem complicado e espero não ser mal interpretada :)

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  11. Tudo explicadinho, Poppy!!
    Não se alongou, não se alongou, muito menos deu azo a dúvidas ou interpretações dúbias.
    Quem não concordar....

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