Greacum est, non legitur



Todos conhecemos, e aplicamos, a expressão "ver-se grego para".
Ensina-se que esta expressão tem origem na romanidade, associando-se tudo o que tinha origem grega a dificuldade de compreensão, ininteligibilidade - "graecum est, non legitur" (é grego, não se entende).
A fazer fé nas últimas notícias conhecidas, também os líderes do Eurogrupo adoptaram este adágio.
E adoptaram-no levando-o às últimas consequências - uma vitória da esquerda radical nas eleições legislativas no próximo domingo significará a saída dos helénicos da moeda única.
Se o Syriza, de Alexis Tsipras, sair vencedor nas urnas, como de resto se antevê, o Eurogrupo interpretará este gesto como uma renúncia às regras de funcionamento do conjunto de países que integram a moeda única europeia e deixará os gregos fora do euro.
Como se tal não bastasse, será restabelecido o controlo fronteiriço na Grécia,  que não tem espaço contíguo com o resto da União Europeia; serão estabelecidas restrições aos levantamentos de dinheiro nas caixas automáticas; implementados controlos aos fluxos de capitais para evitar a saída de capitais do país; tudo no intuito de enviar um sinal político claro ao povo grego - primeiro saem do universo da moeda única; se não ganharem juízo, são postos fora da própria União Europeia e deixados entregues ao vosso próprio destino.
Este procedimento do Eurogrupo, esta descarada chantagem, representa um endurecimento  brutal das posições da União Europeia face ao total desnorte, político e económico, em que a Grécia se encontra mergulhada.
Continuando a ser um europeísta convicto, é com muita  preocupação que vejo a União Europeia regressar à romanidade e negar os princípios de solidariedade, entreajuda e auxílio mútuo que estiveram na sua génese. 
"Graecum est, non legitur".
Hoje a Grécia, amanhã quem?

Comentários

  1. Estimado Amigo Pedro Coimbra,
    Tem toda a razão, mas sei se o povo gregop foi ouvido para aderir à União Europeia e à modeda única.
    Portugal, nas pessoas de Mário Soares, sem escultar a opinião pública fez adqeriir Portugal à União Europeia, bem como Cavaco Silva ao Euro, era o tempo das vacas gordas e como tal vá que gastar, roubar, desbaratar que está tudo bem, e hoje é o que vimos e a situaç~!ao que nos encontramos.
    Pergunta, quem será o próximo, na minha hulmide parca visão de economista penso que será toda a Europa e voltamos ao antigamente, para ser mais péssimista e com a económia americana igualmente em queda, e as forças militares a serem reforçadas na zona da Ásia Pacífico, talvez dei origem a uma terceira guerra mundial, oxalá que nunca aconteça.
    Abraço amigo

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  2. Amigo Cambeta,
    Não acredito.
    Nem na desagregação da União Europeia, nem em guerras à escala global.
    Aliás, a União Europeia surge exactamente nesse quadro, e como um garante, de pacificação.

    O que me custa é perceber que os ideais que estiveram na génese da União Europeia se vão perdendo pelo caminho.

    Aquele abraço

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  3. Caro Pedro Coimbra
    É uma chantagem miserável. Quere-se impedir que seja o povo a escolher os seus representantes. Já não bastava nas mais altas esferas da Europa, mandar quem não foi eleito, como agora quererem mandar no direito sagrado de um eleitor votar em quem quer.
    Abraço.
    Rodrigo

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  4. Rodrigo,
    Francamente, não estava à espera disto.
    Líderes não eleitos, sem carisma, sem capacidade de mobilização, a fazerem este ultimato?
    Sem dúvida, a Europa está doente, muito doente.
    E, como comentava a Teresa de Sousa na Antena 1, já se percebeu que o caminho seguido até aqui não conduz à cura.
    Aquele abraço

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  5. Pedro,

    solidaria...quê?

    Caro amigo, pago para ver se a UE "expulsa" a Grécia do seu seio, pago para ver mesmo!!!

    O dia virá em que a verdade sobre esta e outras matérias voltarão à tona, tal qual o azeite e ai, meu caro, muita gente se irá, perdoe-me a expressão, borrar de medo. Vai ser cá um cheirete!!!

    Aquele abraço, Pedro!

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  6. Curiosamente, a Grécia é tema de um dos meus 'posts' de hoje.

    Os gregos estão, sem dúvida, na ordem do dia, da semana, do mês ...
    whatever!

    E eis-me de regresso à possibilidade de entrar nos blogues onde me sinto bem.

    Afinal, era uma questão de browser.

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  7. Embora já o tenha previsto há quase 20 anos nas páginas da Tribuna ( fui por isso acusado de lunático...) este descalabro europeu deixa-me com um amargo de boca, porque vai ainda mais além do que então imaginei. Apesar de a ingerência alemã e do BCE nos destinos de dos países mais frágeis, não ser para mim surpresas, nunca me passou pela cabeça que os lideres europeus- unidos na indiferença, incompetência e egoísmo- nada fizessem para salvar a Europa.
    A Lagarde e o Roubini dão três meses ao Euro. Pelas notícias que acabo de ler sobre Itália, parece-me que estão a ser demasiado benevolentes. Assusta-me o que virá a seguir...

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  8. Triste! Mas é esta a realidade!

    Beijinho Pedro e uma flor

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  9. Concordo plenamente com aquilo que Carlos Barbosa de Oliveira afirma acima.
    Uns lunáticos vão destruindo e amordaçando um projecto de uma Europa unida e assente num ideal de justiça, paz e igualdade.
    Será a Grécia, Portugal...e a seguir logo se verá...

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  10. Ricardo,
    Também eu acredito que se trate de um bluff.
    Mas, mesmo assim, é grave, muito grave.
    Interferir nas eleições internas de um país?
    Por mais que eu me situe nos antípodas do que representa a esquerda radical grega, é intolerável.

    Fico à espera do dia em que haja esse esclarecimento, esse desanuviamento de que fala, Ricardo.
    Porque não consigo imaginar a arquitectura política mundial sem uma União Europeia forte.
    Aquele abraço


    António,
    Vou visitar hoje.
    Mas olhe que os computadores (Blogger) andam um bocado malucos outra vez.
    Vai ver que também se estão a ver gregos :))


    Carlos,
    Mas eu (ainda) não acredito numa desagregação europeia, numa implosão do euro.
    Como comentei com o Ricardo, não imagino o Mundo sem uma União Europeia forte.
    Para que isso aconteça, precisamos de uma mudança de mentalidades.
    E, para que essa aconteça, precisamos de uma mudança de líderes.
    Estes já deram provas de total incapacidade e incompetência.
    Depois disso, já com nova liderança, as instituições, e o seu funcionamento, terão também que ser repensadas.
    Carlos - quero acreditar que, desta crise brutal, poderá sair uma União Europeia ainda mais forte.
    Interessa aos europeus, aos americanos, aos asiáticos.

    Adélia,
    Mas é uma realidade que pode (tem que!!) ser mudada, não é?
    Beijinho


    Luís Coelho,
    Não acredito que este ralhete, esta ameaça, passe de um bluff, repito.
    Mas que há muita coisa a repensar, e a mudar, para que a Europa volte a ser um espaço de "justiça, paz e igualdade", lá isso há.

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  11. Quem me conhece sabe que eu sou declaradamente anti-esquerda, mas sinceramente gostava mesmo que o Syriza saísse vencedor e afundasse ainda mais a Grécia. Pode ser que isso tenha o condão de abalar a União Europeia e proporcionar um efeito dominó. Se a União Europeia acabar é que era...

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  12. Se a União Europeia acaba o que é que prevê, FireHead?
    Para Portugal, para a Europa, para o resto do mundo.
    Um regresso ao orgulhosamente sós?

    A União Europeia tem que ser profundamente repensada.
    Extinta?
    Ia ser bonito!!

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  13. Falta aí uma constatação:
    "bater numa velha comunista como um grego" :)

    Ahahahahahah, perdoem a minha maldade mas eu ri-me tanto a ver aquele episódio! Já estamos habituados a ver porrada em parlamentos mas aquela foi nova!

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  14. Não sei a que episódio se está a referir, Catarina.
    Diga lá o que foi para eu depois tentar procurar

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  15. Poderá ver a notícia aqui :p

    Lamento muito assumir que me ri com esse episódio, é a minha reacção quando vejo políticos à pancada, é mais forte do que eu! Não passe a pensar mal de mim Pedro que eu sou boa mocinha :p

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  16. Aqui: http://www.youtube.com/watch?v=FuaQZrRxnPg

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  17. Os gregos, claro!
    Parvo que eu sou.
    Já nem me lembrava :)))

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