Vou só ali ao Brasil matar alguém e volto já


(Por João Miguel Tavares)

Deixem-me cá ver se eu percebo. Todos os juristas escutados a propósito do caso Duarte Lima afirmaram que mesmo que o ex-deputado venha a ser condenado à revelia pelo assassinato de Rosalina Ribeiro dificilmente será extraditado para o Brasil – porque não se extraditam cidadãos nacionais – e dificilmente será preso em Portugal – devido a falhas de legislação na transmissão de sentenças entre os dois países.
Seguindo este extraordinário raciocínio, se o caro leitor estiver indisposto com alguém, tiver um vizinho irritante ou se a sua esposa deixar demasiadas vezes queimar o arroz ao jantar, tem agora uma forma simples de solucionar o seu problema. Basta-lhe comprar duas viagens para o Brasil, afogar o motivo de incómodo numa cachoeira ou baleá-lo à beira da estrada, e raspar-se de lá o quanto antes. Nem sequer precisa de se dar ao trabalho de cometer o crime perfeito: apenas assegurar que foge a tempo para Portugal. A partir daí, tem de ter cuidado nas visitas a Badajoz, por causa da Interpol, mas pode gozar um justo repouso aqui na piolheira.
Seja Duarte Lima culpado ou não, qualquer pessoa que tenha acompanhado a investigação sabe que o caso fede – e não é pouco. As provas são fortíssimas, as contradições assustadoras, e é óbvio que Duarte Lima tem de responder à justiça. E no entanto, acontece esta coisa espantosa: a única entidade que parece minimamente empenhada em deslindar o alegado assassinato de uma cidadã portuguesa por um cidadão português é a polícia brasileira. Portugal, esse, limita-se ao seu papel de offshore da justiça: quem tem dinheiro consegue sempre escapar.

Comentários

  1. Coimbramigo

    Gosto do que este tipo escreve. Foi uma boa escolha a a que fizeste. Felicito-te por isso.

    Abç

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  2. FerreirAmigo,
    Acho que só o Miguel Sousa Tavares não gosta do que o João Miguel Tavares ("esse rapazito que tem o mesmo apelido que eu") escreve.
    Aquele abraço

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  3. Um caso tristíssimo de como a justiça anda pla estrada da amargura!

    Até provas em contrário é inocente. Se por acaso Duarte Lima for culpado, deixo de acreditar na parte boa das pessoas. Nunca simpatizei com ele mas ter vencido a morte e ajudado outros neste campo e o seu desempenho na música fizeram-me simpatizar um pousco com ele.:(

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  4. ana,
    Ele tornou-se num símbolo de coragem, de combate à doença.
    Mais uma razão para as pessoas se sentiram traídas por ele.
    Bjs

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