A nossa refeição familiar do primeiro dia do Ano Novo Lunar

No primeiro dia do Ano Novo Lunar, as famílias juntam-se à volta da mesa e de uma refeição vegetariana.
A refeição vegetariana deriva da tradição budista e é um contrapeso aos excessos cometidos ao longo do ano.
Que culminam com uma refeição faustosa no último dia do ano.
Na nossa família, a tradição do jantar no último dia do ano não é seguida.
Já a refeição vegetariana (ou quase...) no primeiro dia do ano é cumprida religiosamente.
Normalmente ao almoço.
Este ano, pela primeira vez, ao jantar.
Não tirei fotografias dos pratos típicos e, em consequência, recorri à ajuda das minhas filhas para roubar as imagens da Net e para romanizar os respectivos nomes.
Imprescindível neste dia, e base da refeição, o   zai (齋 ).

 Vegetais cozidos, que acompanham com arroz branco e que, para ficarem mais soborosos, comemos barrados com o que normalmente se chama queijo chinês (fu yu).


Para não cumprir a tradição à risca, é indispensável a presença do saboroso chouriço chinês  (臘腸   lap chaeng) que o meu sogro compra numa lojinha ao pé do Mercado Vermelho e que é uma delícia.


E não pode faltar a tradicional bebinca de nabo (蘿蔔糕  lo bak gou), que, para ficar mesmo saborosa, é acompanhada com um picante tremendo(辣椒醬  lat tsio cheong).



Há também os típicos pratos doces.
 Mas que não são sobremesas.
 É o caso do tradicional lin gou (年糕 ), um bolo chinês típico desta época. 



E o ma dao gou  (馬豆糕), este com base de coco.



No final da refeição é tempo de distribuir os lai see, ou lai si (紅包), às crianças.
E que os meus sogros também sempre dão às filhas e aos genros.
Símbolo de sorte e fortuna, nunca devem ser abertos em frente à pessoa que os deu.

Depois é tempo de conversar e, para quem gosta, de jogar.
Conversa e jogos que são acompanhados com  gua zi (瓜子), sementes Egusi, e iau gok (油角), estes  com aspecto semelhante a um ‘dumpling' frito, feitos com farinha, açucar, amendoins, côco e sésamo branco.
E que os meus sogros sabem que eu adoro.




Confesso que, nos dois primeiros anos, foi um bocado complicado habituar-me a esta tradição.
Agora sou um fã incondicional.
Estou a imaginar a cara dos meus familiares e amigos em Portugal que estiveram a ler este post.
 E que devem estar agora a pensar que já não me conhecem.
" Aquele gajo come estas coisas?"
Acreditem no que vos digo - é mesmo muito bom.
Fico à vossa espera para, logo que queiram,  virem experimentar.



Em tempo de festas, aproveito a oportunidade para saudar os novos seguidores do blogue.
Entrem, ponham-se à vontade, e, como cantava o Zeca, "Traz outro amigo também".

KUNG HEI FAT CHÓI!!!

Comentários

  1. Esses pratos e ingredientes são-me familiares. Todos aqui em casa apreciam a cozinha chinesa e a japonesa – principalmene sushi. Desconhecia, todavia, que é tradição neste dia consumir refeições vegetarianas.

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  2. Catarina,
    As refeições vegetarianas são símbolo de saúde e longa vida (tradição budista).
    Mas, também, uma forma de "limpar" o organismo dos excessos da noite anterior.
    A refeição do último dia do ano deve ser fautosa, farta.
    Nós não seguimos essa tradição.

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  3. Caro Pedro Coimbra
    Uma excelente explicação. Uma boa partilha em termos de conhecimento. Tambem sou apreciador da comida Chinesa e cantonesa.
    Só fiquei com uma duvida. E no que toca a bebidas?
    Abraço

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  4. Caro Rodrigo,
    Não há regras no que diz respeito a bebidas.
    Os meus cunhados, e o meu sogro, acompanham a refeição com vinho.
    Eu, que sou abstémio, bebo água.
    Mas pode-se beber sumo, um qualquer refrigerante.
    Esta, é bom de acentuar, é a NOSSA refeição.
    Se fosse para seguir as regras à risca, não se podia comer o chouriço.
    E não tinha piada nenhuma.
    Um abraço

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  5. Gostei da postagem, eu vivendo em Macau já quase à meio século, nunca me preocupei com as regras da casa, a minha esposa não é budista, nem segue à risca os cosntimes chineses, embora seja chinesa.
    Comida vegetariana no primeiro dia do ano, essa não sabia, nem aqui na Tailândia segue esse hábito.
    Eu passei o ano no Cambodja, e comi de tudo o que havia para comer rsrsrsr.
    KUNG HEI FAT CHOI LOU MÁ CHIN SAN

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  6. Pedro, assim não vale. Uma pessoa fica cheia de saudades e tem um ataque de coração.
    Kung Hei Fat Choi

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  7. Cambeta,
    Os primeiros dois anos fiz figura de urso.
    A família a comer estas iguarias e eu a comer omeletes.
    Depois achei que era uma parvoíce e um desrespeito.
    E passei a gostar.
    Não seguimos a tradição cem por cento.
    E assim ainda fica mais saboroso.

    João,
    Estas iguarias são como a água do Lilau.
    Nunca mais se esquecem.
    Ainda para mais, cozinhadas pela minha sogra.
    Comidinha caseira do melhor que há.
    E as receitas típicas macenses que ele faz, influência da família do meu sogro, são de ir ao Céu!!
    Um abraço grande a ambos.
    Que o Coelho vos traga Saúde, Sucesso e Paz

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  8. Kung Hei Fat Choi, Pedro! Que saudades me fez sentir...

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  9. Pedro,
    Sei que a gastronomia vegetariana está muito ligada à tradição budista e faz sentido, agora que me explicou, preparar pratos vegetarianos no dia seguinte ao da passagem do ano. Já experimentou comida tibetana? Aqui temos vários restaurantes (como pode imaginar há restaurantes representantes de todas as gastronomias que possa imaginar) tibetanos onde uma vez por outra vou. É sempre agradável variar. Bom fim de semana.

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  10. Aproveito para informar a Estimada Amiga Catarina, que de facto a comida vegetariana está ligada ao budismo, mas é um paradoxo enorme, visto que os monjes (bonzos), só comem o que lhe dão, e como tal, não é comida vegetariana.
    Eu, quando estive num mosteiro, como bonzo aprendiz, tinha que comer o que me desse, e de vegetais esses quase não vi.
    Todos os anos, existem um mês em que é dedicado à comida vgetariana, refiro-me aqui na Tailandia.
    Um abraço amigo
    Ao Estimado Amigo Pedro, faz bem em seguir a tradição, eu de todas essas iguarias só aprecio, o Lá Pá Kou.
    Comida macaense não gosto.
    Continuação de um bom ano.

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  11. Está tudo explicado por alguém bem mais versado do que eu Catarina.
    A influência do budismo, neste particular, reflecte-se no simbolismo de se "limpar" o organismo com a refeição vegetariana.
    A qual, na verdade, para além do simbolismo do acto, realmente tem esse efeito.
    Mas, como vos expliquei, nós fazemos "batota".
    Aquele chouriço não devia entrar.
    Mas é delicioso.
    Este ano, por acaso, não houve presunto chinês.
    Que é muito salgado, muito menos curado que o que estamos habituados a comer em Portugal, por exemplo, mas que é uma iguaria que eu adoro.
    Francamente, com estas batotas, a tradição ainda tem mais piada :))

    Carlos,
    "Bora" lá matar saudades!
    De Portugal a macau é um saltinho de vinte, vinte e tal horas.
    O que é isso para vir matar saudades?
    Umm abraço forte a todos

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